quarta-feira, 24 de julho de 2013

Quando me vi aranha...

Teu medo patológico se justificava
mas joguei a teia do apaziguamento
Me apontava possibilidades de maior entrega
te "novelei" descartando rótulos
Tua falta de tempo se desculpou
mas te enredei retardando suas manhãs
Seu aperto, sem graça, se interpôs entre nós
nos enveredei pelo roteiro alternativo sub undergroud
Teu aperto corporativo se explicava
mas as garras do meu senso de humor
o que me dizia que passaria semanas conversando
te faziam adiar essas trocas
Teus alertas de que um ensaio de relação
não necessariamente conduzem à ampliação dela
tiveram o rumo da prosa alterado pelas teias dos meus cílios, dos cabelos...
Quando propunha que o fizesse bater em retirada
por uma história com menos restrições
meus temperos se mancomunavam
e te levavam para a infância
a casa da avó
as tábuas de madeira
uma outra luz entre as ripas
E se previa que qualquer dia
um filme me encantaria
e afinal eu decidiria
por uma vida mais cinematográfica
A pipoca com manteiga
distraía a vontade de chorar
que o escuro atrás das telonas
camuflava que talvez tivesse razão
E quando te reencontrava
a teia das minhas pernas te prendia
um pouco mais
Minhas teias só não continham
a mudança do meu olhar
a postura que travava
e você...perguntava
Afrouxei a teia
só um bocadinho
meu desejo de mais
desaguou
nem se especificou!
Naquela noite
teu braço não me enlaçou
E você, como era de se imaginar
nunca mais voltou.
Quando arriei o vácuo da tua falta
e enxerguei para além
dessa falta que lateja
Vi as teias, todas
amarrando sua língua
quando cantava
que era só uma chuva
Só podia me engasgar
com meu próprio veneno
Nesse dia quis te escrever
ser lacônica
pedir perdão
Mas a rede das palavras
finalmente se rompeu

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Revoada

Quero um amor deseducado
que tem tanta sede de sorver a vida em grandes goles
mal se lembra de pedir licença
Um amor que me pega no tranco
e deixa a pele em dúvida
se encharca ou arrepia
Quero um amor anestésico
que passe pelas feridas feito xilocaína
Quero um amor revoada
que me despenteie
que borre o batom
me deixe amarrotada
Quero um amor que me vire de ponta cabeça
que me deixe do avesso
que estoure botões e zíperes
que deixe marcas vexatórias no dia seguinte
Quero um amor em ebulição
que arrepie a base da coluna
e ponha as borboletas do estômago para correr
que imprima um rastro dolorido no pescoço
que me deixe sem ar entre o abraço e a parede
Quero um amor desgovernado
que não lembre onde estão as chaves
que quebre os brincos, derrube óculos
Quero um amor arrasta pé
que não resista a um ziriguidum
que dance como se ninguém estivesse vendo
que rodopíe de olhos fechados
Quero um amor que preencha
que dificulte segurar o riso no escritório
que não ensaie o que diz
que esqueça a marca e a fala
que perca o rumo de volta
Que queira correr pro lago no parque
que perca a memória
que reinvente a história