sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Amor aos solavancos

O corpo
meio passional
e meio brincalhão
Se deitou
ao lado teu
e o chão
não estremeceu
Deus do céu!
esse peito
te esqueceu
Você ressonou
assim pertinho
e meu maior órgão
Não quis nenhum carinho
Tua mão terapeuta
ajustou minha perna
e teu toque
não deu choque
É uma graça alcançada
a dor foi aquietada
Outro amor
o silêncio do quarto fez lembrar
mas finalmente sem dor
e nenhuma borboleta no estômago voar
Quando o ensaio
de paixão atual
minha coluna arrepia
não confio: essa faísca
é sempre igual
Assenta coração tropeiro
que nos teus solavancos
boto cabresto e reio!
Franzoca Brandão

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O diabo era a sombra

Se reconheceu na incapacidade patológica de ser feliz. Naquela ânsia clariciana de que não era nem liberdade o que queria, era muito maior e não tinha nem nome. De olhar o que caía no colo com olhos míopes, mirando sempre um horizonte, que, à lá Galeano, fazia continuar caminhando, mas... Nunca chegava. O amigo tinha razão. O diabo era a sombra. De quando caíam nas mãos um, dois trabalhos e a cabeça pirava antecipadamente com as contas lááá do mês que vem. Ou atraía um, dois, três atípicos dançando e se rendia ao que menos potencial tinha. O eterno boicote nas entrelinhas. O diabo interno à espreita. Quando acabava subitamente uma paixão, desejava em alto e bom som futuros vexatórios pro ex. O Sartre estava errado, o inferno somos nós, não os outros. Quando saíam com ela antes do imaginado numa parceria de sangue, suor e lágrimas e na saudade, queriam que sentissem sua falta, de um modo não muito nobre. Olha o diabo ali. A felicidade quentinha, feito bolo saindo do forno, com as possibilidades, os sonhos, a criação, o que não se toca. E a mania doente de querer concretude, segurança, realidade... Que não existe. Tudo é sonho - alguns da vigília, outros, oníricos, como ensinou o budismo ou... Sim Calderón de La Barca, a vida é sonho. E quanto mais a vida tiver jeitinho de mentirinha de verdade, melhor. Escreve uma ode às pequenezas felicidades sutis. Se propõe a policiar para que elas não passem mais batido. E diabo, ela está de olho em você!

domingo, 18 de agosto de 2013

Talhar a palavra

Palavra parceira
para pausar
a paixão perigosa
para capturar
pensamento parando
na paisagem
pouso proibitivo
por pouco tempo
em plena ponte
de pura pedra
só para respirar
se perder no fiapo
do presente
Polir a palavra
lapidar as pontas
temperar o prato
repleto de partes
partidas do peito
Se prender na palavra
pincelar suspiros
perder o passado
paquerar lampejos
de paisagens que passaram
pelas piscadas
Pintar a palavra
perguntar para o poema
participar do parto
percorrer pedaços
parcelar a poesia
Pingar na palavra
pontas lapidadas
pela inspiração
procurar partes
de porcelana
para aprimorar
papo de apaixonada
pela puta palavra
percorrê-la
de ponta a ponta
Pescar a palavra
passionalmente
percorrer pedaços
procurados
pelo pincel
personalizado
pintando do lápis
Por a palavra
para pulverizar
os portais
da pulsação
Põe a palavra
para repousar
Empastela a palavra
plastifica o pensar
Pingo de palavra
põe para pipocar
a parceira paralela
pedaço de apaixonar!
Perdão palavra
posso personificar
percepções palatáveis
ponho em parênteses
a presença
pouco prática
para explicar
Polida palavra
repercute
parte do que passo
picada para purgar
pulsando o que me pinça
Palavra sapeca!

sábado, 17 de agosto de 2013

Amor aos solavancos

O corpo
meio passional
e meio brincalhão
Se deitou
ao lado teu
e o chão
não estremeceu
Deus do céu
esse peito
te esqueceu
Você ressonou
assim pertinho
e meu maior órgão
Não quis nenhum carinho
Tua mão terapeuta
ajustou minha perna
e teu toque
não deu choque
É uma graça alcançada
minha dor foi aquietada
Outro amor
o silêncio do quarto fez lembrar
mas finalmente sem dor
e nenhuma borboleta no estômago voar
Quando o ensaio
de paixão atual
minha coluna arrepia
não confio: essa faísca
é sempre igual
Assenta coração tropeiro
que nos teus solavancos
boto cabresto e reio 
Franzoca Brandão

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Nego que dedo é esse?

Nego que dedo é esse?
Cujas pontas mudam a orientação dos meus pelos?
Nego que dedo é esse?
Que passa pela sua foto e não se reconhece?
Nego que dedo é esse?
Que pipoca estrelas pra dentro de casa?
Nego que dedo é esse?
Que assenta a doidera do meu computador?
Nego que dedo é esse?
Que estala fogos de artifício pra ti?
do meu lado
mas quase sem barulho?
Nego que dedo é esse?
Que abre espaço pra novas cores,
cheiros e sabores
mudarem tua opinião
fervilhando no seu céu da boca
Nego que dedo é esse?
Que mapeia meus poros
pra eu inventar uma nova língua
Nego que dedo foi esse?
que minha memória corporal embotou
mas nosso lastro logo relembrou?
Nego que dedo foi esse?
que pôs as borboletas do meu estômago
em cambalhota efusiva?
Ih nego que dedo certeiro...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Lua encoberta

A garoa que tomei
rendida em olhar entregue
fervilhava uma cólica
pulsava em paralelo música do Vinícius
choque entre palavras e gestos
faiscava a melodia de um poema do Drummond
E eu, quase translúcida
Me rendi à tua máscara teatral
gotas me encharcam
permiti ao banho descompromissado
se fartar no cheiro da chuva
tua presença, sorriso encoberto
com teu silêncio, sono sem abraço
contigo, tatear às cegas em manhã nublada
abandono à procura de luz de estrelas
neste céu da boca

domingo, 4 de agosto de 2013

Em Parati com a Tatit

Somos irmãs por adoção e como na peça Cinzas do Velho, fizemos resgates inesperados na última semana, não dando cabo da cremação do pai e se prendendo num hotel de beira de estrada com carro quebrado como no espetáculo, mas quase trabalhando juntas, viajando, ganhando carona, consolando dores de paixão reincidentes, dançando e forçando a cuja bateria arria mais rápido a por o esqueleto para mexer. No saldo, uma manhã e uma noite sob lágrimas, o que parece ser um saldo positivo para quem cismava com a dubiedade do que sentimos, por conta de nosso jeito pé no peito capricorniano-Mendonça de amar.
Com massagem também se expurga mal estar emocional retardatário. Ou simplesmente se demonstra carinho espontaneamente. Pães na chapa e cafés cheirosinhos deram bom dia às nossas dores, risadas e sonhos ao menos umas três vezes nos últimos sete dias. Caronas comportaram palpites providenciais, gargalhadas espontâneas aliviaram mal estar emocional, cafunés noturnos acolheram dores imprevistas, risadas nos libertaram de "ranzinice" velha de guerra, soneca em beira de piscina aterrada deram uma trégua do calor meio trator entre árvores e pássaros violentando a cidade cinza, presente inesperado escancará em parede pelada a bênção de compartilhar gostos, desentendimentos, sabores, amores, reportagens e crônicas imperdíveis e impagáveis, além de roupas, batons, ideias, generosidade, presentinhos amortecerem amores que volta e meia davam coices ou cabeçadas - mas nem por isso negavam esse querer bem praticamente "de sangue".
E entre lágrimas, stress, palhaçadas, preocupações, boas vindas, caminhadas, acolhimento da escorregada do pé na jaca alheia, ampliação da flexibilidade com nossos mestres de paciência familiares, arrasta pé, troca de vivências espirituais, "uso da ironia como segunda língua", abraços nos amores de nossas vidas mais genuínos, "navegação autista de viciadas", nos deleitamos com uma nova velha paixão: Parati. Enchi os olhos e voltei à infância com o telhado de chita da pousada para lá de simplesinha, na qual perdemos o fôlego de rir, chorei no cais dos barcos como "mineiro que debuta com o mar", "fartei" os pés num chão histórico e descômodo, fizemos amigos, a simpatia dos caiçaras quase me fez passar por nativa, rejeitamos restaurantes "praticamente franceses","botecamos" à beira de pracinha interiorana, me desculpei com o primeiro cavalo de olhos claros da minha vida por subir nele para matar a saudade de andarmos juntos, perdi a vergonha de mergulhar de calcinha e sutiã, "tão pouco diferentes" do esquecido biquini, singrei os mares fluminenses deitada e folgada e - quem diria, ironia do destino - retornei à meditação me fartando da paisagem no farol histórico. Não, nem tudo são amores. A sobremesa italiana me deixou empachada, o chão do quarto e lençol onde dormimos eram suspeitos, bêbados forçaram amizade na viagem e na balada, imprevistos abortaram ainda mais delícias conjuntas, a pele meio papel de seda se ressentiu dos paralelepípedos paratianos, Iemanjá levou mais que imaginava após nosso ansiado reencontro e a areia da Ilha Duas Irmãs lembrava a de Itaparica pq não se transforma uma praia em particular impune. Mas tudo contribuiu para um raro sono de Mendonça voltando para o caos metropolitano. E nele acolhemos pirações, relevamos os lados gourmets que enfiaram os pés nas jacas, mimamos a "filha-afilhada adotiva", brincamos de Lilica com a tarada canina e de afro noturnas, botamos chateação fora de lugar para correr, demos apoio moral à inadiável faxina, fomos carona paciente, cantoras, cabeleireiras, prolixas e filósofas, além de comprovar que de médico e..."louca mansa", Deus e o mundo têm uma porção significativa.
Bem, se havia dúvidas sobre essa "irmandade construída", espero que elas tenham se dissipado.
P.S.: Este post espera por suas "ilustrações" brother rs