domingo, 8 de junho de 2014

"Planeta Terra Chamando..."

A literatura me carregou para uma lembrança boa: ir à casa da madrinha de caderno, lápis, canetinha... Brincar com os primos, meus manos adotados até hoje, mas a tia lembrar que a visita terminava registrada no meu caderno, com o título de "minha festa na madrinha". Ligia Bojunga me catapultou bonito pros tempos de Vila Industrial e Guarulhos. Talvez por este ano não ter conseguido ligar pra tia no dia das mães, como costumo fazer com as irmãs do meu pai, que muitas vezes fizeram as vezes de na minha infância.
Pouco depois foi o Marcelo Vassalo, com sua fantatiosa lembrança de brincadeira na praia com o pai que me remeteu aos túneis que cavei com estes mesmos primos, na reforma ou construção da casa da madrinha, quando brincávamos com aqueles bonequinhos "secos por uma guerra sem motivo" e por fim eles terminavam me enterrando num buracão de areia. Era uma luta inglória uma mulher contra três irmãos, que só foram brigar adultos, quando o fundamentalismo religioso respingou entre os três mosqueteiros da minha infância.
Devolvendo Mirna Pinsky às prateleiras lembrei que na infância depois de devorar algum livro dela mandei uma carta, fui respondida e ando revisitando eletronicamente este hábito de querer entrar em contato com o autor, por isso também escrevi ao André Neves depois de ler Tom, um dos indicados como melhores livros de 2013 pela revista Crescer. Fui atraída pelo apelido do meu melhor amigo, captei nas entrelinhas um significado pro personagem ser tão encimesmado, depois os desenhos me levaram pra outro entendimento.
Me refestelando nas prateleiras de biblioteca infanto juvenil, dou razão à ex chefe: os designers e desenhistas é que são felizes! Nostalgia de não ter parado de fazer histórias em quadrinhos na infância, talvez. Esse "paraisinho" não tem o cheiro daquelas bibliotecas em que esqueci o tempo e preenchi muitos cartões de empréstimo na infância. Nem os livros infantis de quando sonhava em ser desenhista tinham desenhos tão ricos. Que milagre! Alguma coisa não era melhor na minha época...
Levantei linhas mais lúdicas da Miriam Leitão (que quem diria, além de analisar o petróleo do barril Brent, também defende os pássaros), Graciliano Ramos (nem só de Memórias do Cárcere vive um grande escritor) e Marina Colasanti (associei Breve História de um Pequeno Amor ao Veludinho que li na infância, mas louvado seja Deus, encontrei um final menos chororô).
Zeca era Diferente nos alivia da síndrome de ser a ovelha vermelha da família, até dá razão à amiga que consolava: "num mundo doente, não é mérito nenhum se encaixar nele". E Anjo do Lago tranquilizou a alma aflita carente de uma fé que estão olhando e cuidando de nós, nossos sonhos e missões, já que só enxergamos umas casas do tabuleiro, mas a providência divina vê o jogo inteiro.
Uma Chapeuzinho Vermelho fez rir alto - não muito bem vindo em ambiente de concentração e estudos - com a malandragem brazuca da clássica personagem das histórias ouvidas ao rodapé da cama, antes de pegar no sono. E aqueles desenhinhos com ar de fugidos da pré infância, que alento visual - e esperança à vista das minhas historinhas querendo sair da gaveta.
A negociação e saída criativa encontrada no impasse dos personagens de A Ponte dá espaço à metáfora de aplicação na vida: sempre podemos bolar uma resolução impensada que auxilie todos sem prejudicar as necessidades dos envolvidos.
Finalmente mergulhar na história que não nos contaram em 1822 foi reviver a encenação de Enfim, o Paraíso e rir lembrando da minissérie O Quinto dos Infernos. Começamos em várzea, como podemos fugir ao estigma de praticamente ter comprado a independência, de pouco conhecer a participação da heroína nordestina Quitéria e Leopoldina na independência e da "guerra" por nos separarmos de Portugal ter sido passada como um acontecimento pacífico?
Vô Renério e suas memórias encadernadas, primo Ignácio de Loyola Brandão e demais ratos das letrinhas familiares têm razão: as prateleiras, páginas impressas e desenhos evocativos da imaginação são as melhores companhias! O povo tem que me convocar pra bater cartão, pois como na pré infância, teimava em não deixar de ler ou escrever nem pra comer ou dormir...

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