quinta-feira, 21 de março de 2013

Contaria entre vinícolas e decoração floral, mas...

Na primeira manhã de trabalho juntas, ela ofereceu rapadura. De cara eu pensei:
- Mas não é mineira minha primeira estagiária? Cadê os pães de queijo caseiro para humilhar nossos congelados que quebram um galho da falta que faz comida de fogão?
E por falar nela... Não, minha parceira profissional que se tornou amiga para a vida nunca usou microondas. Não se vem da terra de Drummond sem jeito para as panelas.
Pegando carona nele... Ela que me contou ter discussões literárias infindáveis em cima do verso "Itabira é apenas uma fotografia na parede" que dividem os acadêmicos entre os que acham que ele acredita que a cidade parou no tempo e os que sentem no verso saudade da terra dele.
Saudade... Tudo bem que ela veio trazer o convite para o casamento, que está chegando, mas o sentimento acompanha a gente quando a amiga muda alguns países para lá. Não que dê para se habituar, nós começamos a deixar a saudade falando sozinha, a vida vai atropelando, a chuva distraindo...
O toró! Nós paramos embaixo de toldos quando a água caiu perto da casa dela, não podíamos permitir que São Pedro estragasse sei lá que química feita no cabelo dela, os cabeleireiros estão pela hora da morte, é preciso defender com unhas e dentes o direito a ser cabelo tobogã, mesmo desconfiando que se tiver ondas ou cachos por trás de escovas devam ser mais impactantes, mas como lutar contra a opressão dos lisos? Nem admitindo nossas raízes africanas...
As raízes... Fomos juntas a um show da Fanta Konatê e dançamos nossa ascendência na grama do Museu da Casa Brasileira. Mexer o esqueleto! Ela me introduziu ao samba rock no Teatro Mars, no coração do Bixiga, onde depois tentei fazer aulas de tecido, mas nem o corpo e nem a falta de grana colaboraram. Fomos tiradas para dançar salsa no Pacha Ynti, também na Bela Vista, matando a fome da madrugada na irresistível Augusta.
Fominha? Comemos uma pizza entre amigos na Cantina do Mário, no Ipiranga, onde vivi, fugi e voltei. Amigas que depois atualizaram juntas o saudoso blog Clube da Lulu. Colecionamos histórias impublicáveis, que devidamente editadas se tornaram matéria prima das peças que escrevi sobre o universo feminino. Estas que ainda não rendem o suficiente para conferir o casório da estagiária da minha vida em Vina Del Mar, onde aposto que estará deslumbrante no fim de semana, imagino que com violinos e flores ao redor, vestidinho de parar o trânsito e vinho o suficiente para fazer muito convidado brazuca chorar a cântaros e os chilenos metidos a europeus estranharem o quanto somos passionais exaltados.
Como bruxinha fada madrinha que disfarçou enquanto ela fazia teste online no expediente, desejo viagem o suficiente para cobrir uma parede com fotos de recordação, que dancem até os músicos pedirem arrego, que bebam até não pararem de rir, que abracem inclusive os parentes e amigos que só encontraram no batizado, que se deliciem com gostosuras de festa, que planejem filhos e projetos pessoais em dupla imbatível, que tenham surpresas de encher os olhos abrindo presentes, que as tias mineiras levem broa, que os chilenos recitem Neruda, que o padre fique sem palavras diante de tanto amor na frente dele e que definitivamente seja menos corporativa mineirinha e estude gastronomia para em breve promovermos uma orgia gastronômica juntas. E que vocês curtam frio a dois que é a glória, glória, aleluia! Frio que já passamos em Paranapiacaba, uma vilinha inglesa perto de Santo André, com músicas e comidinhas marcantes, como nossa amizade.

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