terça-feira, 1 de abril de 2014

Ode passional à maresia

Quando meus olhos acordam no mar esta quarta, é como se Itararé dissesse: como você aguenta tanto tempo longe? Quem disse que aguento? - devolve minha paixão meio mineira, que quando revê esse mundão azul, quer perguntar para quem estiver por perto: "me ajuda a ver"? Uma vez ouvi uma amiga da faculdade dizer que tinha acordado a fim de ir para a praia e desceu a serra. Guardei anos essa sangria desatada de falar com o mar a sós, tive que driblar boa vontade familiar para chegar a São Vicente só eu e Buda, como quem avisa: "agora maresia, somos eu e você". O bate e volta teve episódios dignos de sessão da tarde escrachada: condicionador vazando na bolsa, o bom e velho açaí dando enjoo às dez e tanto da noite, a fechadura me
trancando na kit net a manhã toda incomunicável... Lá para a hora do almoço fiz como uma colega de faculdade e atravessei a avenida meio de pijama: de biquini e cueca samba canção. Na praia, tudo se releva. Meu parceiro "macumbeiro" perguntou ontem que oferenda fiz à Iemanja e no auge da minha falta de verba, surrupiei uma flor e fui soltando suas pétalas com minhas necessidades. A princípio, as que voltavam me faziam pensar que estavam sendo rejeitadas Mas uma das mais importantes foi mar adentro. E a poluição pode ter atrapalhado o resto de ir para seu rumo certo. Isso é que pode ser chamado de "precisão" de mar: embarquei com

folha, tranqueirinhas não identificadas e tudo o mais! Perdõa pele! Ao sinal de um caiçara recuei: aquela não parecia uma região favorável ao mergulho, próximo do teleférico da praia. Que dor no coração dele não estar funcionando! Fui me afastando, lá perto da Ilha Porchat me animei e tchibum! Tem coisas que só a maresia cura. Até o cheiro dela já aliviou coisas ontem. Estava quase irresistível o ímpeto de me meter num quiosque e pedir peixe. Por isso fugi para uma padaria e almocei um omelete. Paulistano demais... Mas o açaí na tigela caiu tão pesado, enjoando na véspera que foi quase uma precaução. Não demandei somente: agradeci também. Privilégio o marzão assim, quase só meu, sem concorrência, como gosto da igreja, eu e Deus, sem cantoria, a torcida do Flamengo concorrendo pelo ouvido do Senhor. Os moradores devem ter me estranhado falando com Iemanjá, soltando pétalas aqui e ali. Mas a marca de sol no colo voltou quase como um aviso enigmático: ouvimos, ó criança crescida! Quando somos muito branquinhos, sempre descobrimos algum lugar que não foi protegido o suficiente. Tentei contatar amigos aqui e ali, mas era uma noite e tarde só azul e eu. O mar manda lembranças. Ele é como Deus: eles sem nós, coninuam tudo que são... Já nós sem os dois... Adoece a alma.

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