segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

À deriva tentando contato

Eu não me adaptei
muito embora tenha limado
os sonhos que tinha e os que não
no nível de mínima sobrevivência
Não me adequei
apesar de ter dado um estômago,
uma apêncite, um sono e lombar
Não me modelei
madruguei feriados
entreguei noites
varei madrugadas
Não me encaixei
perdi entrevistas
não escrevi livros
suspendi processos de criação
que pulsam há anos
e cada vez mais baixo
Não encaixei
deixei amigos na mão
briguei com amores
estive menos com a família
Tenho uma voz rouca
de tanto pedir, agradecer,
chorar e se abrir
a um Deus
que faz ouvidos moucos
Perdi a conta
de há quanto tempo
deixo a viagem, o curso,
a peça, o livro
para o tempo livre
que nunca chega
Poderia criar
um papel de parede
com os diplomas
que não serviriam
para mais que uma decoração
meio intelectual, meio alternativa
Abandonei meus afilhados
não tive os filhos
que me pediram
E não acredito mais
que foi por um bem maior
que era melhor para mim
que virão mehores
Encalhei meu barco
numa praia semi abandonada
de perguntas esperando a minha deixa
Nem mesmo a chuva
que aprendi a amar com meu avô
parece trazer nada de novo
Estou presa num looping
ouço as mesmas coisas
com míninas variações
E tentei à exaustão
Trabalhei com olhos,
barriga e perna
vazando, latejando
Pra ainda ter
quem acredite
que não me adapto
por rebeldia
intransigência
revolta
livre arbítrio
Hoje eu deitei no parque
cochilei embaixo das árvores
me integrei por cinco minutos
Onde Ele estava
quando me traíram
iludiram, mentiram?
Em que esquina
Ele soltou minha mão
e segui falando sozinha
com sua lembrança?

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