terça-feira, 4 de março de 2014

Os filhos do Carnaval

Como já fomos concebidos sob confete e serpentina, temos ligeiro bode de bloco de rua. Saímos num e "já tá bom demais da conta, sô". Mas também nos recusamos a fazer "lição de casa" ou tocar vida prática. Trabalha-se o mínimo necessário, mas somente em caso de sangria desatada. Folia-se uma cota obrigatória, que é pra não fazer feio de ter vindo ao mundo em pleno "esquindô, esquindô". Recebe-se uns amigos que é a atividade mais sensacional que já inventaram nesse mundão de meu Deus. E de preferência corre-se de hospital "sem hermano cucaracho", que é pra não passar uma dose dispensável de raiva (ou comparece ao PS com seu "heroi da madrugada", quando o choque evita de rodar a baiana, que é a resposta merecida de médica preguicenta que não pode seguir orientação da farmacêutica por ser "pouca coisa abaixo de Deus"). Medita-se doses homeopáticas. Não se perde da amiga, que é pra não escrever desesperada pra Deus quando ela ligar pra lá de Bagdá e vocês estiverem a léguas de distância, sem dinheiro uma da outra. Fica-se horrores na horizontal. Engole-se TVzinha de quinta categoria por razões que só a paixão ousa explicar. Confere-se com a mãe que deve ser filha do Carnaval, foi feita num feriado, mas o sono urgindo impede uma procura com mais acuidade, afinal, é o feriado mais longo do calendário, onde se desculpa todo movimento bicho preguiça irreversível. Faz-se contatos imaginários de 2o grau pela benta Internet, mas os camaradas web podem estar treinando pra aprontar filhos do Carnaval e a gente releva, se entregra pra essa força meio Dorival Caymi, em que se pára de ouvir a Vila do Sapo histérica, com seus funks e sambas de sempre. Cachorros incomodam os que fazem filhos do Carnaval. A mãe estranha tanto sono. Mas os filhos do Carnaval não. Farão os melhores tratamentos pra cútis: abraçar Morpheu. Os filhos do Carnaval ainda lamentam as estratosféricas distâncias da cidade e os dois dias querendo fugir pra casa do amigo pra conferir se a gatinha sobe na barriga de novo. Os filhos do Carnaval criam sua própria fantasia em memória dos bailes infantis, caracterizados de Pierrô em clubes família, onde ainda não se agarrava a três por quatro. Os filhos do Carnaval desconfiam que não deviam negar uma folia e que Capricornianos podem estar entre eles. Mas o barato de tratar três coisas ao mesmo tempo é menos periculoso que encher a lata na rua. Os filhos do Carnaval se ressentem do namorado doente. Cama também te amo e estou quase chegando. Guenta a bronca. Arrumar o quarto? Não inventa camarada, que coisas cotidianas não se resolve no Carnaval. Filhos do Carnaval imaginam que deitariam e rolariam no maior bloco do mundo, de Recife, preferencialmente entre primos. Mas já ficaram com claustrofobia da gentarada em plena São Paulo, menos muvucada. Alguns filhos do Carnaval se percebem "semi novo" e mergulham nos lençois que é pra não desperdiçar água salgada num feriado tão profano e ao mesmo tempo, bento pra caraca..

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