sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
"Miragens odontológicas"
No dentista precisamos de alguém que segure nossa mão, como no ginecologista e na depilação. Não são preciso carpideiras contratadas para chorar em enterros tradicionais do interior? Segurar na mão de alguém nesses consultórios assustadoramente brancos devia ser uma espécie de ritual. Em casos de fobia, o paciente devia ter direito a duas mãos. Não me perguntem onde enfiaríamos o assistente e o "escavocador de bocas", quero dizer, dentista. Desde a adolescência pergunto se eles têm pacientes com medo da cadeira da tortura chinesa. Sim, sempre, atendem às dúzias. Não me canso de propor que façam grafites detalhadíssimos no teto, os mais apavorados poderiam ter uma experiência estética e desViar o foco do "ziiiim da broca". Até mesmo quem "quase tolera" essas consultas, como eu, agradeceríamos. Quando ia nos que faziam perguntas de respostas analíticas e jamais conseguia conversar, tinha certeza que devia ser a profissão mais solitária de todas, mas depois que peguei estes concentradíssimos em "carpir polpa da
gente"... Que saudade de tentar teorizar qualquer análise complicadíssima com espelhinho, sugador e "rastelo" na boca. Desta vez sugeri que podiam usar toucas coloridas, como as que vi nas últimas vezes que fui para sala de cirurgia, dá uma descontraída antes de "entrar na faca". Soube que o branco evita proliferação de bactérias. Pode fazer sentido, uma amiga ouviu dum gineco há pouco que não devíamos usar calcinha coloridíssima, pois podem dar reações... Depois que picam "nosso rim" para sentirmos menos as "futucadas" deles, já ensaiamos "pagar de irmãos coragem" e engolimos qualquer ensaio de água salgada se precipitando na cara da gente, Aí aquele "quase mantra zuuuumm", mais algum efeito da anestesia, dão um quase sono, dá uma ilusãozinha de que pescamos... Mas constatando que permanecemos naquela brancura sem fim com a "trilha sonora de motorzinho tortura chinesa", a primeira má impressão que tenho é "morri... E o infermo é um restauro seguido de uma retirada de tártaro". Volta e meia tenho a má impressão de que não posso engolir o aguaceiro que a boca resolve fazer, percepção que o sugador não dará conta das "babas plus" que dá cria na boca, cismo que vou tossir e arruinar aquele trabalho artesanal da dentista... Era uma vez sono de cadeira odontológica. Às vezes o mal estar passa virando para a dentista, dá a ilusão que o aguaceiro vai para a bochecha e não causará nenhum estrago, mas daí também o ombro e pescoço vão pro brejo. Tentei cantar uns mantras, mas terminei sensibilíssima, chorando a cântaros, justificando do medo de ficar com buraco na boca depois do terrorismo que meu dente de leite não tem mais raiz. Saio pedindo "chazinho sossega leão" na maquininha da sala de espera. Tento "tourear o aguaceiro a troco de banana" o resto do dia todo, em vão. Ao menos a música de consultório tinha que ser um desbunde. Alfas e Antenas 1 estão censuradas! A ambientação de consultório odontológico tinha que ser inebriante. Jamais causar soluços o resto do dia todo. Não sei como não tem cadeira em que eles amarram pacientes. Bancando a Poliana, podia ser pior: na época da minha mãe era boticão e ele só "esvaziava a boca", bem "sangue nos zoio" mesmo. Acho que fiquei mal acostumada às da infância que tinham bichinhos na sala e dava bonequinhos na saída aos bem comportados. Campanha por um entretenimento dispersivo ao paciente odontológico!
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