quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Semi nova

Ficar mais velha em dezembro é adiantar as promessas de ano novo. Vou fazer exercício com maior frequência. Meditar mais. Parar de comer a unha. Não me render mais aos "bobajitos" quando estiver com fome emergencial  Abusarei menos da família. Não adiarei ideias e projetos profissionais.
Só que o primeiro presente do dia foi um tombo.
Vai o que, cara pálida? Há quantos anos mesmo escuto essas promessas? Preciso mesmo refrescar sua memória?
Daí comecei o dia de maneira inusitada: lavando louça, varrendo casa, dando um trato no banheiro, jogando lixo, pondo roupa na máquina e jogando o que não servia, não seria buscado, o que cutucava minha gastrite só de olhar. Até a trilha foi inovadora: um CD de samba ganho e nunca escutado - não é a trilha dos meus sonhos. mas serve bem para quando baixa a Amélia em mim - coisa rara!
Tem uma música, se não me engano da Zélia Duncan "não me reconheço mais... Suas roupas são outras... soltas de mim... as palavras da sua boca". Tem um estranhamento depois de comprar meu primeiro anti idade. E de repente, não mais do que de repente, querer ir à 25 de Março não para comprar figurino, acessório de cena, cenário, mas porta sabonete, tempero, medidor! A dona de casa demorou, mas chegou. Antes tarde do que mais tarde!
Como uma das resoluções internas é não reclamar mais, faço o balanço das vitórias diárias: a saúde voltou, tem departamento que estou parecendo até "aborrescente", agora cozinho ainda que apanhe das receitas e adaptações, os amigos mesmo mandaram bem nos últimos tempos, fiz uns três cursos de teatro este ano, não produzi metade do ano, mas estico a verba até 2012 acabar, cantei como estava querendo, levei a tragicomédia que me gerou para a terapia, não me deixei levar por impulsos de 5a categoria, aos trancos e barrancos estou voltando a me exercitar na unha, meditando o quanto meus 220 voltz me permitem, pela 1a vez curti minha entressafra, matei a lombriga da cerâmica, encerrei literariamente um ciclo insistente, deixei de dar uns murros em ponta de faca, neste fim de ano ri de uns dramas, voltei a estudar dramaturgia, ensaiei retomar meu projeto, cortei relações duvidosas e pelo menos me empenhei para me reconciliar com a comunicação.
Mas como brincou a professora de dramaturgia: onde é que isso vai dar? Lugar nenhum. Mas pela primeira vez, essa constatação não causa angústia. Tá, ninguém aguenta mais meus "Deus existe, mas não funciona", "fez uma experiência com a gente não deu certo e formos abandoados", "existe, mas não se envolve", "estamos à deriva", "a vida é um engodo com alguns momentos de idílio", mas o que posso fazer se é o clima que me bate depois de 21393218934 acordos em que entrei com a buzanfa e eles com o pé? Ok, a vida é impermanente, mas a minha é falta de educação. E como diz o provérbio sagitariano, já te disse mais de um milhão de vezes que nunca exagero. Oops. Não ia reclamar. Mas esta ironia que me é característica é tão irresistível.
Vou provar que é um ano novo. Caminhar. Meditar. Cozinhar e dar certo. Cortar o quanto meus pais são invasivos. Pintar a unha. Tirar umas possibilidades da gaveta. Preparar uns livros pra mandar para as editoras. Por limite quando não der conta. Aproveitar o Parque Chico Mendes e o Sesc São Caetano. Brincar mais com o Bidu. Ver mais minha família. Dar menos meu fígado para os trabalhos.
Vou?
Feliz promessas novas ruiva de estado de espírito.
P.S.: Terminei a faxina mudando tudo de lugar. A terapeuta diz que isso é disposição para renovar as emoções.



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