domingo, 30 de junho de 2013

Ocupa Brasil

Na noite em que saí de uma colega acreditando que "os anjos estão entre nós e a identidade secreta deles é a de massoterapeutas", flutuei até o trem Vila Olímpia, onde devo ter chegado antes das 23h30. Mas a CPTM deu um chá de canseira de mais de meia hora. Quando chegamos à estação Pinheiros, o aviso eletrônico que "quebrou nossas pernas": a linha amarela já tinha encerrado as operações. Ficamos eu e um bando de passageiros, que também tinham tomado "caô" deste "transportezinho mequetrefe" a que somos submetidos questionando os funcionários. Um deles disse que teve um problema na linha.
- Tá, mas uma voz qualquer tinha que avisar lá nas outras pontas: vagão demora por causa sei lá do que, para os "palhacitos" aqui tomarem providências, descerem, pegarem ônibus, jangada e cipó, não depender de vocês. - reclamei, que voltei a fazer jus à minha fama de barraqueira
Vi um cara fazendo o que devíamos todos arriscar: tentar pular para dentro da estação Pinheiros de metrô. Defendo o Ocupa Brasil. O serviço público não te atendeu a contento? Faça "camping" no hospital, escola, estação, até que resolvam o problema: nem a saúde, educação ou transporte são de graça, muito pelo contrário, só de impostos são quase cinco meses da nossa produtividade anual.
Uma vez fiz isso no Beneficência Portuguesa, depois de uma semana de vai e vem e diagnósticos errados:
- Enquanto não resolverem a contradição de teimarem que é infecção de urina, eu tomar os remédios, vomitar e continuar com sintomas, não vou embora.
Tá, fiz o barraco na parte de convênio, mas tinha passado em hospital público em São Caetano, que se vangloria em sua síndrome "primeiromundista". E aqui mora o defeito que nos ferra há séculos - relevar inclusive o que não devíamos. Uma semana de palpites me mantendo ruim, dez dias de hospital, vinte em casa e apendicite suporada. Minha amiga que teve problema semelhante meteu o hospital no pau. Pq raios não fiz o mesmo? Pq consegui a plástica pra corrigir a barbeiragem médica pelo convênio. E daí? Empatei mais de um mês da minha vida nessa brincadeira e minha barriga nunca mais foi a mesma. Ocupa o posto de saúde!
Com o transporte, a mesma várzea. Trem e metrô não se entendem e deixam a gente sem conseguir as últimas conduções? Ocupa a estação. Não tem vaga na escola que presta perto de casa? Ocupa a secretaria. É nosso, estão nos assaltando a mão armada e muito pouco a que temos direito volta pra gente.
Que fizemos nós sem condução? Perguntamos pelas linhas do Terminal Pinheiros. Pensei em pegar a que ia até o Largo da Pólvora, noturna e sabe Deus, rezar por um que fosse a partir da Paulista ao Ipiranga, perto do Terminal Sacomã. Mas nada dele chegar. Me aconselharam a tentar pegar o Sacomã no Parque Dom Pedro, mas o motorista que ia para lá achava que não teria mais "carro desta linha no centro". E de lá, pedir pernoite para quem?
Um ônibus do outro lado piscava Via Paulista no letreiro luminoso. Me deu uns cinco minutos, mesmo desconfiando que ela já estava dormindo e liguei na meio tia, meio mãe. "Contei da missa a metade". Parti para a casa dela. Estamos errados, devíamos passar a noite protestando no trem Pinheiros. Nem procurar a ouvidoria eu fui. Este "empurra com a barriga" ainda acaba conosco.
O maior símbolo do que representa este Ocupa Brasil que imagino são os brasileiros tomando aqueles monumentos de Brasília, que sempre teve a fama de "manter o perigo lá nas cidades satélites". Sobe no "Deixa que eu Empurro", acampa no Pelourinho, empata o Cristo Redentor, lota a beira do Guaíba: toma que o País é teu.
Em tempo: minha tia seria uma mãe e tanto. Depois de trocentas horas de esporro por estar na rua meia noite e tralalá sem condução (ainda tem mais esta, o governo do Estado te dá chá de canseira no transporte e a culpa é tua!) ganhei uma camisa, um leave in e uma galocha. Está mais que escolada em bate assopra. Sabe Deus pq sou "aboxonada" por ela, deve se a força do sangue. E também da semelhança: tenho a cara dela no casamento dos meus pais, quase 4 décadas atrás. Só sei que estou na fase "nunca mais voto em ninguém". E ainda assim na última discussão política em que me vi no meio, "pedi o pinico": como diz minha tia, vamos falar de sapatinho. Que o tema estava indigesto demais para um sábado à noite.
E da várzea dos serviços públicos direto para o pão e circo: estava tão orgulhosa de não ouvir um fogo de artifício durante os jogos da Copa das Confederações, mas nesta noite em que jogamos "sabe Deus com quem", minha alegria se acabou e brazucas que não ganham nada com a vitória da seleção gastaram para comemorar a vitória de continuarmos com os serviços públicos à míngua, mas termos estádios de primeiro mundo pipocando nossos ouvidos e céu. Mas como diria minha ex marida, "esse assunto não precisa ir até o final". Dorme com esse barulho!

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