domingo, 4 de maio de 2014

Faz um mês

Cheguei com minha pedagogia de botequim
eles foram dando pistas do que queriam
em empurrões, desenhos
gritros, abraços,
caneta na cabeça e elogios
Faz um mês
Numa tarde se envolvem na proposta
noutra enfiam a cabeça entre os braços
Numa noite perguntam sobre meu conteúdo
noutra escapam da sala
Faz um mês
Um divide paixões cênicas
outro desanima já na entrada
outra mostra as pinturas
outro questiona minha sobrevivência
outra dá pistas para ganhar atenção
outro estimula a desistir
outro se interessa pelo universo avesso ao dele
outra põe o preconceito na mesa
outra se mostra igualmente humana
outra é divertidamente irônica
Faz um mês
Tenho síndrome de abstinência de café
na ida ao banheiro, na procura de giz
na mexida no armário, na sentada para respirar
Faz um mês
Tem uns retornos mais rápidos
e descaradamente mais sinceros
Outras frustrações e pensamentos estreitos
sóbrios, entre um bolo e o lanche
Faz um mês
as informações se compartilham
que certeza não há quem tenha
grades e fechos lembram
teoria da arquitetura prisional
similar às dos hospícios
Faz um mês
minha letra continua caótica
indiferente aos cuidados ou atenção
o pó levanta uma falta de ar
velha de guerra
reaprendo a respirar
rezar mantra
praticar o nobre silêncio
Faz um mês
as ideias voam
fanfarronas
os espaços de troca
carecem de  brechas
os recursos faltam ali
mas podem ser rearanjados acolá
Faz um mês
perco instinto maternal
entre os que dirigem carteiras
escalam cortinas
fazem social no corredor
arremessam lixos
saltam cadeiras
brincam de MMA infantil
Faz um mês
volto a me exercitar
feito Cazuza
correnteza acima

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