terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Estágios da Folia Experience à Punho num Feriado Fugindo da Muvuca e Caindo no Camarote Dela...

1- Você tem uma profunda compaixão dos colegas suburbanos que não dormem há milênios com os pancadões periféricos do fluxo e funk.

2- Reza pro padroeiro dos aventureiros que não se precaveram fazer com que a trilha te derrube na cama de exaustão.

3- Quer esfaquear a foliona que depois de mais de 10km na mata fechada ainda quer interagir com os fanfarrores interioranos pela cidade na volta.

4- Se pergunta como diabos esqueceu o imprescíndível óculos escuros no café da manhã do hotel.

5- Compreende o colega mochileiro que depois de muito camping europeu e refeições à base de latinha de atum não conseguia mais ver graça em museu nível Van Gogh pq corpo é realmente um troço que demanda muita manutenção.

6- Se pega ao pé duma cachoeira estonteante contando os minutos para voltar à cama a tempo do batidão de funk, agé e podreiras correlatas te despertar no auge do sono REM.

7- Desperta um amor infinito pelo sono perdido das mães, primas, tias, colegas, primas, amigas e vizinhas com os filhos ensurdecendo a madrugada delas.

8- Inicia um planejamento virginiano da próxima empreitada aventureira com a inclusão de "a caixa de som da festança tradicional local está na sacada do quarto barato que posso alugar?" entrando em destaque no check list.

9- Quer chorar quando perguntam pela sua falta de sono.

10- Pragueja todos os compositores e cantores de sucessos instantâneos da alta estação que duram até o Carnaval.

11- Quer assassinar quem pergunta pelas suas olheiras de quem não tem ideia do que é sono há... dois dias? O que seria mesmo noção de tempo e espaço?

12- Se veste na segunda ou terceira madruga insone para descer e fazer um barraco com gerente do hotel, autoridade local ou organizador da viagem.

13- É convencida pelo namorado que qualquer responsável local está bebendo ou pegando alguém, desiste e chora por um sonho, massagem relaxante ou qualquer coisa que o valha.

14- Teme quando percebe ter esquecido perigosamente em casa o concentrado natural 70% mais forte que a homeopatia que age contra a TPM, pois o movimento no baixo ventre não é nada animador.

15- Você acorda com algum refrão que impregna o córtex cerebral, tem uma ilusão de ótica da Anita dançando na mesinha do quarto e se enfia debaixo da cama.

16- Acredita que alguém que comete crimes sem dormir também devia ter direito a diminuição de pena, como parece ocorrrer com mulheres em TPM.

17 - Descobre que homens que dormem com caixa de som na janela sem roncar são ainda mais exasperadores que aqueles que roubam o ar da casa a cada ronco.

18- Vê a Claudinha Leitte convidando para acompanhar a música em seu banheiro e se esconde atrás do cobertor.

19 - Você começa a procurar o clima de lua de mel do começo da viagem atrás do guarda roupa.

20 - Curte mais a pedra na qual faz a pose "morry" à beira de uma cachoeira de 60 metros que a paisagem propriamente dita.

21- Se perdõa quando a parceira de picada na selva despenca na mesma pedra e vê a cachoeira pela câmera do celular, dando pistas de que deve estar dormindo, logo, talvez deva se relevar por estar exaurida.

22- Começa enfiando a cabeça na cachoeira e termia nem esticando o pé para dentro d'água.

23- Planeja contratar "alagoanos de olhos amarelos" para dar uma coça na foliã que chama para o bloco de rua chegando à terra natal depois de dias sem dormir e brincando de bandeirante na mata.

24- Sente-se muito herdeira da ranzinice da tia quando se pega questionando como foi parar numa excursão com o pique de formandos do fundamental I em plena fase "semi nova" da vida.

25- Você tenta entrar em contato com os deputados que elegeu e pedir projeto de pena de morte para
Alguém tem saco de dormir inflável?
quem compõe ou canta Lepo Lepo ou similares.

26- Quer militar na rua interiorana contra a machistice da dança funk ao ouvir vozes femininas pedindo que toquem aos gritos essa escória musical, quando se pega sem forças para ir até a janela.

27- Avalia seriamente não ter filhos: dois dias sem dormir já dão para descompensar qualquer budista.

28- Você "late" quando querem tirar fotinha da confratetnização dos viajantes na escadaria meio histórica da cidade, já que essa socialização de 10, 15 minutos significa um déficit comprometedor de sono no ônibus.

29- Lembra de na próxima viagem levantar qual o diabo do gosto musical do motorista.

30- Acha o bloco o movimento carnavalesco mais democrático do mundo, pois impede que descanse diferentes bairros em momentos e dias distintos do feriadão.

31- É incapaz de conversar sem rosnar após três dias de tortura chinesa corta sono com vibração de Ara Ketu no quarto. Chora pois na cidade não existe Psiu para reclamações de som enlouquecedor de madrugada

32- Quer abrir a janela e atirar qualquer cadeira, mesa ou mala que encontrar da cama até lá. Se perdõa quando lembra da amiga que queria assassinar passarinhos na janela da vila em que vivia quando a gravidez dela também a impedia de dormir minimamente.

33- Acha que o ermitão que morreu no meio da trilha até a cachoeira local do Miguel Careca se auto exilou da cidade por causa do gosto musical dela. Desconfia que ele bebeu até a morte quando começaram a funkar até o chão.

34- Reza por todos os torturados sem dormir da ditadura brasileira, latina e prisões tilo Guantánamo.

35- Não sabe se é mais desesperador no ônibus tomado pelo sertanejo corno inconformado ou no quarto ocupado pelo funk e axés "tira o pé do chão gente".

36- Sente que deve ter um carma pesado quando lembra que prometeu nunca se enfiar no maior feriado nacional entre foliões que topam qualquer música, bebida e boca e se vê sentada no hotel bebendo água com o namorado após perder a última nesga de sono, com impressão que se sair na calçada será carregada na próxima repetição de Alegria.

37- Quando o namorado desconfia que acabou às três da matina, você tira sarro pedindo auxílio místico "só se Deus existir".

38- Amaldiçoa seus ouvidos de tuberculosa quando ouve rescaldo da folia sabe Deus quantas ruas para lá do hotel.

39- Risca filhos dos seus sonhos futuros. Não tem design físico para anos ou meses insones.

40- Tem certeza que o namorado blefou na diferença de idade, pensa em checar o documento enquanto ele prossegue em sono REM após horas de show estuprando a orelha, mas não teme descobrir que será processada por pedofilia e esconde-se atrás do criado mudo.

41- Quer atirar o celular n'água quando confere a cara de insone das fotos em meio a paisagens idílicas.

42- Pensa se é verdade que existe o personal do sono que leu num texto similar duma mãe no Brasil Post, cujo filho luta ininterruptamente contra o cansaço físico. Não tem força de esticar o braço e pegar o celular para procurar.

43- Repetir como um mantra "são só uns diazinhos...e se fosse um filho para todo o sempre com choro e pique noturnos no auge do meu cansaço? Já passou, foi só um sono ruim".

44- Quando leva o dia picando mato, escorregando, sendo mordida antes de chegar à cachoeira e caindo, brinca com os colegas "estou achando que a natureza está merecendo o que estamos fazendo com ela".

45- Confessa ao namorado que não sabe quando conseguirá contar a história Árvore Generosa convincentemente outra vez.

46- Se acha até quase simpática, brincalhona e persistente quando não tem mais notícias de um casal da excursão que disparou em desabalada carreira já no segundo dia.

47- Não tem ideia do que doi mais, se a têmpora, a lombar, pernas, baixo ventre ou...o córtex crebral?!

48- No penúltimo dia, quando chega febril da chuva, trilha, barro, picadas, escorregões, tenta medir sua temperatura com o termômetro digital dentro da embalagem que o protege. Na sequência, tenta descobrir se está com febre com ele desligado.

49- Quando reencontra o microônibus depois dum dia brincando de Survivor quer ajoelhar e agradecer, mas não sabe exatamente para quem, pois está com as ligações religiosas seriamente abaladas.

51 - Voltando à "Sampolândia", acha que os vizinhos periféricos barulhentos do prédio ao lado são fichinha, pois consegue abafá-los com samba raiz do You Tube.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Crônica de Natal

O menino entra no metrô, põe papeis pedindo ajuda em nossos colos e canta: que estão sem o que comer, o pai não mora com eles... E mais o ruído do trem não deixa ouvir. Fucei a carroca, achei umas moedas, quando ele voltou perguntei se queria o trocado ou o Cranberrie que estava na minha bolsa, quis saber se tinha fome. Quis tudo. Patética, falei pra deixar para lá o preço da zona cerealista no saco da frutinha, seca. Ele saiu da estação e eu quis mais era perguntar quem o ensinou a cantar. A ladainha lembrava capoeira e era mais original que a dos que fazem o mesmo noutros vagões periféricos.
Saindo da estação, converso com um menininho de 5 anos e seu "padrasto": seu nome é Good Luck, como o presidente da Nigéria, o que não importa, pois ficamos falando da massinha na escola, da pintura, que ele fez em todo o quarto, do pique que falta quando eles correm e começam a dançar break antes mesmo de aprender.
Importa sim: é filho de africano. E parece uma alcunha auspiciosa. A namorada surge e cada qual vai para um lado. Tudo na Companhia do Metropolitano dura um flash: o próximo trem, o novo colega, o reencontro...
Uma ex chefe distribuirá comida e bebida na rua das 14h às 22h, chama para participar, só que umas empreitadas culturais e gastronômicas já agitadas com antecedência me aguardam, que pena!
Pena não, o vídeo altoral de literatura infantil não foi possível sair, os celulares fizeram greve pré Natal, mas fui cozinhando e mantrando, cantando, lembrando de como os Hare Krishna fazem suas refeições e desejando que a comunhão culinária redima todas as diferenças, mal estar e picuinhas entre os que se revêm tão sazonalmente, se gostam, só que soltam faíscas com menor periodicidade.
Ensaio contos para as crianças no programa familiar de sempre e lembro muito do conto sobre o pai que vai para o outro lado do rio, do Saramago, a família estranha, tenta aproximar, a irmã do narrador vai até mostrar o neto depois que nasce, mas nada o traz de volta e ninguém entende esse apartamento do "capiau".
Me sinto um pouco como na história e a música El Otro Lado Del Rio, de Jorge Dexler: sentindo outras faltas, tendo outras crenças, sonhos mais rebuscados, dores quase intraduzíveis, infelizmente amigos antigos e famliares nos alijam do lado de lá da margem. Algumas saudades e outras faltas seguimos doendo e outras delícias já vividas ficamos gratas.
Já não importam presentes, comidas que não dou conta de consumir, as perguntas de sempre: a fase "tudo certo, nada resolvido" desfaz o mistério que nos acalentando, desistindo de mudar o imodificável ou de evitar se indispor com quem não tem essa pré disposição de pacificar os relacionamentos alivia o desgaste emocional de sempre de maneira sobrehumana.
Até dá a imprensão que será viável cruzar o rio de novo. Sondar a margem de lá. Ouvir outro idioma, mas não ter daltonia. Sonhar com o comando dos navios e não com a popa ou mastros perdidos/ avariados... Deve ser isso: no aniversário celebrado e rememorado mais de dois mil anos, a ideia é aceitar de dentro para fora e assim esfacelando os mais armados do caminho. Que a importância está no caminhar, não no onde.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Já pensou em concurso?

- Sim, mas sentei e esperei passar

- Ué, mas emitir um porrilhão de certidões, fazer projeto criativo empreendedor, levantar minha capivara e provar minha idoneidade em secretaria de educação ou cultura equivale à mesma coisa.
(acrescentar depois de comer uma rabanada:)
- Não, concurseiros ainda estão há zilhões de anos encostados nos pais, Nós só passmos para jantar quando a vertigem lembra.

- Você já pensou em fazer um trabalho mais significativo e encontrar a cura para sua gastrite?

- Sim, eu coloquei cabresto em meu cérebro de forma maternal: "já passou, foi só um pesadelo".

- Só que aí acordei e comecei a escrever um best seller.

- Sim, mas tenho medo de repartição.

- Aconteceu, mas o anti depressivo curou.

- Anualmente, nas ceias e confraternizações.

- Não sei, tem servidor bonitão por lá?

- Sobra tempo para ensaio, aula, trabalho voluntário e coreografia de dança brasileira?

- Prefiro ser a cigarra. Sabe o que estou ensaiando?

- Não, mas você podia pensar em contribuir com o meu crowfunding. Dizem que ganham bem.

- E você já pensou em não deixar os filhos com a avó?

- E dar um tiro de misericórdia nesse relacionamento moribundo, você avaliou?

- Sim, com a mesma periodicidade com que me entristeço com a recepção pouco calorosa dos parisienses... Deixa ver... Duas vezes em quase quarenta anos?

- Você já pensou em redirecionar o investimento a fundo perdido para parar a investida do tempo contra você em projeto educativo, cultural ou esportivo? Se não me engano, todos deduzem imposto.

- E você pensa em arcar com algum investimento meu ainda nesta encarnação?

- Tinha feito um propósito de ano novo para pensar, mas os editais, ensaios, aulas e namoros não me deram tempo, você acredita?

- Não acho de bom tom.

- Vovô se aborrescerá se te der a resposta que gostaria.

- Seria perigoso para eles.


- Tanto quanto penso na cultura adversa da Tasmânia.

- Já tem algum que ofereça assinatura de ponto e mecenato sem obrigatoriedade de frequência e não fiquei sabendo?

- É igual ao seriado global Aspones ou aquilo foi licença poético ficcional?

- Vocês já aceitam performers na repartição?

- Avaliei, mas o telemarketing é mais acolhedor com transexuais.

- Mãe! Pega de volta a educação que me deu fazendo favor?

- Quantos de vocês já fizeram residência artística internacional? Você acha mesmo que compensa?

- Pai! A manutenção da civilidade é mesmo necessária até o fim da ceia?

- Fiz, mas apanhei em sala de aula e achei mais digno passar o chapéu no metrô mesmo.

- Tira as crianças da sala para continuarmos o debate fazendo favor?

- A última informação que tive é que não trabalham com clowns lá, mudou a legislação?

- Fazer a unha, chapinha, estuprar o pé no salto e me violentar no vestido foi o máximo de flexibilidade familiar que consegui neste ano, quem sabe em 2015?

- Dilma descambaria de Brasília pra me puxar a orelha, seria vexatório para a categoria.

- E o que seria do humor de vocês se tivesse estabilidade e compartilhasse #partiuPatagônia no próximo fim de ano?

- Meus pais já infernizaram vocês com meus 20 dias fora, imagine se levantar verba para um ano sabático?

- Vocês trabalham fumando baseado? Ué, então qual a vantagem de não ser mandado embora?

- Nunca vi servidora com roupa multicor de figurino, logo não "orno" no ambiente. Né vó?

- Pq o pedido da vó para Deus era um trabalho perto de casa, que eu gostasse, pagasse bem, trabalhasse pouco, com chefe bom... Respeito a tradição católica meticulosa dela. Estou quase lá. Ela ficaria feliz não acha?

- Se você se propuser a desencostar do marido eu entro na promessa coletiva familiar e ano que vem realmente teremos milagres a compartilhar na ceia natalina.

- Precisamos ter o que discutir ano que vem.


- E o fetiche por travecos, também pensou em abrir o jogo? Esse ambiente de confraternização anual é bem propício. Não foi o tio que num fim de ano pediu para passar o peru e na sequência disse que era gay? Se bobear, com a bebedeira, nem ouvirão né?

- Me parece que meu carma vai melhorar mais se eu passar no programa de voluntários da África da ONU.

- Saiu a torta de abóbora! Também vai querer?





sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"Miragens odontológicas"

No dentista precisamos de alguém que segure nossa mão, como no ginecologista e na depilação. Não são preciso carpideiras contratadas para chorar em enterros tradicionais do interior? Segurar na mão de alguém nesses consultórios assustadoramente brancos devia ser uma espécie de ritual. Em casos de fobia, o paciente devia ter direito a duas mãos. Não me perguntem onde enfiaríamos o assistente e o "escavocador de bocas", quero dizer, dentista. Desde a adolescência pergunto se eles têm pacientes com medo da cadeira da tortura chinesa. Sim, sempre, atendem às dúzias. Não me canso de propor que façam grafites detalhadíssimos no teto, os mais apavorados poderiam ter uma experiência estética e desViar o foco do "ziiiim da broca". Até mesmo quem "quase tolera" essas consultas, como eu, agradeceríamos. Quando ia nos que faziam perguntas de respostas analíticas e jamais conseguia conversar, tinha certeza que devia ser a profissão mais solitária de todas, mas depois que peguei estes concentradíssimos em "carpir polpa da
gente"... Que saudade de tentar teorizar qualquer análise complicadíssima com espelhinho, sugador e "rastelo" na boca. Desta vez sugeri que podiam usar toucas coloridas, como as que vi nas últimas vezes que fui para sala de cirurgia, dá uma descontraída antes de "entrar na faca". Soube que o branco evita proliferação de bactérias. Pode fazer sentido, uma amiga ouviu dum gineco há pouco que não devíamos usar calcinha coloridíssima, pois podem dar reações... Depois que picam "nosso rim" para sentirmos menos as "futucadas" deles, já ensaiamos "pagar de irmãos coragem" e engolimos qualquer ensaio de água salgada se precipitando na cara da gente, Aí aquele "quase mantra zuuuumm", mais algum efeito da anestesia, dão um quase sono, dá uma ilusãozinha de que pescamos... Mas constatando que permanecemos naquela brancura sem fim com a "trilha sonora de motorzinho tortura chinesa", a primeira má impressão que tenho é "morri... E o infermo é um restauro seguido de uma retirada de tártaro". Volta e meia tenho a má impressão de que não posso engolir o aguaceiro que a boca resolve fazer, percepção que o sugador não dará conta das "babas plus" que dá cria na boca, cismo que vou tossir e arruinar aquele trabalho artesanal da dentista... Era uma vez sono de cadeira odontológica. Às vezes o mal estar passa virando para a dentista, dá a ilusão que o aguaceiro vai para a bochecha e não causará nenhum estrago, mas daí também o ombro e pescoço vão pro brejo. Tentei cantar uns mantras, mas terminei sensibilíssima, chorando a cântaros, justificando do medo de ficar com buraco na boca depois do terrorismo que meu dente de leite não tem mais raiz. Saio pedindo "chazinho sossega leão" na maquininha da sala de espera. Tento "tourear o aguaceiro a troco de banana" o resto do dia todo, em vão. Ao menos a música de consultório tinha que ser um desbunde. Alfas e Antenas 1 estão censuradas! A ambientação de consultório odontológico tinha que ser inebriante. Jamais causar soluços o resto do dia todo. Não sei como não tem cadeira em que eles amarram pacientes. Bancando a Poliana, podia ser pior: na época da minha mãe era boticão e ele só "esvaziava a boca", bem "sangue nos zoio" mesmo. Acho que fiquei mal acostumada às da infância que tinham bichinhos na sala e dava bonequinhos na saída aos bem comportados. Campanha por um entretenimento dispersivo ao paciente odontológico!

domingo, 7 de dezembro de 2014

A existência não pode estar assim tão enganada

A internet parece não saber que não quer mais conversar comigo. Mas deve desconfiar que sinto sua falta. É sua foto que surge a cada mensagem. Seu nome escapa por entre procuras. Seu sobrenome cai no colo entre um post e outro. Aprendi que eu também não sabia amar. Sigo improvisando. Não é todo ano que ficamos fragilizados e um companheiro de outra vida vai lá e discute contra grosseria em serviço público. E a nosso favor. Pronto, a "filhauniquice" aqui já interpretou enviesadamente: ganhei irmão mais velho sem que cantassem a bola preparando: "o gato vai subir no telhado"... Não. Você foi lá e já ocupou a parte que lhe cabia num coraçãozinho ressabiado, que até hoje mais late que oferece lambidas gratuitas. Retribuí como consegui àquela altura do campeonato: mimei gastronomicamente. A memória me engana. agora com a justificativa de ter ficado assumidamente "retrô". Teu scanner professoral detectou minha analfabetice emocional. Vimos filme zen. Rezamos. Mantramos. E a gata meditava entre nós. Que golpe baixo essa saudade dose dupla pior que whiskie a seco. Sem gelo. Nesse calor tropical de Meu Deus. Mas ok, me apaixonei por nosso clima aos 45 do segundo tempo, em terras gélido temperadas. Época boa para faxinar sua casa e lembrar o quanto amo limpeza com água. Deve ter a ver com a identificação com Oxum, feminina, das águas e sensibilidade. Descobri que sua versão livremente etílica dançava. Fazia rir. Dizia barbaridades. Divertia "azamiga". Tirava da manga no dia seguinte uma brincadeira para estancar meu choro pós ressaca. O inferno do excesso do meu choro, talvez já te cutucando a gastrite. Para aliviar a mão, massageio. É lá essa maneira de "por a mão na massa" numa tentativa de tatuar em ti "gosto, mas não tenho ideia como verbalizar sem chorar com essa chita me lembrando o diabo da casa do meu avô". Sinto retardatariamente pelos exageros meio astrológicos. É verdade, o mestre budista ensina a olhar o mapa, se espantar dele nos desnudar e atirá-lo ao fogo, pois posso me reinventar. A reforma íntima dos meus deslizes não ocorre em tempo hábil de não te ferir. Pode ser que os anos e anos de espiritismo não foram lá de grande serventia, Devo estar na pré infância espiritual. Mas em noites como essa, hiper sensíveis, desentendendo o que lateja e querer colo, lembro da tua mão segurando a minha e ensinando a ferro e fogo: "a existência não pode estar assim tão errada". Pode não mano. Que maneira tortuosa de se ensinar, mas está impresso aqui em cada célula, essa forma comedida de se gostar. Uma estranheza para essa veia passional exaltada familiar. Mas o oposto põe a gente noutro lugar de troca e crescimento. Conto história e lembro do seu olharzinho puxado se arrepiando numas vírgulas, travessões e dois pontos. Não era melhor, nem pior que a plateia atual. Essa só sua maneira introspectiva de troca. Para a qual esse drama de atriz sob holofote causa overdose. É um pouco melancólico não ter dividido o quanto dilatou minha forma de olhar e me por em teu lugar rindo e chorando com cena, take, esquete, sempre alternativos. Mas o ganho no falar e me colocar no mundo segue por vidas. Você não tem ideia, mas pintou com tinta corrida teus interlúdios silenciosos em mim. A ponto de querer pedir silêncio em ônibus ou madrugadas afora. A contemplação é um modo de ver o mundo em tons pasteis que combina com os cliques zen que vivencio "de quando em vez". Foi seu orgulho de sócio educador que engatilhou em mim uma paixão sangria desatada por criança, didática, lúdico e aprendizado conjunto. Teve até retorno inesperado, mas não é viável compartilharmos essas conquistas. Reinventei o olhar político há anos brochado com uma visão crítica que experienciei contigo, mas perdi em alguma esquina de militância desencantada. Não deve haver mais ninguém com quem estar próximo em quieta completude seja uma experiência mística de conexão fraternal como é contigo. Outro que leia meus pensamentos em pequenos desejos cotidianos ideológicos. Sua percepção do indigesto escancarado no meu não dito. A maneira como relativizava essas indignações passionais femininas. Mas você estava bem acostumado à prática desse gostar contraditório entre irmãos. E eu, não pude reaproveitar a experiência com amigos imaginários para esses desafios de expansão do emocional com irmãos que a vida joga no colo a toque de caixa. A literatura vira então essa maneira meio autista de sublimar o vácuo que suas ironias, lições, companheirismo e risadas escarificaram nalgum ponto inacessível de mim. Era paixão não brother. Ela não abre espaço de alegria com a felicidade alheia. Só de angústia. Tinha completude demais no estar perto para envolver sentimento adolescente. Mas no que é amorosamente relevante, minha habilidade verbal é nenhuma e chega em doses homeopáticas. Foi delusão, mas como era convincente!

domingo, 23 de novembro de 2014

Reacomodando prateleiras e ideias

Este "domingo ordeiro" colocou as roupas de cima e de baixo, de cama, banho, sapatos e acessórios em lugares meticulosamente pré estabelecidos, quase como uma virginiana faria. Sacolas e mais sacolas foram separadas para doação, bazar, reforma, lixo e devolução. Acessórios, objetos de cena e figurino foram ganhando seus devidos espaços para acesso futuro rápido e criativo. Lençois, fronhas e toalhas despachadas para a máquina de lavar, só não "tomaram banho" devido à confusão feita com sabão em pó: ao invés da última ida ao mercado abastecer a lavanderia com o usado na máquina de lavar roupa, veio por engano o da de lavar louça - aposentada forçosamente há anos.
Outra leva de produtos do banheiro foi para o descarte e separado para ver se a faxineira do condomínio se anima a reciclá-los.
No escritório xérox e livros esperando revisão e reestudo há anos foram para reciclagem. Os livros foram redivididos. Gavetas limpas e rearanjadas. Agendas descongestionadas. Material de papelaria voltou ao lugar certo. O que andou parado foi posto para que outros possam trabalhar melhor o material. Louça limpa. Cabelos e pele empastelados com banho de creme e argila por horas. Dizem que trocando a cor meio que mudamos a vida. Voltando à original também, será? Sacolas tem indicação de destino grampeadas. Livros emprestados começam a voltar aos seus donos.
Entre manhã e tarde suando a camisa pondo a casa (interna e externa) em ordem, não só os cômodos se mostram mais leves: a mente se apazigua na medida em que o que se precisa e o que não é procurado sempre ganha espaço pré-definido.
Entre uma faxina e uma redefinição de espaços atendo telefonema meio angustiado. Talvez por ter posto meu ninho em ordem, ajudo na medida de possível o lado de lá a se reacomodar mais confortavelmente. Outros telefonemas que usualmente dão choque terminam em paz. E uma chuvinha de fim de tarde abençoa esta semana que começa com ideias, projetos e sonhos em ordem de chegada. Só o abastecimento interno pecou por excesso e gula.
"E se uma sangria desatada é estancada
Outras podem esperar e até mudar de curso
Distanciar do amor que chega manso
e abrir frestas e curvas para que ele assente
faça pouso e veja as estações mudarem de cheiro
Procurar as raízes já longe e aceitá-las
Trabalhar a terra de bom grado
testar novos aconchegos
Mudar do modo randômico precavida
para disposta e receptiva
Semear novos frutos já aguardados
Encontrar pertencimento inesperado
pulsar gratidão e olhar para além do casulo
metamorfose por um fio"


domingo, 12 de outubro de 2014

Amor "Felícia"

Te amo pra cima, pra baixo
à direita e à esquerda
Amo teus medos
tuas cortinas e teus enfeites
Amo teu idealismo
tua fé crítica
e teu jeito brejeiro
Amo tuas pequenas dúvidas
tua generosidade
Amo que me dê sopetões
e carinhe quando me fragilizo
Amo tuas vírgulas, teus livros
teu olhar puxado
Amo tua companhia
como quem encontrou
terra firme
depois de navegar à deriva
e perder a bússola
Amo teu cuidado fraternal
com meus movimentos desastrados
Amo quando suaviza
o que lateja em mim
Amo que perceba meus detalhes
Amo que alivie meu calor
Amo dividir saídas culturais
com tua inteligência
Amo que me faça reconciliar
com teu signo
Amo que se interesse
pelas minhas dores
Amo que pergunte
pelo meu estado de espírito
Amo tua ironia
irmã do meu sarcasmo
Amo que me faça respirar
entre um machucado e outro
da avalanche do dia a dia
Amo tuas janelas
com paisagens interioranas
Amo que me force
relativizar dores familiares
Amo tua curiosidade quase infantil
Amo que diga não entender
e me force dar menos voltas
Amo esse sonho duo de pé no mundo
que sonho a dois
já é construção de realidade
Amo que minha história
tenha te arrepiado
Amo tuas vírgulas, tuas indignações
tua boa vontade, teus interlúdios
nossas interconexões
Amo teu companheirismo
e nossos espaços
Tuas maneiras de me fazer rir
Seu jeito de desacelerar
Amo tua metodologia pouco ortodoxa
de me fazer pegar leve comigo
Amo quando me deixa
digerindo seus chacoalhões
Amo que me inspire e me estimule
Amo que me deixe orbitar sua vida
que cuide das minhas dorese
Amo seu jeito vintage,
seus cabelos brancos
Amo ensinar e aprender contigo
Amo por a mão na massa juntos
Amo encaixar meu idealismo
à sua experiência
Amo que me estimule
mas me alerte
Amo que me apoie
mas puxe a orelha
Amo que me force
recalibrar o olhar
Amo que pulverize de otimismo
a bronca da amiga
Amo que emparelhemos
tanto em comum
E de aprender esse amor
meio lúdico, meio gratuito
meio sem fatura de cobrança
Não sabia nomeá-lo
Ah, a necessidade de rotular
até o que a vida dá de presente
E nesse encanto
meio estranhamento
De amoreco fraterno
que a vida encaixa
nas nossas frestas
Enviesei a história
Te cansei de ser sagitariana,
cênica e crítica além da conta
Esse poema
é só pra soprar
uns versos
alumbrados
Pra te dizer
feliz novos 365 dias
Que a gente
ouça o silêncio
em companhia
em muitos deles