sábado, 23 de fevereiro de 2013

Entrevistadora e contadora de histórias quase compulsiva

2013 mal deu seus primeiros passos e nós, fofoqueiros profissionais, já tivemos datas para "bebemorar" duas vezes. Sinal de que meu pai não está de todo errado quando diz que "os médicos pensam que são Deus, mas os jornalistas têm certeza". Verdade que depende de onde se trabalha, não cabe o ego e os profissionais de comunicação juntos na mesma redação. E que andei meio brochada querendo pular do barco enchendo d´água de boia salva vidas em direção à terra firme: é que meu porto seguro, o teatro, era uma miragem, então acabei voltando a nado e pedindo para subir na canoa furada, com esta cara que só Buda sabe como não nasce cupim, de tão peroba, quer dizer, cara de pau!
Dizem que os loucos se atraem: ontem comecei a conversar com uma menina por conta do sapato dela (sonho acordada com o dia em que encontrarei um que não deixe meu pé em estado lastimável) e adivinhe? Ela faz jornalismo. Nem precisei dizer que a coisa está complicada para os coleguinhas da área, ela mesma comentou isso. De qualquer maneira sou meio contra brochar quem está começando: vai saber, a comunicação é um perrengue para alguns de nós, para o foca em questão pode ser diferente. Falei o de sempre, que comento para os que torcem a favor e contra, ainda que sem querer:
- Você sempre terá as melhores histórias de mesa de boteco, em compensação, raramente terá grana.
Onde mais um colega da área lembrará do chefe que em pleno fechamento recorda de uma cobertura no Chile em que bebeu tanto e o álcool deu um sono tão abençoado que nem sentiu o terremoto, só acordou com o chefe ligando no hotel e o quarto quebrado e virado do avesso:
- Como você está depois desta tremedeira toda?
- Ainda estou apurando os detalhes!
Aqui fui atriz fingindo que fazer adubo com estrume não agredia o nariz
Só no picadeiro da informação, pois como disse este finado blog, lugar de palhaço é no jornalismo. Há quem cisme que minhas profissões não são compatíveis: o que teatro tem a ver com jornalismo? Mas já aprendi a atuar em entrevista: nadava com uma menina que perguntou:
- Minha amiga faz programa para pagar a faculdade. O que você acha?
- Não tenho o que achar, cada um dá seus pulos como pode. Ainda bem que meu pai paga metade da minha.
Pouco tempo depois, quando fizemos a revista Pária, com entrevistas de moradores de rua, índios e... garotas de programa, fui pedir reportagem para ela:
- Elas não fazem nada de graça.
- Não posso pagar o quanto ganham com cliente, no máximo R$ 20 (há uma década e meia atrás, devia ser um valor razoável? Ou realmente faço valer minha fama de zero à esquerda com contas?).
- Fechado. Sou eu mesma. - e aqui começa minha prática de fazer cara de paisagem a cada revelação surpreendente, mas esta capacidade chegou ao seu ápice com a lembrança dela de uma saia justa no motel Faraós - Uma vez um cara queria sair com uma loira e outra morena, mas quando chegou lá começou a xingar minha amiga, que sacou um "tresoitão" e desceu bala nele. A polícia chegou e tratou como legítima defesa, estava em dúvida se era isso mesmo, mas claro que fiquei na minha. - eu ainda não sabia, mas já era atriz e fiz cara de "Vento no Litoral".
Nem só de choques e saídas cômicas se faz um repórter. Quando estava terminando a faculdade e já trabalhava no iG, entrevistei para a Metodista a Esmeralda Ortiz, que não tem este nome à toa: é uma preciosidade mesmo sobreviver à infância na Praça da Sé, com tantos amigos presos ou mortos, depois de violência sexual em casa e na rua, publicar o livro Por que Não Dancei e trabalhar com o Gilberto Dimenstein. O texto e áudio produzidos para a faculdade foram aproveitados no portal depois. E como diz meu amigo multicor, quando a gente se emociona trabalhando, caramba, como valeu a pena a escolha!
Tem as lembranças intangíveis. Como fazer as pazes com a própria voz na Eldorado AM, depois de ouvir colega com voz fina, que parecia ter mão de obra infantil na rádio. Falava dos aeroportos seis e quinze da madrugada, pensava que a humanidade ainda dormia, mas no atendimento ao ouvinte, um deles reconheceu:
- Você fala dos aeroportos cedinho!
Inevitável: como conversamos com Deus e o mundo, em reportagem ou divulgando, ou os coleguinhas se lembram do meu nome, da minha voz, do meu cabelo cobre ou da risada (indiscreta como convém a uma sagitariana com ascendente em leão).
Às vezes a recordação nem é de por a mão na massa: no Canal Rural lembro de todos nós em volta da TV acompanhando o Grito dos Excluídos, caminhada com movimentos sociais até Brasília para reivindicar seus direitos - e aqui, confirmei minhas raízes de filha de sindicalista: "putz! É do lado deles que estou!"
Fora as lembranças tragicômicas, como a chefe que dizia "não quer que fique nervosa, me arrume namorado" e quando a encontrei na fila do cinema atravessei a rua. Na redação quando ela dava piti eu olhava e dizia:
- Ainda nervosa? Vou dar uma voltinha. - mas lá pro décimo segundo grito fui para o RH e joguei a toalha.
Fora a administração de ego: na Kiss FM passei reto por alguma dupla sertaneja que estava com todas as recepcionistas e faxineiras gravitando em volta e depois brincaram que eles não se conformaram da estagiária não reconhecê-los, mas eu tirava sarro:
- Faço questão de esquecer quem canta "uma deusa, uma louca, uma feiticeira".
Em tempo: a Kiss é do mesmo grupo da sertaneja Tupi. Mas vá lá, sou grata por ter ganho ingresso para o show do Djavan, pois a Alpha também era do mesmo proprietário, um chefe virtual que só dava o ar da graça remotamente.
Os jabás são outro capítulo à parte: neguinho tem que se conscientizar que a puxação de saco é para o veículo e não para ele! Tudo bem que às vezes a coisa fica meio nebulosa mesmo: fiz matéria para o programa Próxima Parada em Monte Verde (a Campos de Jordão mais alternativa) e quando voltei em lua de mel, fui conversar com a dona de um restaurante, que não deixou pagar a conta e o atual adorável estranho conhecido ficou sem graça pra caramba. É, talvez contabilizando o que já ganhei em produto, viagem, almoço e festa eu realmente tenha feito uma grana fictícia considerável.
O Osho tem razão: o que imaginamos é sempre melhor do que quando acontece - assim que comecei a estudar minha tia disse que estava fazendo uma novena para eu nunca cobrir guerra, mandei suspender, pois era meu sonho fazer esta cobertura, mas quando ajudei o Alexandre Hisayasu na apuração da máfia de funerárias para o Diário do Grande ABC ou quando fazia aquelas rondas ligando para tudo que é polícia atrás de uma tragédia considerável para cobrir, já ficava mal, se fosse para o front ia chorar na cabeça de criança baleada, não daria muito certo. E assim a léguas de distância do rumo que a vida foi tomando, confirmo que Deus não escreve certo por linhas tortas, é disléxico mesmo - mas dizem que eles são inteligentes pra caraca né!
Quando a gente compra a causa por conta da matéria também não esquece! No ano passado, quando fiz entrevista com o pessoal da Escola Mandala, em Viamão, onde a comuna do Lama Padma Santem põe as crianças para meditar e praticar cultura de paz - neste caso já amava o projeto antes da reportagem. Uma fiz escrevi sobre os Amigos da Escola para a revista Filantropia, fui contar histórias na municipal Campos Sales aqui do lado de casa e descobri outra paixão bandida da qual não consigo mais fugir: "contação" de histórias. Ontem por conta dela fiz o tal link que os desavisados não enxergam na profissão: a introdução às danças da bailarina Paula Lena no Centro de Estudos Universal era em tom quase noticioso, as poesias que vinham na sequência, meio atriz e meio contadora. Disse à bailarina que adoro ouvir todo mundo que entenda demais ou goste muito de qualquer coisa e ela contou que o pai é assim:
- Coisa de quem também tem algo que entende muito.
No fim da noite, o balanço é de preju, para fazer jus à fama de que teatro tem que amar mesmo, pois além de não ganhar, ainda investe e termina no vermelho. Ah Deus, você será fanfarrão mesmo? Então se o mundo acaba hoje eu estarei dançando...
P.S.: temos seis datas comemorativas no jornalismo. Catzo!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Amor que não sabe dizer o nome


A Rússia rachou um meteoro
enquanto me meto num novo território
e parafraseando um dos poetas da minha vida
me pego embriagada nessa inspiração bandida
o amor que não sabe dizer o nome
perdoa o primeiro homem da minha história
e sobe no salto encantado até onde lembra a memória
cozinha cantando mantra e conversando com cada ingrediente
lembra aquele tranco recente e aperta o dente
o amor que não sabe dizer o nome
das risadas em conjunto tem fome
e de um companheirismo que vai se desenhando
agradece e espontaneamente se pega tateando
essa cabra cega que é reconhecer
cada encaixe retórico e corporal que quase deixei perder
o amor que não sabe dizer o nome
não enxerga a que distância está da paixão
e mesmo desconfia que ainda não andou descalço no pântano amoroso
é que desencontrar palavras para ele é um tanto perigoso
só que ao mesmo tempo inebriantemente gostoso
o amor que não sabe dizer o nome
estranha a vaidade que rompeu a barragem
e acha que voltar para o palco e a massagem
tem um ar mal disfarçado de miragem
quebra brinco e deixa pistas para trás
ao mesmo tempo não acha o caminho de volta
mas pensando bem, que retorno importa?
o amor que não sabe dizer o nome
quer mais é quebrar o lápis e se entregar à euforia
que remodelar um jeito impensável de se gostar é a maior alegria
Franzoca Brandão

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Antes do temporal cair

Te gosto assim manso
não conhecia outro terreno
que não fosse o pantanoso da paixão
ou o cochilo na rede do amor
E me vejo aqui num estado intermediário
um sonho na vigília
com sons, cores, cheiros, gostos e toques
recém redescobertos
É um subir outra vez na balança
agora quase madura
sei como pegar o impulso
só tinha enferrujado
como esse vento no rosto
é preenchido
do que não sei nomear
Gosto de tatear esse espaço novo
e me esquecer
redescobrindo o que tinha desconhecido
Por uma curiosidade infantil
e coragem adulta
abro espaço pras tuas velhas novas risadas e reflexões
Não sei qual é o caminho
mas reconhecer novas rotas
me leva para onde não sonhei
Quando sinto o frio na espinha
virar estremecimento
mordo os lábios
e acho esse reaprender a sentir
melhor do que esperava

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ciranda das Mulheres Sábias

E só entre nós
temos de volta o aconchego do útero
E ao mesmo tempo em que uma bate
e não assopra o suficiente
Outra vem te ensinar
como revigorar o cabelo
e a alma, ao mesmo tempo
Uma corre em socorro daquela que chora
que depois reinventa as unhas
e brinca de bonecas adulta
preparando a cama de gato
Para o arranhão que outra fará
E em grupo tecemos histórias
aprendemos uma com a dor da outra
Lembramos que cada oportunidade
traz com ela uma potencial novidade
E nos lambuzamos de café e bolo
preparamos o afago mais caprichado
Na vaidade da que mais precisa
A que viveu mais
releva quando a paixão provoca estrago
Tem a que contribui
com a libertação pela risada
A irmã que te puxa de volta à realidade
quando o balão de gás subiu demais
A que só sabe amar de sopetão
A que te arruma
um guardião para as dores da sua alma
A que põe no colo
quando a represa transborda
A que faz alquimia junto
respira e distancia das dores em par
A que patina de mãos dadas
no caos em que escolhemos
para dar nosso melhor
A que se desculpa
quando põe numa roubada sem querer
e desembaça os óculos
quando vemos um príncipe
no lugar de um sapo
A que canta junto
e também contribui
para se conscientizar
da dádiva do presente
A que vai e vem
feito onda do mar
mas nos reencontros
demonstra que nada mudou
A meio zen, meio intelectual
com a qual as risadas
são asseguradas
A que aprendeu junto
e voou longe
mas te quer sempre por perto
A que lembra
da timidez perdida no limbo
da infância
A que esnobou criança
depois posou para foto
também viu os pensamentos
passarem como nuvens
ganha o mundo
mas mantém o coração ao alcance
E a que torce pela outra
mesmo que a quilômetros de distância?
Divide faxina, divulga pauta
e sempre dá um jeito de se manter presente?
Que aquilo que passamos apertando
os dedos uma das outras
ilumine outros muitos caminhos
E as gargalhadas a cada reencontrar
garantam muitas e muitas
tragicomédias para contar

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Me ama com a verdade da risada

Pelo caminho do coração
o que tenho que melhor
veio à tona:
é minha parte que chora
não importa se provocam
se realizam com minhas lágrimas
ou riem delas
Melhor sentir demais
do que de menos
É que quem não consigo
ficar muito tempo longe
só conhece a sinceridade
que provoca inundação
mas pelo que as palavras não alcançam
o amor insiste, teima,
se arranha, fica meio criança sem rumo
mas escreve e quando joga luz
vê que devolve o que recebeu
A gente só sabe se amar
aos solavancos
A luminosidade
da maior parte da família
é a honestidade da brincadeira
que budistamente
nos liberta pela risada
Quem já aprendeu
a amar pela via lúdica
que olhe o amor aos trancos e barrancos
e sorria
Para aqueles que só amam
enviesadamente

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Já calibrei o conteúdo: hora de fazer o acabamento

Uma colega de profissão dizia que se me arrumasse ia continuar inteligente. Dizia que não duvidava disso, mas que queria que gostassem do meu conteúdo, não da minha casca. Então um pouco para conquistar o amor do meu pai pé no peito que era sindicalista e outro tanto por admirar as super mulheres de carteirinha virei feminista xiita: além de ler e assistir o que pude sobre Pagu, Olga Benário, Anita Garibaldi, Frida, Rosa Luxemburgo, era uma "bicha grila retardatária" e me recusava a render às "peruices" às quais uma parcela significativa da mulherada está "em casa": me maquiar, depilar, fazer unha, cozinhar feito bruxa encantada...
Mas aos 45 do segundo tempo, depois de estudar maquiagem no técnico de apresentadora do Senac e na licenciatura de artes cênicas da Faculdade Paulista de Artes finalmente caiu a ficha de como fazer por minha conta e risco. Tem saído a contento: engana que não sou tão nova em entrevista e é meio mágico quando quem interessa repara nestes detalhes.
A maníaca aqui ainda come as unhas... Mas já me diverti horrores com a psicóloga leiga da manicure, pesquisando unha inglesinha, que lembra a francesinha, mas brinca mais com as cores, experimentado várias opções nas mãos dela e minhas, tentando vermelho e rosa, desandando na mistura, acertando a mão com roxos de diferentes tons e fazendo piada do inimaginável. Além de fazer noite "mulherzinha" com a prima e deixando que ela pusesse cores no que me sobrou de unha.
A depilação é um capítulo à parte. Já escrevi um milhão de vezes que sempre quero ir com amigas, para segurar nas mãos de cada uma ao invés de agarrar a maca, quem sabe não berrar o suficiente para que a depiladora perca as clientes de cabeleireiro e manicure lá fora. Só que desta vez... A tal cera marroquina com seu cheiro que me senti "na incrível fábrica de chocolate", o talento da depiladora para terapeuta informal... Quando percebi consegui como "nunca antes na história deste país" deixar um bigodinho de Hitler!
E depois de um semestre apanhando das panelas na cozinha, de repente, elas estão a meu favor e amigos, primos, "amigo arco íris" estão repetindo e até achando que pego alguém pelo estômago. A alquimia wicca veio para ficar, pois minha professora de contação de histórias tinha muita razão quando dizia que querer cozinhar para nós é sinal de que a auto estima está em dia. Como merecemos este agrado!
Um olharzinho de artista plástica e enquadrado de fotógrafa tem dado o ar da graça, ainda que após muitas ideias soltas e irremediavelmente perdidas nos estudos de teatro, cursos e oficinas de foto, cerâmica e afins. Pintei uma garrafa de vinho que virou um vaso "pós dramático" (como tudo que não compreendemos no palco). Um exame de retina está para virar um quadro aqui. A bandana da última várzea que trabalhei deixou de me irritar e encapará a caixinha de força. Os caixotes de madeira, que ganharam cola ecológica, finalmente se tornarão a "estante alternativa" que venho mirabolando. E com dó da minha câmera ter dado pau, tenho fotografado a rodo o que nem pensei que pudesse render imagem interessante com o celularzinho meia boca mesmo. Quem diria que aquela que ouviu da mãe que "se desinibisse mais com o teatro para a TV comunitária que abastecíamos com exercícios na primeira faculdade faria matéria pelada", de repente, não mais que de repente quer mergulhar em artes introspectivas, ou como sempre brinquei "autistas".
Depois de um tempo significativo ouvindo o chamado para voltar a fazer massagem, que é terapêutico para quem faz e recebe, finalmente "coloquei a mão no músculo". E ganhei de volta, mexi com a postura na motoca e com toda a interação posterior. Coloquei minha dor na árvore para cuidar da que o outro sentia e "sublimei" o que não podia processar naquela noite.
"Milhões de anos" depois de salivar vendo os ciclistas cruzando a cidade na magrela e tomando vento no rosto, subi numa para vencer o medo de despencar. Não, não tive infância. Pedi uma "biquetinha" e ganhei aquelas antigas "tonquinhas" de três rodinhas, só que para mim estava implícito a evolução para uma de duas. Que nunca veio. Ao menos na última aula, depois de seis anos enferrujada sem um personal biker, quando terminei com a impressão que até ia em linha reta, mas caía ao virar, consegui meter o pé no chão antes de desabar e andar o que...? Dois ou três metros antes de descer do pedal para o chão. Já é uma melhora. Só preciso fazer a carteirinha online para alugar as bikes que tenho visto em vários pontos e tem possibilidade de deixar noutro canto.
Também ando na fase mais apaixonada do que nunca pela dança. Experimentei tribal, dois tipos diferentes de indiana, voltei à de salão para matar as saudades do forró e samba de gafieira e senti a graça de no momento em que a mente sai para tomar um café, virar a dança. A que parecia que não conseguiríamos, mas se torna a própria meditação.
"Mulherei" com um atraso significativo, mas como diria meu colega "antes tarde do que mais tarde". E admitindo que a psico tinha razão, pois não perdoei meu pai, sou manipuladora e quando ele é pé no peito eu sou na porta, ouvi a recomendação de uma técnica que já tinha sentido na terapia de grupo como a solução para nosso impasse: a do abraço. E na última vez em que ele me pegou de calças curtas numa situação para lá de constrangedora, em que fui ao encontro dele querendo soltar os cachorros, enxerguei o menino, que não se tocaram que precisava de cafuné quando dava piti na infância. Ao invés de partir para a porradaria verbal, abracei e milagrosamente a carona não rendeu mais um bate boca para a coleção.
Mas virar as dores do avesso e de ponta cabeça com a psico tem calibrado meu olhar para além da família. Ver o parceiro como menino não superestima o que carinho e atenção podem fazer pela minha criança ferida. E quando cuido da dor alheia, a minha pára de latejar.
Neste feriado fazendo psicanálise com família praticamente "ganhei no caça níquel" zilhares de fichas caindo "tudo ao mesmo tempo aqui e agora": quando meu progenitor me batia quando caía e chorava, era como a girafa que dá coice no filhote para fazê-lo forte e bancar a feminista "desencanada do visu" foi uma maneira enviesada de não perder o amor dele, já que para autorama "presente de grego" da infância nunca dei bola. Ser artesanalmente caprichosa com a embalagem é um capricho que lustra o combalido depois de tanta paixonite durando até a página dois e nesta altura da vida, já cuidei tanto das curvas do meu cérebro que estou liberada para dar uma de "Barbie mal disfarçada", depois de me tocar na aula de cerâmica que era uma "peruinha encroada", pois reclamava do barro sujando esta unha que não tenho, pois como até me revoltar por ter detonado o trabalho da manicure. Quando me preocupei com os ralados no rosto quando desmaiei, deixei a "vaidosinha mal resolvida" vir à tona. Mas quer saber? Já ouvi muito que sou inteligente e não sei o que mais. Está na hora de ouvir que estou bonita, cheirosa, magra, o escambau. Meu pai não deixará de me amar por isso. Muito menos os demais representantes da ala masculina, que já foram mais que generosos com meu "estilinho hippie fora de época". E bem, se não me meti onde queria no mercado sendo cabeçóide, quem sabe espirrando um perfuminho e retocando o lápis?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Brecando a mente celebrando a existência do corpo

Minha mente é um 220 voltz intermitente. Para mim costuma ser mais difícil desligar para sonhar do que pular da cama. E o parceiro de dança recém conhecido no Sesc Vila Mariana acertou na mosca: preciso por o corpo para movimentar para desligar e ressonar. E há três semanas tenho feito isso, mas estou num reacender do meu caso de amor com a dança. Qual? Todas que puder experimentar. "Peguei o  bonde andando para sentar na janelinha e dar tchauzinho" na aula aberta, mas como o ponta pé inicial foi forró, o corpo comprovou que realmente tem memória e rapidamente retornou às noites de Canto da Ema com a hermana de teatro "rastapé". Melhor antídoto contra a ansiedade. Se tiver dor pulsando, elas vão embora para cima da árvore mesmo, sem muito esforço. O colega de dois para lá e dois para cá percebeu que sou exageradamente elétrica e foi corporalmente retomando a condução: se deixar danço por minha conta e risco, pois como diria aquela comunidade antiga do Orkut, sou "autodivertida".
A didática não podia ser mais acertada: um professor ia explicando e pondo os homens para soltar o esqueleto e uma mulher fazia o mesmo conosco, para depois unirem os casais - a mestra generosamente também fazia as vezes de condutora. Sempre enfrentamos um déficit de parceiros nestas aulas, mas me jogo no ritmo mesmo sozinha ou com aspirantes a dançarinas
Depois veio explicação para o samba de gafieira! Quando a música nos estimulou, a mente veio palpitar, tentando descer da árvore:
- Não sabia que o Ney Matogrosso cantava este ritmo.
Mas devo ter aplicado a técnica do deixar o pensamento ir embora como nuvem, relembrada no começo da semana pelo Lama Padma Samtem. Reconheci a Elza Soares em dueto com ele, lembrei das noitadas no Teatro Mars na Bela Vista e foquei no corpo, nas dicas recebidas... Até que... Num segundo mágico senti o que os meditadores do Osho estimulavam: virei a dança. A mente pausou e eu sambei gafieira! Claro, por ser mágico dura uma fração de segundo. Mas já vale pela semana inteira.
Rodopio é lúdico, mas alongar e equilibrar o corpo já lapida a mente para sonos mais reconfortantes e trabalhos ligeiramente mais dificultosos. Como a facilitadora que me chamava para suas aulas é elétrica como eu, esperava suar tudo que está sobrando entre os pensamentos. Mas sua irmã que presenteou com uma prazerosa surpresa: yoga aérea.
Para quem tem saudade inconfessa do tecido do circo, parcamente experimentado e precocemente desistido, foi um mágico mergulho no abismo. Tinha pavor de qualquer ensaio de aula de ginástica olímpica na infância, com a mais modesta das alturas e venho desconsiderando este cagaço vida afora. Às vezes minha mente na árvore fez falta para captar as orientações da professora. Mas compensava do outro lado. Me senti aqueles bebês fotografados pela Anne Geddes. É quase um voltar ao útero. As costas se ressentiram na invertida e talvez por isso a foto saiu meio treme treme igual as histórica favela vertical do centro antigo.
Mas no relaxamento. Foi quase um renascimento. Compreendi vagamente o distanciamento daquele espaço tão terapêutico para mim. Foi um entendimento dum mal estar tão antigo e súbito que as previsíveis lágrimas "voltaram para o mar interno". Fiquei em dúvida de onde encaixar os braços, mas a liberação para liberá-los como achasse melhor me levou quase para as redes das chácaras de amigos, da família, do interior...
Embarquei na música. Mais tarde venci minha hiperatividade de querer criar noite adentro conectada. E para meus padrões hiperativos dormi cedo. Consegui começar o expediente antes do previsto e sem me irritar com o cortador de grama uivando na beira da janela. Venci o pavor de enfrentar o "tecniquês" adiado e não doeu tanto quanto imaginado. Ao contrário do que diz o Osho, o que imaginamos também pode ser pior do que quando acontece. Namastê para você também nesta manhã fresquinha como minha natureza calorenta agradece.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

50 esticadas amarradas no RPG

Ele me amarra e eu quero rir: lembro do sucesso do campeão de vendas nas livrarias e me divirto, pois à primeira vista é uma tortura chinesa contrair abdômen, manter a perna a 90 graus, ficar com os braços imobilizados e respirando... Só que o respirando faz toda a diferença. Capotei tão caprichadamente em algumas sessões que desconfio que o melhor sono não é o pós sexo, é o da sequência da reeducação postural global. Num dos atendimentos, até sonhei e queria discutir o enredo idílico com o terapeuta. Só não foi vexatório pois como diz minha mãe, não sei como não nasce cupim na minha cara.
Mas as tiras nos amarrando, a barriga firme, as pernas para cima e o ar indo e vindo nos surpreendem. Numa tarde derrubei umas lágrimas, sem fazer muita ideia qual a razão. Ele queria saber se estava tudo bem e eu "sabonetei":
- Não faz pergunta difícil. Sei lá o que essa água salgada está fazendo escorrendo na minha cara.
Sessões mais tarde eu desabei mesmo, a ponto dele buscar papel no banheiro do lado. Desconfio que não fazia ideia do quanto segurei de carcaça emocional embutida inconscientemente no corpo. Mas lá alinhada, amarrada... Aliviei. Até desabafei o que desconfiava ser a causa do chororô e embora a mulher dele é que seja psicóloga, ele também bancou o analista na beira do divã, quer dizer, à cabeceira da maca.
Nesta manhã eu ri de tudo, mesmo dormindo uma merreca. Desembestei a falar, para evitar dormir. Quero entrevistar o terapeuta, mas ele está é concentrado em tracionar meu pescoço, tirar a tensão dos ombros, realinhar costas, pernas, pés... Já fiz fisio de pilates, aquela "engana trouxa" de convênio cheia de choquinhos, com trocentos pacientes divididos em "zilhares" de biombos e o RPG. Em 2/3 delas sempre tenho medo de soltar gases quando eles começam nos virar para lá e para cá nos exercícios. "Grazie a Dio" ainda não paguei este mico. Mas ria de imaginar! Ria com as tiras me amarrando sem segundas intenções. Ria sei lá do que. De sono. Pra despistar o quanto meu sacro dói. Falo para ele escrever que deve ter tanta história de paciente "louca mansa" igual. Mas a menina das letras sou eu, não ele. Quem quer escrever ou encenar tudo que vê pelo caminho sou eu. Ele deve querer desentortar todo mundo, como um amigo que atua na mesma área.
E eu que tinha ouvido que o RPG para quem já estudou yoga não ia dar muita diferença. Que petulância de quem falou! Mesmo com curso de massagem, alongamentos que fazíamos nas aulas de teatro... As milhares de horas no "com...puta...dor" só podem desandar com tudo.
- Respira!
Voltando ao eixo. Ele é firme, que se der corda embalo nas brincadeiras, desalinho, rolo de rir ou choro "a cântaros" sem entender nada. Depois de formigar os pés de tanto alongar, do sacro me doer, de relaxar para ele encaixar a coluna e tirar a calça do lugar sem querer - pois todo o guarda roupa está sambando em mim, de sentir as mãos dele dando um trato nos ombros, olho para a bola de pilates e não resisto:
- Deixa eu alongar nela?
Me sinto tão criança feliz esticada e respirando assim. Fiz lá "fotozinhas" para registrar como saio do RPG. Mas saíram "daquele jeito", afinal estava de ponta cabeças. Sempre saio da maca leve como quem tomou um banho de sal grosso. E defendendo que devia fazer parte da declaração universal dos direitos humanos: a reeducação postural global. Para eu e minha amiga já é tanto direito adquirido que fazemos no metrô cheio, encostadas à parede, respirando fundo e soltando o ar sem pressa nem medo de ser feliz. Reposicionando a rainha, como a atriz Georgette Fadel considera a coluna. O eixo de tudo. Bendita seja a lombar que não deu mais sinal de vida...

Dança indiana amplia repertório de contadores de histórias

Experimentei a Odissi, dança indiana indicada para contadores de história aprimorarem sua expressão corporal. Como é ritualística, lembrei de um ensinamento que no Japão a dança e o teatro não são separados e acredito que na Índia também não sejam, pois o corpo vai mesmo desenhando um roteiro, tamanha a precisão dos movimentos. É de uma gratidão extrema começar a prática pedindo corporalmente para que a terra nos permita bater os pés nela. No início é difícil coordenar cada detalhe das mãos, pés, joelhos e peito - mas acredito que todas as primeiras vezes são meio às cegas e depois tudo precisa aprimorar com a prática. Ouvindo a professora fui incapaz de entender vários termos, mas reconheci que eram do balé. O corpo agradeceu o alongamento pré e pós coreografias - raramente praticados na maioria das aulas que conheço por aí. Pela primeira vez interagi com a barra das bailarinas e agradeci pelo meu corpo não ter perdido a flexibilidade. Os movimentos são tão detalhados que deve levar um tempo significativo de estrada para conquistarmos, mas valeu a tentativa, pois os músculos e a mente agradecem por ficarem tão entregues e presentes naquele empenho de dar o máximo possível dentro da coordenação que me falta. Absolutamente tudo que é leve e devagar se transforma num desafio sobre humano para mim, mas já não sofro com isso, pois sou assumidamente estabanada. As música indianas reverberam em algum lugar dentro de mim que não sei definir ao exato onde. E é sutil, mas quando a cabeça indica ao expectador os movimentos da mão, como não se deixar encantar? Ainda matei as saudades da yoga, pois fizemos saudação ao sol - o difícil era só acertar de que lado ele nascia em meio a tantos prédios. Pela primeira vez em décadas achei uma pena não ter pedido para fazer balé na infância, pois ouvi uma outra professora numa aula deste tipo e percebi o quanto elas têm consciência corporal e mais que isso, tratam a coluna como rainha, que é como a atriz Georgette Fadel a chama - o que beneficia a vida da gente, não serve só à dança. Certamente minha lombar agradeceria. Antigamente me frustraria de perder entre tantas orientações de postura, deslocamento, equilíbrio... Hoje em dia quero fazer cada vez mais e me livrar a toque de caixa da máscara de desastrada que assumi e não me serve mais. Que o tempo e a verba colaborarem. Evoé!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O que tem no seu baú de vime?

Cacei em meu baú de recordações o cartãozinho de uma professora primária, que me inspira a personalizar meu exame de retina, enquadrar e pendurar um controle que faço sempre, mas que agora me despertou um olhar de artista plástica. Aquela paisagem avermelhada estilizada morreu na minha infância e desapareceu dos meus tesouros guardados, mas sem querer me fez bem visitar a adolescente e menina que fui.
Matei saudades de primas que ainda são próximas de coração, mesmo com a distância não colaborando. "Desentendi" como tem quem passou a infância tão próxima se distanciou quilômetros adulta. Puxei pela memória, mas não faço ideia de quem era "meu amor" a que uma colega fazia referência numa correspondência.
Vi fotos centenárias, de quando ainda tinha o ar de quem está quase com medo da câmera. Reencontrei pelas linhas inspiradas uma amigona de adolescência (que como diz o Rubem Alves, é um prolongamento da infância), diziam que éramos parecidas e ela recomendava enfática para sermos nós mesmas, doesse a quem doesse. Até hoje são conselho e batalha atuais!
Cartões de comadre que perdemos o contato periodicamente e retomamos "antes tarde do que mais tarde". Como sempre, ela se deprecia e desenha ela mesma gorda: continua fazendo o mesmo no Fuçabook. Mais cartões do antigo cunhado que do irmão dele. Faz sentido, devo ter dado cabo e já nem lembro mais. Um cartaz que fiz com o verso da música do tio com quem me dou melhor "vamos amar por igualdade, se Deus for negro você não sabe". Que "judiaria": ele perdeu a maior parte das músicas que fez, esqueceu, gravou, deu para amigos e escafedeu-se. Todo artista é relapso assim com sua obra? Se não tiver família ou amigos cuidadosos querendo preservar ou levantar tudo depois, era uma vez...
Entradas, releases, máscara de mergulho, cardápio das viagens à Disney: já não distingo o que foi a trabalho e o que foi diversão com minha tia, pois foram duas idas e vindas, ambas ganhas. Guardava tudo que pudesse reter na memória as comidas, as paisagens, os frios na barriga, os mergulhos, as risadas, o sol, aqueles flamengos no "lagozinho" artificial, a montanha russa em que fizemos um escândalo e não nos conformamos com os gringos impassíveis atrás de nós...
A coleção de cartões postais! Deus e o mundo me trazia mais um para aumentar a quantidade dos que guardava, lugares que queria conhecer, outros que tinha visitado, agrados de amigos e parentes que talvez gostariam de ter me levado na bagagem, mas traziam uma partezinha do lugar visitado, só para manter em banho maria minha ânsia mochileira represada.
Os telegramas e cartãozinho das tias, inspirados. Os que ganhei quando menstruei a primeira vez fazem rir, são espontâneos, comemoraram comigo uma visita aguardada e nem parece que já se passaram tantos anos. A vizinha desenhou um rio vermelho no que me deu. A das tias já era cor de paixão e era um prenúncio da profissão futura: dizia que anunciaria aquela data tão histórica nos jornais, na TV...
Misterioso reler desejos de quem não lembro mais o rosto. Cartinha de uma das primeiras paixões: também não lembro mais a cara dele! Segredos escondidos de quem hoje não se abre nem por decreto. Cartinhas do tio, primo e tia paranaenses: só lembrava do avô fazer estes registros periódicos de nossa saudade em papéis da máquina de café em que trabalhou, do resto da família não tinha lembrança de receber cartas...
Fotos que jurava perdidas. Cartões de outras professoras, com paisagens diferentes da que procurava naquela noite. Pedido de gravações de músicas da prima: sons que não ouvimos há uma geração. Fita com minhas locuções na rádio: onde ouvir isso hoje em dia? Saudade da banda que o cunhado tocava, sem querer a música já dava indícios de que eu e o irmão dele acabaríamos no barranco amoroso.
Recursos de quando fazíamos matérias antes do Google: catálogos, propagandas, releases impressos, fotos impressas. Carteirinhas de estudante do período paleozoico. Uma fotozinha da segunda paixão da vida: se não fosse pelo baú, esqueceria completamente como ele se parecia.
Dias depois, estas memórias me saltam com maior importância: provavelmente por uma colega estar tratando câncer e ter dito que depois de uma convulsão perdeu ou ainda vai recuperar parte do seu passado. Fico me achando nada sem os amigos, primos, viagens, amores, vizinhas, sonhos antigos que me estofaram até aqui. E se apagasse como a amiga de profissão? O que ficaria? Faria falta o que não se lembra, como em noite de bebedeira? Sonharia com o que tento recuperar? Como saberia o que é vigília e o que é sonho? De que são costuradas estas lembranças mágicas?
Tenho medo até de tirar pó do baú e um fiapo do que vivi se perder. Um mundo significativo meu está lá. Se minha colega rever o que guardou, recupera o que se foi? Quem deu licença da memória pregar peças assim em nós? Dizem que uma parte é memória e a outra, invenção. Seria mais criativa se me dessem brancos definitivos? Acho que escrevo tanto para o que passou não escapar de mim. O que fazemos por quem a memória escapuliu por entre os dedos? Eu recomendei a ela que escrevesse... É sempre catártico.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Embriagar dos seis sentidos

Sente: o acaso reavivou essa amizade multicor
Põe o ouvido: de um lado ela soluça
e embarcar na outra ponta, que perde o fôlego de rir
Olha: sem as máscaras cotidianas
o outro vira um menino bonito como a infância
e de cá o reacender do ímã cria doces e salgados
se lambuza de tempero e compartilha
a efervescência gastro-natureba-gourmet
Cheira: o perfume amadeirado batizou
a bancada de trabalho
criando uma âncora emocional
e disparando flashs de curta metragem
que o olfato é a mais rápida das memórias
Escuta: esse som tem um novo lastro
se impregnou de mais um ciclo
já não pode ser ouvido da mesma maneira
Morde: o que sai do forno
é salpicado desta gana
de inventar outros pratos
de besuntar panelas
e se embebedar com a alquimia wicca
Tateia: esses cremes já voltam
testados e aprovados
o perfume, trilha do dançar dos dedos
e o Ph um desconcertante embaralhar dos pelos da pele
Aguça o sexto sentido:
o que prevê a irriquieta palavra
de onde vem a cena que o sonho ensaia
para onde vai essa mancha do reencontro
de onde surge esse abraço que levanta
como brota esse toque que apazigua
Toma essa chuva comigo?
Nesse abraço é que mora o perigo

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Molequice ensaia a cura

Quando doeu o perdão não digerido
o superfaturamento das relações arrefeceu
E reencontrei um menino
que me toca e suaviza
Mas é uma criança crescida
e não tem como apaziguar
essa dor de infância
Quando me vi manipuladora
aliviei a mão na ansiedade
E meu sorriso se escondeu
mas soltar as carcaças
da emotividade contida
No menino que sente falta da minha risada
suou o que não pode ser restaurado
E a mão do menino
passeou entre meus cortes mal cicatrizados
Ele ri comigo
e a madrugada perde a densidade
Numa gangorra recém descoberta
estas crianças se aninharam
Minha barriga acolheu e se arrepiou
com teu sopro
A parte rasgada de mim
se esqueceu na leveza deste pique e pega
Este menino deve se embaralhar
quando a sem gracice enfrenta minha malícia
A mágoa encroada me tira da cama aos soluços
E esta criança com band aid emocional
estranha o colar com perfume adulto
perdido no playground

O sertão emocional onde acendo uma vela

O cheiro desconcertou
 e agora é sertão
Os textos fisgaram
já não se enxerga um palmo no sertão
O sorriso capturou
e a textura é nova nesse sertão
A paisagem urbana relembrou
onde está o guia deste sertão?
As contas budistas rememoraram
para onde este sertão está levando?
A roupa se destacou
como lidar com o calor do sertão?
Os brincos se partiram
para onde foram os rastros neste sertão?
O paladar ensaiou uma captura
qual é o gosto deste sertão?
A paixão pelo canto foi incendiada
que som tem esse sertão?
O ímã reconectou
quais são as conexões neste sertão?
As memórias se realinharam
qual é a história deste sertão?
Este tatear no escuro virou literatura
de onde vem a inspiração no sertão?
Esse dançar sem música
qual é o som no sertão?
As mãos viram o que escapou ao olho
como é mesmo a paisagem no sertão?
As risadas evaporaram o cansaço
onde está a rede deste sertão?
e as almas se perderam na conversa
qual é a palavra pra este sertão?