terça-feira, 5 de junho de 2012

Insônia criativa

Acintosamente você dorme. Devo confessar que invejo a capacidade de quem dá boa noite e já embarca rumo aos delírios idílicos mais criativos. Estava irriquieta demais para conseguir, como você amiga, o merecido e restaurador repouso noturno. Escrevi na agenda, como quem volta à adolescência - por para fora, seja digitalmente ou com a boa e velha caneta é sempre terapêutico. Acabei de ler Fora de Mim, da Martha Medeiros e achei meus finais de relação tão light, bem que minha tia tinha dito, não era romântica como a escritora gaúcha. Brinquei com seus gatos. Mas eles levaram horas para começar a miar e eu tentei adivinhar se reclamavam da falta de areia para o xixi, se queriam comida ou atenção mesmo. Assaltei sua geladeira e encarei uma maçã da Mônica - gozado como não dormir dá fome e a gente não está fazendo cáspita nenhuma! Também devorei o lanche que tinha me oferecido mais cedo e fiz uns dois chás. Baita propaganda enganosa do Doces Sonhos, não consegui nem ressonar meia horinha que fosse. Se tivesse a senha do seu computador, acho que escrevia meus projetos, o livro e a peça que ficam pulando feito macaquinhos no sótão em plena madrugada na minha cabecinha. Muito libertador você morar na Liberdade. E pensar que durante o dia as ruas próximas ficam o próprio inferno, entupidas de carro e gente. Na madruga todos me esnobam com seu sono comprido e profundo. Onde será que foi parar o meu? Podíamos ter uma tomadinha, um botão liga desliga, para fazer os neurônios "darem uma trégua" na marra. Encostei a porta do seu quarto e arrisquei um torpedo para três amigas irriquietas como eu. Uma retornou, com todos os bons conselhos do mundo para quem não se restabeleceu do cansaço do dia e pode fazer estragos em crise criativa insone. Mas os créditos não podiam ser tão generosos e claro, nos deixaram na mão. Testei todas as posições no sofá cama novo da minha anfitriã, claro, sem sucesso e ainda por cima, sozinha. Kama sutra solitário. A noite ia ser longa. Um filme talvez? Sou meio nó cega tecnológica para por em funcionamento sozinha esta "tevezinha" tão digital e high tech. Usei o ursinho de pelúcia que tinha me oferecido como almofada e também experimentei dormir abraçada, embora isso definitivamente não fosse "minha cara". Se desse corda para meu estômago, que fazia o mesmo escândalo daquele leão da MGM no começo dos filmes, acho que acabava com seu estoque de alimentos todinho. Contar carneirinhos? Nada do mundo animal me auxilia a cair nos braços de Morfeu. E seus gatinhos mostrando o quanto têm personalidades opostas: um mostra a barriguinha para ganhar cafuné, a outra, se encolhe, arisca. Seis horas e seu despertador só me lembra o quanto não dormi... Vamos lá, conseguir ingresso para ver Fernanda Montenegro onde agora moro, fim do Ipiranga. Será que você vai comigo em plena quase madrugada? Amiga é para estas horas "dificultosas": não está elétrica como eu, mas "devagar e sempre", se prepara para se estapear por uma entrada no CEU Meninos. A "viagem" também vai ser longa, se o Metrô e a SPTrans escancararem sua ineficácia no transporte público logo cedo. Mas só de ter com quem confidenciar minha exaustão, já é lucro! E "vamos nós" rumo a um dia cheio de coisinhas a por em ordem: comprar creme para o cabelo "black power ruivo" no paraíso da mulherada Ikesaki, resolver pendengas burrocráticas no Banco Santander (virou hispano-brazuca e jogou no lixo a saudisa eficiência do Real...), andar com meu filhote canino Bidu, rir do mestre de paciência meu pai...

Um comentário:

  1. AH! ERA ESSE QUE EU TAVA QUERENDO LEMBRAR AQUELE DIA!!!

    Nada a ver com as pistas que te dei... Foi o primeiro que li aqui... Uma delícia... Ou melhor, uma agonia! Narrada com a minúcia que me fez vivenciar os meus próprios episódios insones...

    "Acintosamente você dorme"! É isso mesmo!

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