terça-feira, 2 de outubro de 2012

Do Mesmo Tecido da Infância


Ainda somos as mesmas
que enterrávamos passarinhos no campo
pois principalmente os animais
vão para o céu
Alguns filhos, algumas lágrimas
Dores que já marcaram a pele
Medo que mudou a cor do cabelo
Uma ou duas páginas publicadas
Alguns amores desfeitos pelo caminho
Um cão que faz as vezes de filho
E não recebe a atenção devida
Ou um filho que tira de letra
o que tira o rebolado do adulto
Umas paixões ensurdecedoras
Umas amizades que se esvaíram
Mas ainda somos as mesmas
que enterrrávamos passarinhos no campo
O respirar cheiro de mato
que cura todas as feridas
Cursos terminados à ferro e à fogo
Outros abandonados com dor no coração
Saudades mais ou menos esquecidas
Viagens emergenciais
outras adiadas e tão sonhadas
Algumas impensadas para contar aos netos
Ainda somos as mesmas
que enterrávamos passarinhos no campo
e acreditamos quando nos prometem
um amor como na época
dos dentes de leite
Saudade doída da família
que tem cheiro de café, chuva e terra vermelha
Uma fortaleza dissimulada segue adiante
segurando a queda da água salgada
Mas às vezes deságua...
Numa exposição de grafite
Ainda somos as mesmas
que enterrávamos passarinhos no campo.
Francine Brandão

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