domingo, 9 de setembro de 2012

Paixão budista

As avós têm razão. Não adianta apressar o curso do rio, ele segue seu próprio ritmo. Numa cadência própria, à revelia de qualquer desejo inquieto. Uma lembrancinha com ar indígena passou os últimos dois anos aguardando comigo o momento do curso do rio vir a meu favor. Este presente e um gosto de surpresa e expectativa. Mensagens meio perdidas pela impessoalidade da Internet. Reencontros desencontrados. E anos depois, a música mexe com as inquietações mais fundas, rende debates, nova peça, discussões que poderiam varar a madrugada, não fosse a escassez da condução pública. Posições libertárias tão similares. A concordância com o mesmo mestre indiano. Cafuné e abraço. Dedos que dançam com cabelos. O primo está certo: depois que fez o que tinha que ser feito, deixa fazer a curva do rio, se tiver que voltar, retornará. É lugar comum, mas verdadeiro: quando menos se espera. De novo o gosto, já era de se esperar, mas... Renovado. O aconchego. Pela primeira vez, olhar o movimento que provoca em minha energia e entender: a paixão é praticamente por mim mesma. Não ver muita diferença entre um toque ou outro, mas entender: é a inteligência zodiacamente previsível que embriaga. Agitar trabalho em conjunto. Filme antigo, com novas cores. Ligeiro distanciamento. Como quem entende de cinema e vai à sala escura analisando luz e som, perde-se um pouco a graça, mas fica-se menos refém do sentimento, tão familiar e ao mesmo tempo tão novo. Depois de tanta prosa eletrônica, bateu na retina diferente. Uma visão menos nublada, nem tão adolescente, de óculos mais limpos. Mas nem por isso, menos interessada. Reencontro adiado, gosto de criança com o pirulito tomado da boca. A cor, o som, são padrões repetitivos. Eternamente irresistíveis. Sinceridade o suficiente para não perder os pés do chão, não disparar em vertigem convulsiva. E ainda assim, experimentar a saudade mais clichê do mundo. Como cantaria Legião Urbana: "...vamos fazer um filme"? Vontade de pedir para ouvir as cordas em vibração íntima e intransferível. A incerteza sem pressa.

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