terça-feira, 8 de outubro de 2013

Gangorra

Tua memória
sorriso encoberto
O que dava
máscara teatral
Barba no pescoço
manhã nublada
Essa quase história
céu da boca
Enquadro essa lembrança
com nuances poéticos
Drummondianos
Sonho com olhar entregue
e aqueço os tamborins
Banho descompromissado
rede sem pressa
notas musicais
de Vinícius

domingo, 6 de outubro de 2013

Batida

Pulso ensurdecedor
carta sem destino
Pulso ensurdecedor
foto em sépia
parte moldura
Pulso ensurdecedor
joelho recém ralado
choro sustado
Pulso ensurdecedor
buraco no estômago
Pulso ensurdecedor
noite sem estrela
Pulso ensurdecedor
abraço de criança
Pulso ensurdecedor
beijo no machucado
Pulso ensurdecedor
riso sem motivo
Pulso ensurdecedor
chuva no verão
Pulso ensurdecedor
cochilo na rede
Pulso ensurdecedor
pés na água
Pulso ensurdecedor
sol no rosto
Pulso ensurdecedor
boca cheia
Pulso ensurdecedor
balanço sem pressa

Minha ferramenta

Palavra parceira
para pausa
a paixão perigosa
para capturar
pensamento parando
na paisagem
pouso proibitivo
por pouco tempo
em plena ponte
de pura pedra
só para respirar
se perder no fiapo
do presente
Polir a palavra
lapidar as pontas
temperar o prato
repleto de partes
partidas do peito
Se prender na palavra
pincelar suspiros
perder o passado
paquerar lampejos
de paisagens que passaram
pelas piscadas
Pintar a palavra
perguntar para o poema
partcipar do parto
perdorrer pedaços
parcelar a poesia
Pingar na palavra
pontas lapidadas
pela inspiração
procurar partes
de porcelana
para aprimorar
papo de apaixonar
pela puta palavra
percorrê-la
de ponta a ponta
Pescar a palavra
passionalmente
procurar pelo pincel
personalizado
pintando a lápis
Por a palavra
para pulverizar
os portais
da pulsação
Põe a palavra
para repousar
Empastelar a palavra
Plastificar o pensar
Pingo de palavra
põe para pipocar
a parceira palavra
Perdão palavra
posso personificar
percepções palatáveis
ponho em parênteses
a presença
pouco prática
para explicar
Polida palavra
repercute
parte do que passo
picada para purgar
pulsando o que me pinça
Palavra sapeca!

Recorte de um tempo

Nem é pelo cheiro da água
quase para desabar
que me apaixonei por lá
é pelo que vem da infância
pelo gosto de bolinho de chuva
pelo pé no chão no quintal grande
pela rede na varanda
a vó tentando me por pra dormir
ou guardando pote de danoninho
para brincadeiras mágicas
não é pelo aroma da máquina de café
que tenho saudade incurável
é do vô escrevendo
da vizinha no muro
da boate do interior
do caramanchão perto da igreja
das ruas carimbadas
dos cachorros, muros e carros
meio brancos e marrons
não culpem a terra vermelha
invandindo o nariz e o olhar
mas um jeito sem pressa de sentar
com os parentes e prosear
de dividir comida
e falar pela janela
é por um certo aconchego
é o vô sem voz
depois de puxar
bloco de Carnaval
é o por do sol
visto em cima
da moto do primo.
É o recorte de um tempo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Somos a metade de uma terra que se desencontrou

Não é só perder o chão
que faz falta
Na hora da dor
vibrar junto
pra passar rápido
Contar tarde da noite
porque gosto de chuva
Torcer pelo projeto
que o outro toca
como se fosse nosso
Mostrar qual o beijo
que arrepia a espinha
não é o único vácuo
Ficar deitado pertinho,
esperando o sonho vir
entregue à preguiça
e à completude do outro
Ler em voz alta
sonhar com as horas vagas
feito a espera da festa
melhor que ela própria
pegar o sobrinho no colo
Subir no balanço
feito criança crescida
e pedir um empurrão
Deitar na grama
e ficar vendo
as nuvens passarem
Caminhar na beira mar
chutar água salgada
um no outro
esquecer que idade temos
Trocar olhar cheio d´água
depois duma peça
sem dizer uma palavra
ou rir até o estômago doer
num filme
Pedir a pipoca
na boca
Fazer trilha
até escorregar
e pedir apoio
Escolher junto
o candidato menos pior
procurar um trabalho
voluntário juntos
que aqueça os dois corações
Pintar uma parede
pendurar um enfeite
inventar uma decoração
que só aquele canto
vai ter
Encostar no frio
mas não precisar
pedir abraço
só esperar
o braço
aconchegar
Esticar esteira
no parque
metade na sombra
e metade no sol
Cantar junto
em show
e perdoar
o grito adolescente
Somos a metade
de uma terra
que se desencontrou
E sussura baixinho
para se reencaixar

Deus pai passarinho

Mal acostumada
à filhauniquice
debaixo das asas
superprotetoras
que reprovam
vôos longe
tento encontrar
espaço nesse ninho
do Deus pai passarinho
sem sufoco
empurra a ferro e fogo
pra empreitadas
longas e tortuosas
Deus pai passarinho
se me vê cair
na armadilha
do apego
muda todas as rotas
faz a vida
dar cambalhotas
Deus pai passarinho
tem um quê
de mãe girafa
dá tranco
pra aprender
a dar conta
das turbulências
Deus pai passarinho
dessamara nós
e incentiva
a construir laços
Deus pai passarinho
desmantela o ninho
de quem tem
síndrome de Peter Pan
e deixa repetir
lições mal aprendidas
Deus pai passarinho
olha de soslaio
borboleta que dá rasante
num estômago
meio poeta
mas nunca mete o bico
só sussura
voa filha, voa
Deus pai passarinho
puxa o tapete
quando o esforço
é demasiado
Deus pai passarinho
muda o rumo
te joga no escuro
conta os minutos
pra fazer o dia a dia
rodopiar