quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

De como driblar petulância do JK Iguatemi

Depois de uma entrevista com fome em meio a todos os prédios comerciais do mundo te oprimindo num sol esturricante, com medo de desmaiar até o trem, a única possibilidade de evitar cair como na semana anterior foi parar forçosamente no Shopping JK Iguatemi. Lembra do dia em que passou na Daslu e trabalhava perto, só para conferir de perto a petulância local. São vizinhos.
Para combinar com a cidade em que está e o cruzamento da Marginal com a avenida que o batiza, este centro de compras é pensado para os carros. Encontrou a entrada de pedestres, não sem antes passar sem escapatória por uma saída de ar e se sentir a Marilyn Monroe ruiva, com a saia querendo grudar no seu pescoço. Ao menos não havia seguranças por perto para rir do mico. Já os carros... Bem, nem tudo pode ser perfeito.
Acreditou que tinha entrado só para descobrir os restaurantes que frequentava quando era repórter de TI e negócios e as fontes eram generosas: não podia ser possível que houvesse opção à altura do seu desemprego temporário. Mas acabou encontrando uma natureba razoável. Avisaram que o crepe era pequeno. Adicionou um suco com desconto no outro cartão. Apostou na recomendação da amiga que quando é massa integral, não está morrendo de fome menos de três horas depois. Bem, seu estômago parece aquele leão mugindo no começo dos filmes da MGM, quer dizer: não foi bem assim.
Acabou andando mais do que deveria no shopping. Lembrando quando a tia a levava nestes passeios que não eram para o seu bico, mas gostava da companhia dela mesmo assim: foi quem ensinou a gostar da Madonna e do U2 e não herdar os preconceitos provincianos do pai. Juntas investigaram o que vinha na cobertura do sorvete que na época era o único com farofa. A outra tia levou as sobrinhas à exaustão no Ibirapuera e, engraçado, o legal nem era a visita em si, mas simplesmente pegar o ônibus e tomar sorvete de brigadeiro na Americanas: obviamente nunca mais teve o mesmo gosto.
Como se sente oprimida no Park Shopping São Caetano perto de casa, achou que lá seria pior. Às vezes não entende como a mãe gosta só de ver vitrine, já que se sente uma consumista enrustida - sempre encontra coisa que gostaria e tem que voltar para casa e fazer chá de alho para matar as lombrigas. Desta vez suspirou aliviada: nem tanto, só gostou de dois vestidos, que juntos custavam mais de R$ 1000.
Lembrou da professora Cristina Mutarelli, pois os frequentadores lembravam uma definição dela: "tinham uma cara de quem comeu muita proteína na infância". E uns figurinos de quem foi muito para a Disney na aborrescência. Assim como os mendigos são invisíveis para muitos da classe mérdia, também se sentiu invisível para eles.
Muito lustre exagerado, até na drogaria. Tinha umas lojas misteriosas, com vitrine cheia de taças e nem dentro ou fora do shopping foi descoberta uma entrada para ela (ficava na saída). Outras até tinham esse mistério, mas avisavam na entrada que ainda estavam fechadas. Lembrou do compadre que tinha estudado técnicas de varejo, pois viu aplicada uma lá: os chãos parecem ter sido lavados com overdose de cândida, que é para dar medo de cair, andar devagar e ver tudo quanto é vitrine.
Dinheiro não é sinônimo de bom gosto. Uns laços dourados estavam ligeiramente over atrás de uns vidros. Outras tinham aquelas paredes de um quase irregular proposital, que a tia que levou muito para esse tipo de passeio também fez na casa do interior. Viu uma com uma exclamação meio carnavalesca que achou bem bolada. Muitas lembravam editorias de moda, como a que ilustra esse post.
Ficou chocada por encontrar uma Hering. Pensou que fosse quase marca de pião de chão. E não se conformou de achar mais de uma Zara. Eles não trabalhavam com mão de obra escrava? Não vai acontecer nada com estes comerciantes mercenários? A vista de São Paulo lá de cima é muito da bonita, mas tem que ter "olhos para ver".
Como rico gosta de joia hã? Zilhares de joalherias. Se tivesse dinheiro compraria aquelas bio jóias, que são tão absurdamente bonitas, misturando materiais naturais e preciosos, que quando divulgou conseguiu simplesmente o Jornal Nacional com o projeto. Uma coisa exclusiva, rara, que dava exposição e a mídia mais disputada do País. Mas gosto não se discute, se lamenta!
A praça de alimentação tinha uma coisa rara neste setor: espaço entre as mesas e cadeiras. E era tanta madeira nos restaurantes que metade da Mata Atlântica restante deve ter servido para tornar essa região com menos cara de "comendo somos todos iguais". Qual era o filósofo que achava que devíamos nos esconder para comer, pois era tão vexatório quanto ir ao banheiro?.
Entrou num estande da Samsung encantada com uns desenhos de rostos e uma espécie de móbile intitulado Art Gallery. Mas como era de se esperar em se tratando de Iguatemi, desconfiaram que a visitante não tinha cacife para mais do que xeretar e foi deixada às moscas. Não resistiu e perguntou para um vendedor, que disse se tratar somente de uma decoração. Está explicado. Falar o que com quem gosta mais do enfeite do que do produto?
Claro que não conhecia a maioria das lojas, mas era de se esperar, em se tratando de uma pessoa cujo guarda roupa é composto de peças apertadas em cima da prima magérrima e peças folgadas em baixo da tia larga. Mesmo assim considera-se uma privilegiada por ter parentes de bom gosto, consumistas e generosas, já que a grande maioria do que ganha ela ama de paixão. E se elas que podem circular nesses circutos de compras abastados não falam da maioria dessas marcas, tem coisa melhor e mais barata.
O mais engraçado foi ver na entrada um carro com uma marca e cismar que a Gucci tinha personalizado um Ford Ka. Não podia ser, a demostradora falou que eram pouquíssimas unidades exclusivas, essa marca tem o que com carro popular? Na saída teve que apurar esse ruído na comunicação: era o 500 (leia com sotaque italiano). Ah tá. Se é assim, então faz sentido.

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