domingo, 22 de setembro de 2013

Que dedo é esse?

Nego que dedo é esse?
cujas pontas mudam a orientação dos pelos?
Nego que dedo é esse?
que passa pela sua foto e não se reconhece?
Nego que dedo é esse?
que pipoca estrelas do céu pra dentro de casa?
Nego que dedo é esse?
que assenta doideira do computador
Nego que dedo é esse?
que pipoca fogos de artifício pra ti
do meu lado
mas quase sem barulho?
Nego que dedo é esse?
que abre espaço pra novas cores
cheiros e sabores
mudarem tua opinião
fervilhando no seu céu da boca?
Nego que dedo é esse?
que mapeia meus poros
pra eu inventar uma nova língua?
Nego que dedo foi esse?
que minha memória corporal embotou
mas nosso lastro logo relembrou?
Nego que dedo foi esse?
que pôs as borboletas do meu estômago
em cambalhota efusiva?
Ih nego que dedo certeiro...

É só um toró

É só um toró
desses que acordam nosso limbo emocional
põem os pelos pra sambar
e o juízo fora de lugar
É só um toró
desses que vêem detalhes quase imperceptíveis
resgata vontade paleozoicas
e estranha choro fora de lugar
É só um toró
que lê as entrelinhas
desabafa chateações irreversíveis
e pimenta as prosas
É só um toró
que traz à tona
emoções velhas de guerra
e rejuvenesce o sentimento
É só um toró
dá um abraço meio aconchego
e meio arapuca
É só um toró
que escamba favores
confessa inexperiência centenária
e perdõa o desencaixe da imaturidade
É só um toró
que divide grilos
labuta um pedaço do coração já sitiado
mas já alerta que a estação das águas é temporária
É só um toró
que cai bem aos ouvidos
mas acende o botão interno de alerta
que quer ser mais parceiro
numa indisponibilidade explícita
É só um toró
debaixo do qual te enxerguei menino
como o que amei na pré infância dos meus amores
num ninho que ainda não tinha dores

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Nada Aconteceu

Nada aconteceu
Não me agarrou
como se o mundo
fosse acabar
antes de relembrar
como faiscávamos
Nada aconteceu
Não me apertou
contra a parede
como se não houvesse
mais tempo
para nos bebermos
Nada aconteceu
Não tirou minha saia
e me amarrou
para provocar meu riso
Nada aconteceu
Não me entregou
um discurso
com atitudes
diametralmente opostas
que desnortearam
o rumo dos sentimentos
Nada aconteceu
Não me ensinou para um teste,
me pôs na garupa,
envolvemos amigos,
lavou louça
e levou para entrevista.
Nada aconteceu.
não passeamos com o cachorro,.
dormimos abraçados no ônibus.
trocamos massagem
e me deu dica
com sua bike.
Nada aconteceu.
não engoliu
até as vírgulas
do meu blog
perguntou do livro
com sua crônica
adivinhou os ingredientes
da comida
e se rendeu a ela
Nada aconteceu
não contou das viagens,
não ouviu do teatro,
não falou das aventuras
não ouvimos dos sobrinhos
Nada aconteceu
não me pegou no colo
testou meu alongamento
disse que gostava de mim
quando estávamos rendidos
e me aninhou para dormirmos
encaixados
Nada aconteceu
não me quebrou na emenda
falando do rosto, da inteligência,
da minha caverna escura
e da batata da perna
Nada aconteceu
tuas palmas não se fartaram
nas minhas coxas,
nádegas e seios.
Nada aconteceu
tua barba não roçou
o pescoço
não me fez chorar
de alegria entregue
não lembrou dos primeiros beijos,
frase, cenário, figurino
Nada aconteceu
não alertou da falta de tempo
e dinheiro
me aconselhou
a pedir que partisse
para abrir espaço
e encontrar o pai
do meu filho,
Nada aconteceu
não se ajoelhou
para se declarar
à sua maneira
quando quis desacelerar
nossas interações
e um filme alertava
que a falta
de atenção mútua
levava à traição
Nada aconteceu
não começou tudo de novo
quando estava de partida
não deixou a corrente
como âncora emocional
de propósito
alegou falta de tempo
mas passou horas
no telefone comigo

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Índigo

Gosto das roupas do avesso
de dormir com a cabeça
no rodapé da cama
Gosto de sentar no banco
que me mostra a paisagem
escapando pelas minhas
costas e olhos
Gosto de rock
no casamento
de misturar estilos
Gosto de pessoas
alternativas e desprendidas
que não se encaixam
Tiro sarro
da grosseria de quem amo
Gosto de reminiscências
de livro antigo
de bazar beneficente
de brechó escondido
Gosto da blusa
que me aponta
como ovelha negra
Mas sou mesmo
é a ovelha vermelha
Gosto de músicas
de outro continente
de dançar
como os índios
os africanos
Gosto de por a plateia
dentro da peça
de história em quadrinhos
de grafite em cima
de construções históricas
Gosto de quem batalha
pra viver do que ama
de quem não suporta
bater cartão
trabalhar religiosamente
até as seis
de quem educa
sem bater
da lambida do cachorro
nos pés
Gosto dele sujo
por ter deitado e rolado
na grama
Gosto de pés na água
de um rio sem nome
Gosto de subir
o morro sem pressa
da entidade me contando
o que não percebi de mim
Gosto de misturar espiritualidades
de perder a hora
dar mais importância à visita
que a TV por assinatura
recém comprada
Gosto de perder o juízo
confiar no divino
perdoar o que não é
de bom tom
Gosto da bruxa
da história encantada
de inventar contos
de cantar descompromissadamente
Gosto mesmo
é da pá virada
de subverter regra
do alternativo
do lado B

domingo, 1 de setembro de 2013

Faxina emocional

Hoje esvaziei tantas prateleiras
abri espaço para parir criações
Rearranjei gavetas, tirei o pó
para que os projetos encroados
venham ao mundo
e aliviem essa febre
de leite empedrado
Esses filhos sim
a gente quer mais
que ganhem o mundo
Joguei comprovantes de contas
nunca conferidos
quem os armazenou
planejava ter o filho
que fez com a outra
antes de terminarmos?
Coloquei as perguntas
sem resposta no lixo
Limpei lembranças
indesejadas do cachorro
a saudade é tanta
que não me aborreci
dele batizar apostilas
Dividi virginianamente
meus livros
Mandei reminiscências
profissionais e amorosas
para reciclar
que elas se transformem
em papel ecológico
para uma nova poesia