sábado, 9 de fevereiro de 2013

Já calibrei o conteúdo: hora de fazer o acabamento

Uma colega de profissão dizia que se me arrumasse ia continuar inteligente. Dizia que não duvidava disso, mas que queria que gostassem do meu conteúdo, não da minha casca. Então um pouco para conquistar o amor do meu pai pé no peito que era sindicalista e outro tanto por admirar as super mulheres de carteirinha virei feminista xiita: além de ler e assistir o que pude sobre Pagu, Olga Benário, Anita Garibaldi, Frida, Rosa Luxemburgo, era uma "bicha grila retardatária" e me recusava a render às "peruices" às quais uma parcela significativa da mulherada está "em casa": me maquiar, depilar, fazer unha, cozinhar feito bruxa encantada...
Mas aos 45 do segundo tempo, depois de estudar maquiagem no técnico de apresentadora do Senac e na licenciatura de artes cênicas da Faculdade Paulista de Artes finalmente caiu a ficha de como fazer por minha conta e risco. Tem saído a contento: engana que não sou tão nova em entrevista e é meio mágico quando quem interessa repara nestes detalhes.
A maníaca aqui ainda come as unhas... Mas já me diverti horrores com a psicóloga leiga da manicure, pesquisando unha inglesinha, que lembra a francesinha, mas brinca mais com as cores, experimentado várias opções nas mãos dela e minhas, tentando vermelho e rosa, desandando na mistura, acertando a mão com roxos de diferentes tons e fazendo piada do inimaginável. Além de fazer noite "mulherzinha" com a prima e deixando que ela pusesse cores no que me sobrou de unha.
A depilação é um capítulo à parte. Já escrevi um milhão de vezes que sempre quero ir com amigas, para segurar nas mãos de cada uma ao invés de agarrar a maca, quem sabe não berrar o suficiente para que a depiladora perca as clientes de cabeleireiro e manicure lá fora. Só que desta vez... A tal cera marroquina com seu cheiro que me senti "na incrível fábrica de chocolate", o talento da depiladora para terapeuta informal... Quando percebi consegui como "nunca antes na história deste país" deixar um bigodinho de Hitler!
E depois de um semestre apanhando das panelas na cozinha, de repente, elas estão a meu favor e amigos, primos, "amigo arco íris" estão repetindo e até achando que pego alguém pelo estômago. A alquimia wicca veio para ficar, pois minha professora de contação de histórias tinha muita razão quando dizia que querer cozinhar para nós é sinal de que a auto estima está em dia. Como merecemos este agrado!
Um olharzinho de artista plástica e enquadrado de fotógrafa tem dado o ar da graça, ainda que após muitas ideias soltas e irremediavelmente perdidas nos estudos de teatro, cursos e oficinas de foto, cerâmica e afins. Pintei uma garrafa de vinho que virou um vaso "pós dramático" (como tudo que não compreendemos no palco). Um exame de retina está para virar um quadro aqui. A bandana da última várzea que trabalhei deixou de me irritar e encapará a caixinha de força. Os caixotes de madeira, que ganharam cola ecológica, finalmente se tornarão a "estante alternativa" que venho mirabolando. E com dó da minha câmera ter dado pau, tenho fotografado a rodo o que nem pensei que pudesse render imagem interessante com o celularzinho meia boca mesmo. Quem diria que aquela que ouviu da mãe que "se desinibisse mais com o teatro para a TV comunitária que abastecíamos com exercícios na primeira faculdade faria matéria pelada", de repente, não mais que de repente quer mergulhar em artes introspectivas, ou como sempre brinquei "autistas".
Depois de um tempo significativo ouvindo o chamado para voltar a fazer massagem, que é terapêutico para quem faz e recebe, finalmente "coloquei a mão no músculo". E ganhei de volta, mexi com a postura na motoca e com toda a interação posterior. Coloquei minha dor na árvore para cuidar da que o outro sentia e "sublimei" o que não podia processar naquela noite.
"Milhões de anos" depois de salivar vendo os ciclistas cruzando a cidade na magrela e tomando vento no rosto, subi numa para vencer o medo de despencar. Não, não tive infância. Pedi uma "biquetinha" e ganhei aquelas antigas "tonquinhas" de três rodinhas, só que para mim estava implícito a evolução para uma de duas. Que nunca veio. Ao menos na última aula, depois de seis anos enferrujada sem um personal biker, quando terminei com a impressão que até ia em linha reta, mas caía ao virar, consegui meter o pé no chão antes de desabar e andar o que...? Dois ou três metros antes de descer do pedal para o chão. Já é uma melhora. Só preciso fazer a carteirinha online para alugar as bikes que tenho visto em vários pontos e tem possibilidade de deixar noutro canto.
Também ando na fase mais apaixonada do que nunca pela dança. Experimentei tribal, dois tipos diferentes de indiana, voltei à de salão para matar as saudades do forró e samba de gafieira e senti a graça de no momento em que a mente sai para tomar um café, virar a dança. A que parecia que não conseguiríamos, mas se torna a própria meditação.
"Mulherei" com um atraso significativo, mas como diria meu colega "antes tarde do que mais tarde". E admitindo que a psico tinha razão, pois não perdoei meu pai, sou manipuladora e quando ele é pé no peito eu sou na porta, ouvi a recomendação de uma técnica que já tinha sentido na terapia de grupo como a solução para nosso impasse: a do abraço. E na última vez em que ele me pegou de calças curtas numa situação para lá de constrangedora, em que fui ao encontro dele querendo soltar os cachorros, enxerguei o menino, que não se tocaram que precisava de cafuné quando dava piti na infância. Ao invés de partir para a porradaria verbal, abracei e milagrosamente a carona não rendeu mais um bate boca para a coleção.
Mas virar as dores do avesso e de ponta cabeça com a psico tem calibrado meu olhar para além da família. Ver o parceiro como menino não superestima o que carinho e atenção podem fazer pela minha criança ferida. E quando cuido da dor alheia, a minha pára de latejar.
Neste feriado fazendo psicanálise com família praticamente "ganhei no caça níquel" zilhares de fichas caindo "tudo ao mesmo tempo aqui e agora": quando meu progenitor me batia quando caía e chorava, era como a girafa que dá coice no filhote para fazê-lo forte e bancar a feminista "desencanada do visu" foi uma maneira enviesada de não perder o amor dele, já que para autorama "presente de grego" da infância nunca dei bola. Ser artesanalmente caprichosa com a embalagem é um capricho que lustra o combalido depois de tanta paixonite durando até a página dois e nesta altura da vida, já cuidei tanto das curvas do meu cérebro que estou liberada para dar uma de "Barbie mal disfarçada", depois de me tocar na aula de cerâmica que era uma "peruinha encroada", pois reclamava do barro sujando esta unha que não tenho, pois como até me revoltar por ter detonado o trabalho da manicure. Quando me preocupei com os ralados no rosto quando desmaiei, deixei a "vaidosinha mal resolvida" vir à tona. Mas quer saber? Já ouvi muito que sou inteligente e não sei o que mais. Está na hora de ouvir que estou bonita, cheirosa, magra, o escambau. Meu pai não deixará de me amar por isso. Muito menos os demais representantes da ala masculina, que já foram mais que generosos com meu "estilinho hippie fora de época". E bem, se não me meti onde queria no mercado sendo cabeçóide, quem sabe espirrando um perfuminho e retocando o lápis?

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