segunda-feira, 4 de março de 2013

Estreia viajando na garupa

Ela tinha vacilado quando percebeu que a moto tinha aumentado de tamanho da segunda para a terceira temporada de amizade colorida. Mas missão dada é missão cumprida: foi para o centro de São Paulo, voltou de Pinheiros... Como diria a colega: "não é uma frágil geminiana, é uma guerreira sagitariana"! Só não tinha viajado ainda segurando na cintura dele. No meio da combinação para irem e voltarem de Águas de Lindoia  lembrou de ter ouvido que a motoca não estava lá muito boa para estrada. Mas supôs que tinha passado por revisão e topou. Para não perder a fama de distraída de carteirinha, nem notou que a moto tinha sido trocada. E desta vez não teve o receio anterior, mas de tanto ouvir recomendações e cagaços alheios, recitou mantra boa parte do caminho.
A velocidade com o sol produzem uma combinação que "amodora": calor com vento. Se precaveu depois de perder uma voz que não voltou e ressuscitou do fundo do guarda roupa um cachecol que no fim das contas deve enfeitar mais do que proteger. Gastou vinte minutos escolhendo roupa (só perdoar o pai explica essas feminices "nunca antes na história desse país"). Conheceu os famosos amigos de longa data.
Estava "aguadada" por um passeio de cavalo, mas não foi dessa vez. Almoçaram, reviram a família da mulher do amigo dele e quando o movimento do rápido retorno falou mais alto, achou que só ela queria deitar e praticou o nobre silêncio para não denunciar que estava desvirginando como garupa em sua primeira viagem sob duas rodas.
Fizeram umas pausas de alongamento rápido e se largaram pouco tempo na praça de... Itatiba? As cidades interioranas próximas de São Paulo são tão parecidas! Ocorreu dividir um monte de coisas na ida e na volta, mas alguma coisa lhe disse que perder parte da voz tinha mais a ver com teimar em falar com o barulho do que com a ventania (embora essa última seja uma paixão bandida - já teve muita pneumonia saindo quente de ensaio e refrescando com o vento).
Fez todas as manobras possíveis e imagináveis para não baterem os capacetes, mas achou que assim como na aula de djembei ainda precisa chegar à fase do calo musical para não deixar a mão roxa, também não se encontrou na postura ideal para não se trombarem e nem ter dor no pescoço indo ou voltando. Fez ásanas de yoga umas vezes para alongar sentada. Só no retorno entendeu as histórias de quem dormia abraçado ao motociclista. Quando tentaram fazer o último "pit stop" implorou:
- Um café por piedade!
Acordou com ele para evitar cair da motoca. Cantou em parte do percurso. Teve saudades de amigos e familiares com as placas de Valinhos, Americana... Terminou de rezar em outro trecho. E depois de horas e mais horas namorando paisagens, "predinhos" coloridos, igrejas antigas, fazendas grandes e reconhecendo o prédio do primeiro emprego antes de sair de São Paulo, concluiu que do carro temos uma visão cheia de sonecas, a pé percebemos coisas que antes passaram batido e de motoca descobrimos uma nova forma de olhar. A cidade, as pessoas e até a apaixonante ventania. Mas se prometeu mais alongamento, hidratante e manteiga de cacau da próxima vez. Os grandes grupos de motoqueiro pelo caminho estimulam a continuar pegando estrada. E o quanto estavam encapotados criava novas formas de cafuné. O sono pós viagem em duas rodas é um dos melhores, concorrendo com os de depois da endoscopia, RPG, sexo e rally a pé. Caramba, tem quem vá para o Rio de motoca! Será preciso alongamento, yoga e pilates diários quanto tempo antes?

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