terça-feira, 16 de abril de 2013

O que crio sobre Marcela...

Acordou com o gato dando uma rasante sob sua cabeça. Não deviam ser seis da manhã ainda e ele já dava sinais de ter barbarizado a casa. Marcela não teve tempo de se espreguiçar: o nariz dela indicava por bem dar um trato na casa, pois à tarde encontraria as amigas do Frank na tal roda de criatividade. Não conseguiria ser nada criativa deixando tudo de pernas para o ar.
Como sentiu lá no quarto, o pipi cat venceu. E o Eros Ramazoti - fala a verdade: quem é tão criativa para dar nome a um filhote? Pois bem, ele batizou ao menos três cômodos. Não via a hora dele tomar a última vacina e poder ser castrado. O irmão veterinário jurou que depois disso essa marcação de território acabaria.
Veja, bombril e cândida depois, Marcela jurou que poderia tirar uma soneca antes do sábado continuar. Mas como conseguiria pregar os olhos com aquele perfume "baixou a Amélia em mim"? Resolveu se livrar daquele odor, antes de ficar com falta de ar, como sua diarista dias atrás.
Banho é bom, mas acorda. E tinha que despistar o sono mesmo, pois o bichano estava a 220 volts  Quis brincar, cafuné na barriga, reinventar o esconde-esconde, escalar as plantas, tirar os enfeites de lugar...
"Meu Deus de onde tiraram essa ideia que um gato pode nos acelerar a saída do processo de luto? Me deixa criar raízes no sofá Eros, que espero o fim do mundo em ribanceira para morrer encostada", pensou Marcela.
Lembrou do colega de trabalho contando da teoria recente que "há cada vez mais crianças hiperativas para tirar os adultos de suas frequentes letargias depressivas". E não é que faz sentido? Tinha uma criança em casa, mais barata, que a obrigava a correr de lá para cá e "botar a velha e desbotada depressão pós perda do pai na árvore do quintal" para tentar - só tentar - acompanhar o ritmo do filhote.
De repente, se pegou cozinhando. Planejou levar alguma coisa à roda de criatividade, mas o que? Tinha virado uma pessoa "mono": fazia tudo para apenas um comer e perdeu a mão de aumentar as receitas.
Trocou umas fotos de lugar com os miados do bichado como trilha sonora de fundo. Limpou até o que ele não sujou. Falou com o Eros como se tivesse gente em casa. Dançou com o cabo de vassoura e o gato se esfregou em seu pé. Ah! O primo que quando perdeu a mãe diz que de repente foi seguindo o gato da irmã até o banho de sol dele na varanda e quando deu por si, melhorou da perda da tia. Será que foi ele que arrumou o filhote? Eros se joga no sol. Por via das dúvidas, não custa tentar. Marcela põe os pés naqueles raios quentinhos.

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