domingo, 7 de dezembro de 2014

A existência não pode estar assim tão enganada

A internet parece não saber que não quer mais conversar comigo. Mas deve desconfiar que sinto sua falta. É sua foto que surge a cada mensagem. Seu nome escapa por entre procuras. Seu sobrenome cai no colo entre um post e outro. Aprendi que eu também não sabia amar. Sigo improvisando. Não é todo ano que ficamos fragilizados e um companheiro de outra vida vai lá e discute contra grosseria em serviço público. E a nosso favor. Pronto, a "filhauniquice" aqui já interpretou enviesadamente: ganhei irmão mais velho sem que cantassem a bola preparando: "o gato vai subir no telhado"... Não. Você foi lá e já ocupou a parte que lhe cabia num coraçãozinho ressabiado, que até hoje mais late que oferece lambidas gratuitas. Retribuí como consegui àquela altura do campeonato: mimei gastronomicamente. A memória me engana. agora com a justificativa de ter ficado assumidamente "retrô". Teu scanner professoral detectou minha analfabetice emocional. Vimos filme zen. Rezamos. Mantramos. E a gata meditava entre nós. Que golpe baixo essa saudade dose dupla pior que whiskie a seco. Sem gelo. Nesse calor tropical de Meu Deus. Mas ok, me apaixonei por nosso clima aos 45 do segundo tempo, em terras gélido temperadas. Época boa para faxinar sua casa e lembrar o quanto amo limpeza com água. Deve ter a ver com a identificação com Oxum, feminina, das águas e sensibilidade. Descobri que sua versão livremente etílica dançava. Fazia rir. Dizia barbaridades. Divertia "azamiga". Tirava da manga no dia seguinte uma brincadeira para estancar meu choro pós ressaca. O inferno do excesso do meu choro, talvez já te cutucando a gastrite. Para aliviar a mão, massageio. É lá essa maneira de "por a mão na massa" numa tentativa de tatuar em ti "gosto, mas não tenho ideia como verbalizar sem chorar com essa chita me lembrando o diabo da casa do meu avô". Sinto retardatariamente pelos exageros meio astrológicos. É verdade, o mestre budista ensina a olhar o mapa, se espantar dele nos desnudar e atirá-lo ao fogo, pois posso me reinventar. A reforma íntima dos meus deslizes não ocorre em tempo hábil de não te ferir. Pode ser que os anos e anos de espiritismo não foram lá de grande serventia, Devo estar na pré infância espiritual. Mas em noites como essa, hiper sensíveis, desentendendo o que lateja e querer colo, lembro da tua mão segurando a minha e ensinando a ferro e fogo: "a existência não pode estar assim tão errada". Pode não mano. Que maneira tortuosa de se ensinar, mas está impresso aqui em cada célula, essa forma comedida de se gostar. Uma estranheza para essa veia passional exaltada familiar. Mas o oposto põe a gente noutro lugar de troca e crescimento. Conto história e lembro do seu olharzinho puxado se arrepiando numas vírgulas, travessões e dois pontos. Não era melhor, nem pior que a plateia atual. Essa só sua maneira introspectiva de troca. Para a qual esse drama de atriz sob holofote causa overdose. É um pouco melancólico não ter dividido o quanto dilatou minha forma de olhar e me por em teu lugar rindo e chorando com cena, take, esquete, sempre alternativos. Mas o ganho no falar e me colocar no mundo segue por vidas. Você não tem ideia, mas pintou com tinta corrida teus interlúdios silenciosos em mim. A ponto de querer pedir silêncio em ônibus ou madrugadas afora. A contemplação é um modo de ver o mundo em tons pasteis que combina com os cliques zen que vivencio "de quando em vez". Foi seu orgulho de sócio educador que engatilhou em mim uma paixão sangria desatada por criança, didática, lúdico e aprendizado conjunto. Teve até retorno inesperado, mas não é viável compartilharmos essas conquistas. Reinventei o olhar político há anos brochado com uma visão crítica que experienciei contigo, mas perdi em alguma esquina de militância desencantada. Não deve haver mais ninguém com quem estar próximo em quieta completude seja uma experiência mística de conexão fraternal como é contigo. Outro que leia meus pensamentos em pequenos desejos cotidianos ideológicos. Sua percepção do indigesto escancarado no meu não dito. A maneira como relativizava essas indignações passionais femininas. Mas você estava bem acostumado à prática desse gostar contraditório entre irmãos. E eu, não pude reaproveitar a experiência com amigos imaginários para esses desafios de expansão do emocional com irmãos que a vida joga no colo a toque de caixa. A literatura vira então essa maneira meio autista de sublimar o vácuo que suas ironias, lições, companheirismo e risadas escarificaram nalgum ponto inacessível de mim. Era paixão não brother. Ela não abre espaço de alegria com a felicidade alheia. Só de angústia. Tinha completude demais no estar perto para envolver sentimento adolescente. Mas no que é amorosamente relevante, minha habilidade verbal é nenhuma e chega em doses homeopáticas. Foi delusão, mas como era convincente!

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