quinta-feira, 31 de maio de 2012

Que psicotrópico que nada! Um busão e estava tudo resolvido!

Via Felicidade. Esta era a indicação do visor do ônibus, em plena avenida Tucuruvi. Num dia em que se acordou meio deprimida, aquela era uma promessa e tanto. Por onde iria esta condução indicando quase o paraíso, santo Deus? Arrancaria de mim esta dor, esta angústia, esta ansiedade "devezemquandária", que surge não sei como e parte sabe-se lá para onde? Seria um sinal divino? Depois de tantas rezas, jejum de quaresma, finalmente uma possibilidade de redenção! O caminho teria que visual? Campo ou mar? Em plena São Paulo, era pouco provável que a bendita condução pública rodasse tanto assim... Passaria pela Cantareira, pelas trilhas feitas com amigos e ex namorados, faria um "pit stop" naquela cachoeira em plena cidade cinza, dos prédios e congestionamentos? Quem teria a bênção de morar num lugar cujo trajeto fosse feito "Via Felicidade"? Lembra do e-mail da quase irmã, em estado de espírito semelhante, que confessava "fia, só faço chorar". Tinha que avisá-la desta possível melhora de todos os males da alma, nada de remédios, psicólogos, psiquiatras que dão ao frequentador a indigesta fama de "quase maluco", tratamentos alternativos que funcionam num e dão cócegas no outro... Apenas uma passagem do Bilhete Único municipal e embarcamos no sonhado "Via Felicidade". Ensaiou pegar o celular para brincar com ela. Brochou como se isso fosse possível em seu sexo, "sensibilissimante" feminino. Quando tentou carregar o aparelho mais cedo no supermercado, o sistema da operadora estava fora do ar. Não era dia de dividir descobertas poéticas em plena zona norte com ninguém mesmo. Tinha até recebido mensagens e - incrível - não eram apenas da mãe, sempre conectada além do normal devido à sua "filhauniquice".
O farol já tinha aberto e fechado incontáveis vezes. O relógio do seu celular lembrou o compromisso marcado com a outra amiga da região, que terminava um curso de massagem e a usava adoravelmente como "cobaia". Para não perder o costume em plena megalópole, estava atrasada. O metrô tinha resolvido fazer uma verdadeira "via sacra" da zona sul até a estação terminal, devido aos problemas "na estação Paraíso" - que tinha este nome por pura ironia, vivia "cutucando a gastrite" de tudo que é passageiro, se o inferno fosse uma versão piorada, aquele certamente seria o umbral, como explicam os conhecidos espíritas.
Não era nesta tarde pasmacenta que pegaria o ônibus para conhecer o trajeto "Via Felicidade". Agora parece que ele já indicava "Jd Floradas da Serra", mas tinha que desconfiar de seu misto de miopia com astigmatismo. O toque da futura massoterapeuta, mesmo ainda estudando, também era uma promessa de que a felicidade existia. Atravesso as ruas e avenidas meio no piloto automático, ainda curiosa com o destino daquela condução pública. Já na amiga, tagarela demais para uma sessão de massagem, lembra que a maioria dos bairros e ruas com nomes promissores levavam aos cantos menos apresentáveis da cidade.
Naquele dia não foram os toques providenciais, nos lugares mais estratégicos em que a tensão que resguarda de partir do corpo, que me reconduziram de volta ao eixo, de que tudo estava bem e nem era preciso conhecer o trajeto do ônibus "Via Felicidade" para tanto. Rolar no chão com o filhote dela, que foi registrando tudo via "camerazinha de quinta categoria" do celular, já tinha sido capaz de dar indícios de como retomar o rumo "Via Felicidade". Outra amiga, mãezona coruja assumidíssima, jurava de pé junto que só os filhos provocavam ondas de felicidade nos pais, que mais nada era capaz de gerar. Que sorte a sua! Qualquer criança que não precisasse de noções básicas de reeducação negadas na pré infância eram capazes de fazer o mesmo com ela, ainda a léguas de distância de ajudar a "super povoar o mundo".
Não reencontrou o ônibus "Via Felicidade" de volta ao metrô, a caminho de rever outra amiga para encerrar com chave de ouro as pistas de como chegar lá, matando as saudades do centro budista em que também saía de alma lavada, acreditando que ser feliz era viável e nem precisava usar seu Bilhete Único para tanto, se perdendo numa região em que mal conhece e desconfiava ser longe do metrô - justo ela, uma caipira metroviária do ABC, que quase só topa programas perto das estações.  Síndrome da pedestre convicta, é verdade, vulgo pobre com roupagem mais ecológica.
Um pouco mais difícil desvendar o caminho para a tal felicidade nesta religiosidade, é verdade. Indicada para "cabeçóides" como ela, que curtiam fundir os miolos para entender uma das mais impenetráveis filosofias que já tinha entrado em contato. Quer dizer, nesta altura do campeonato, tentando aplicar na própria vida, já estava mais para religião, segundo a quase xará Soninha Francine. Adorava "por os miolos para fazer hora extra" naquela salinha coloridíssima, onde namorava sua futura tatuagem: o nó infinito em meio a uma flor de lótus estilizada. Sabia que compraria brigas familiares suficientes para ficar bem longe da sonhada felicidade com o desenho permanente no corpo. Mas deixava a ideia amadurecer, enquanto o medo da dor e a falta de grana não contribuíssem. Tinha esquecido completamente de perguntar sobre o tal ônibus para os únicos moradores que conhecia por lá, a amiga com dedos de fada e o marido músico, para o qual prometia aprender a cantar quando o "programa Pau nos Custos" chegasse ao fim. Melhor fantasiar que a condução pública passava por todos os recantos da zona norte. E dormir recitando mantra, que é para contribuir para chegar mais rápido à sonhada e fugaz felicidade.