segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sangria desatada

Quando desaguei a alegria
e a reincidência dela ser maior que o juízo
Estranhamente quis criar um rio salgado
nas condições e temperaturas nada favoráveis
Me refugiei entre a tinta e as lembranças
Ao me reencantar com a vida
a partir do olhar que descobre o mundo
Me embalei no colo daqueles que me acolhem
mas banhei o rosto com dores de criança ferida
Só quando me vi esvair
a fertilidade que já semeou a terra
Acolhi minha tenda da lua
e ela pode ter vindo ying
e ainda assim implacável
me fez revirar o baú de recordações
E ser grata pelo cartão vermelho
ganho em meu mais marcante ritual de passagem
A memória apagou colegas que evaporaram
o peito aqueceu com as linhas de avós, primos e amigos
A mochileira que dorme em mim
quis fazer as malas namorando cartões postais
Um vácuo deixa incompreensível
amigas que sumiram no limbo
E num ímpeto wicca inexplicável mas sábio
improviso uma fogueira
do que estava fora de lugar naquele ninho
de amizades, confissões e consolos retrôs
Na manhã seguinte, cinzas desta passagem
polvilhavam a cozinha, palco da alquimia
E na véspera, o esfacelar da foto hipnotizou
como um incêndio de formigueiro emocional
Realinhando o eixo
para a manhã seguinte de acolher dores

Deja Vu no Bardo

Temos a mesma matéria prima
mas já me deixo levar pelo caos criativo
e você ainda rema conta a maré
do quanto Deus é disléxico
mas já vivenciei que no coração está tudo certo
És incapaz de te livrar
do labirinto sem saída que tua mente criou
E em dias de maior ebulição
fica arredio até com o carinho súbito
Já eu, ponho a mente na árvore
e tiro meu corpo para apenas dançar
E venha de onde vier
a extrapolação amorosa
eu acolho e interajo, em completa gratidão
Meu grande sertão de Guimarães Rosa
é passar a vida tentando descobrir
como te amar
E meu mergulho em carvena
escura e claustrofóbica
É que eu não descubra a tempo
de me redimir com o que em você
espelha o que ainda não coloquei sob o holofote
nem sublimei com figurino
Que eu não reensaie no palco da vida
nossos respingos de solda

sábado, 26 de janeiro de 2013

Desconcertante

Você me deixa com mais espaço na cama e ainda assim não consigo dormir. Parece que o corpo carece de um aperto consentido. Estico os pés, mas suas pernas não estão mais lá. O travesseiro é de novo todo meu e ainda assim falta um pedaço. O quarto ganha proporções exageradas e entrego os pontos levantando.
No banheiro, teu cheiro se impõe, soberano, a ponto de esquecer se ia escovar os dentes, lavar o rosto ou fazer número 1.
Fujo para a sala, mas o olfato, a mais rápida das memórias me embriaga com tua barba dançando de novo na nuca. Olho para a tela nua da TV, como estou agora, em estupor.
Espero que a cozinha me acolha melhor, é o território das bruxas e suas alquimias, onde purgamos a raiva e exercitamos ouvir o sexto sentido.
Mas ali rastros de nós me levam inevitavelmente para ontem: o vinho derrubado, o avental que nos estimulou os abraços furtivos, algum aroma reincindindo após nossa orgia gastronômica da véspera, a toalhinha fora de lugar depois de ter me sentado no balcão, os ímas da geladeira meio caídos de tanto nos apertarmos entre ela e a pia.
Fujo para a janela e pela primeira vez em anos não me irrito com as brincadeiras infantis logo cedo. Os vizinhos das janelas próximas sorriem. Ouviram nossos risos e gritos? Não consigo retribuir, sua lacuna parece me envolver pelas costas e deixar sem reação.
Me refugio no computador, chamando urgente para parir tantas criações emergenciais. Mas clico errado e o programa abre uma foto que tirou numa madrugada idílica inspirado pelo néctar de Baco. Um curta metragem me faz reviver a vez em que posei para tuas lentes. O processador de texto se recusa a interagir com meu coração fora de órbita.
Me rendo ao chuveiro e espero que afinal, a água escorra rever suas mãos subindo nas minhas, me pegar viajando na imagem da cor do seu peito à meia luz e de termos inaugurado um novo costume - não o de perder brincos classicamente em reencontros raros como este, mas de quebrá-los.

Batida da amizade multicor

Olhar a cidade historicamente
lembrou do começo deste vai e vem
E tua transferência de dívida
teve gosto de comida colombiana
Minha saudade de samba
estourou rapidamente os tímpanos
A chuva quase nos esperou
mas os grafites não
Talvez nossas conversas sem fim
desviaram a atenção da mostra
E rever amigos da sua área
fervilhou minha usina de ideias
A música escocesa (ou irlandesa)
reacendeu a vontade de rodopiar
O cansaço nos brecou
e pipocou risadas à toa
Brincamos de fazer bolhas de sabão
e de perder o ar
Mas vinho demais
sempre destrava perigosamente a língua
Abrimos as comportas
da verdade e água salgada
Os cheiros e cores 
comprovaram que a arte da alquimia
carece de inspiração
A conexão de almas
das semelhanças e risadas
ainda reverbera
horas mais tarde
A mensagem truncada
me tira do eixo
E a presença de espírito
que habita em mim
quer relaxar nesse agora
e confiar que Deus 
não escreve certo por linhas tortas
é disléxico galopante


domingo, 20 de janeiro de 2013

A brother de profissão...

...é dessas poucas que alerta quando a barca está furada e estou prestes a embarcar nela desavisadamente. Já relevou quando a cegueira passional me fez furar por quem não merecia. Ajudou a encantar com o samba. Tem os olhos amorosos da minha avó: gostava de todos os ex, até os roubada escancarada em neon gritante. Me levou para espiritualidade xamânica. Vem da terra da minha mãe, daí ser tão descabidamente especial. Já me deu carona e tentou se encaixar na ex turma coxinha na qual estive forçosamente inserida tantos anos. Reveza comigo nos dramas do picadeiro da informação - pois lugar de palhaço é no jornalismo! Pegou carona na minha fase gandaia descontrol e à nossa maneira farreamos merecidamente. Nos reapaixonamos pela Vila Madalena entre sobes e desces pelas feirinhas, botecos e afins. Tem um jeito brejeiro na cozinha que é inspirador. Topou pagar mico cênico na minha matéria de direção só para segurar a onda da amiga metida à artista. Dá bronca quando digo que sou jornalouca e atristeza da família. Suaviza quando estou dando importância demais à comédia da vida privada familiar. Descola ingresso aos 45 do segundo tempo para bancarmos a tiete no show da Madonna. Me empresta livros como Viver para Contar do Gabriel Garcia Marquez, quase a fundo perdido. Suspira em dupla quando vemos Gael Garcia no cinema. Lembra quando estou dramatizando além da conta fora do palco que já passei por aquilo, vou passar de novo e logo tiro de letra. Sonha junto para virar realidade que estudaremos fora. Diz que minhas inspirações de madrugada que se perdem quando não escrevo são coisa de escritora, não de jornalista. Me defende para quem não me conhece, mas me rotula precipitadamente. Ri no meio da minha massagem, tornando até o mais terapêutico dos momentos cômico. Tem uma ânsia de se compreender, curar e encontrar que inspira a gente. É tia coruja. Me indica centro espírita quando estou vulnerável. Ajuda a desembaçar os óculos quando estou com as mãos engessadas para fazê-lo sozinha. Ri comigo das tragicomédias familiares, aliviando o que levaria sessões e mais sessões de terapia para relevar. É dessas irmãs que ao mesmo tempo que a vida não providencia oficiosamente, empresta extra oficialmente.

A japa da minha vida...

...me ensinou a fazer corte artístico de manga. Me fez apaixonar de vez pela arte gastronômica. E juntas nos deliciamos na meditação. Mimamos os gatos dela e até andar com meu cachorro ela quebrou esse galho. E me viu cair de madura na beira do lago da Aclimação e nem morreu de rir. E nos esparramamos na grama do Parque, rindo até quase molhar a roupa. Sempre que o atravessar da cidade é perigoso ou cansativo, ela me acolhe, não só com sofá cama, mas com comidinha natureba. Lemos tarô do Osho e ajudamos a outra a ver o que tem de especial e está o encoberto pela miopia emocional. Se diverte com o pé no peito do meu pai. Já segurou a bronca de quando deságuo por não dar conta quando tudo sai inacreditavelmente na contramão do sonhado. E dormiu em casa, se assustando com o toque do celular de madrugada. Nos encantamos com Fernanda Montenegro e outras tantas peças. Cantamos sem medo de parecer ridículas. Me emprestou livros terapêuticos como A Ciranda das Mulheres Sábias, de Clarice Pínkola Estes. Modelamos o barro que sobrou da aula de cerâmica que interrompeu. Puxa a orelha se a ansiedade estiver me virando muito de ponta cabeça. Me escancara que afinal, tantos retiros, meditações e vivências já tem algum saldo consideravelmente positivo. Me manda fechar os olhos quando os pombos batem as asas. E toma conta quando perigosamente não enxergo no meio da rua. Manda pular para subir quando a reincidência melancólica amorosa está muito extrapolada. Encena esquete teatral para aliviar minha barra na faculdade. Enfia o pé na jaca e chuta o pau no balde na mesma ânsia passional descabida que dividimos. Adverte se estiver distraidamente reinventando o BBB na janela da casa dela. Me ensina a reciclar. Dá vontade de aprender a lidar com planta. Diz que cozinho igual nordestino. É a que mais interage comigo no Fuçabook. Fotografa meus momentos mais mico do ano. Acredita que jornalistas tiram boas fotos. Me arranca da cama cedo demais e com uma delicadeza ariana. Atrasa peça com sua contemplativa forma de se arrumar. Compartilha roupa, apesar das diferenças de altura. Ensina receita natureba. Colabora para relativizar a tragicomédia da minha vida. Alerta que enquanto o jornalismo saboneta, o teatro me chama numa linguagem ainda ininteligível. Não me deixa dar trela para quem não merece. Vê um poesia meio Fernando Pessoa nos meus posts. Não por acaso, nos conhecemos num retiro chamado "O Caminho do Coração". Grazie hermana!

A vida é um segredo de Deus sussurado numa noite de chuva

Descubro que uma das paixões familiares da minha vida tem traços de depressiva crônica: acha a vida feia. Sei que melhorei não por querer fazer tudo ao mesmo tempo aqui e agora, mas por voltar a sentir uma empolgação infantil pela vida. Pelo que não tem preço. A amiga que quer te dar um presentão que ainda não pode pagar. Dormir com a filha do primo. Cantar e recomendarem que invista nisso. Fazer yoga sozinha e virem perguntar se dá aula. Dançar de olhos fechados e ouvir que é bailarina profissional. Fazer rir em cena. Lembrarem de "contação" de história sua no metrô. Não te reconhecerem no palco. Rir com amigos até a barriga doer. Ganhar abraço de criança depois de encenar uma lenda budista. Ouvir que teus textos tem um quê de Woody Allen, Fernando Pessoa e Clarice Linspector. Brincar com o afilhado. Se embriagar com a filha da amiga no colo e não querer por no berço nunca mais. Encontrar o espaço de paz entre um pensamento e outro meditando. Ouvir de aluna "aborrescente" para continuar dando aula, mesmo cismada que não acerta tanto a mão quanto gostaria. Autografar as páginas publicadas para os amigos e parentes. Aprender e ouvir apaixonados por diferentes assuntos em matérias das mais variadas. Massagear e ouvir que fez acreditar que a felicidade existe, fazer dormir melhor por dias, escutar que tem mão boa para aquilo, por para roncar com as pontas dos dedos. Cozinhar para quem se gosta e ver repetirem. Gargalhar com livro em condução pública. Andar na beira da praia. Subir montanha e encher os olhos com a vista de cima. Sentar na beira do rio e ficar com os pés n´água. Andar a cavalo. Reler livros criados e desenhados na infância. Ouvir que pelo que conhecem de você, não consegue fazer trabalho meia boca. Vento no calor. Escutar que tem estilo. Sol no frio. Criar. Se esquecer na rede. Fazer banho de creme. Hidromassagem. Pintar o cabelo e acharem que é natural. Aprender a se maquiar. Querer chorar com grafite. Se besuntar de hidratante. Sentir a presença do Dalai Lama. Reencontrar amigo sem planejar. A afilhada te considerar tanto, mesmo sendo uma madrinha de quinta categoria. Beber água de coco. Ouvir o Lama Padma Santem. Incenso. Estudar literatura com aspirantes a escritores. Ensinar Frida e Gabriel Garcia Marquez para quem não parecia curtir artes plásticas ou ler uma "bíblia". Dar presente. Ganhar livro. Depois de um filme dividir com um companheiro de sala escura: "não é lindo"? Explorar a luz e acertar na fotografia. Gilberto Gil. Generosidade familiar. Bolinho de chuva. Borboletas dando rasantes na boca do estômago. Comida indiana. Se esquecer no mar. Tomar chuva. Deitar na grama. Receber amigo. Bancar a tiete em show internacional. Conhecer todas as músicas em apresentação musical. Tchai. Apagar na aula de yoga. U2. Se equilibrar na bola no pilates. Cachorro vir consolar quando você "abre a boca". Meditar nadando. MPB. Céu estrelado. Cheiro de terra vermelha, café e chuva. Comida orgasmática. Reggae. Dançar forró. Comida mexicana. Ligação de amigo. História em quadrinhos. Ouvir que está cheirosa quando parece que o banho de creme, perfume, desodorante e leave in venceu. Fazer retiro. Reencontro. Criança arisca te dar beijo. Lerem nas entrelinhas do que você escreveu. Música indiana. Mergulhar. Tocarem para você. Se divertir com a companhia, independente do programa virar um mico. Fazer tirolesa. A gatinha da amiga querer dormir com você e te lamber. Beijo sincronizado. Pintar cerâmica. Ser carregada no colo quando fragilizou. Ficar descalça. A filha da sua amiga pedir sua presença na festa em que só mães seriam convidadas. Foto de infância. Colegas de trabalho lembrarem de você. Dançar música africana. Dar banho. Sono em que se lembra dos sonhos. Comer gemendo. Festa à fantasia. Descobrir música. Modelar. Redescobrir uma cantora. Ler Veríssimo e Mário Prata. Rir online com colega sarrista. Elogiarem seu sorriso depois de ser o maior lucro da indústria ortodôntica. Prosa com cabeleireiro antigo. Lembrarem da sua voz ou nome mesmo quando tua memória não ajuda. Conhecer lugar novo. Moda de viola sem letra. Aprender o que parecia ininteligível. Fazer circo. A terapêutica do trabalhar ensandecidamente. Rir da sua desgraça. Sambar mesmo sem saber. Fazer trilha com tempo nublado. Esperança pós deprê. Ganhar flor. Abraço. Banho gelado no calor. Cheiro de comida ficando pronta. Personalizar sua casa. Sonhar acordada. Fazer criança rir. Dormir com barulho de chuva. A libertação pelo riso. Fazer trabalho voluntário. Retorno positivo inesperado. Experiência mística. Dança cigana. Fogos de artifício sem barulho. Chorar de alegria. Ser surpreendida. Serem generosos com a gente. Livro infantil. Perfume amadeirado. Cafuné. Sonhar acordada. Comida natureba. Lavar o quintal. Tomar banho de mangueira. Te reconhecerem depois de suar a camisa. Insônia criativa.

Tem um amigo...

...que ressuscitou uma religiosidade meio encostada só para dar vazão ao meu pluralismo espiritualista. E com quem tive conversas remotas que me fizeram entender política internacional. E fiz almoçar saudavelmente, depois de orgias etílicas. Com quem sonho e me desencanto com a profissão. E ouço histórias de cada nota, moeda de uma coleção que traz rastros do mundo todo. E mergulho sozinha em sorvete natureba, só para prolongar a prosa. Graças a quem conheço pessoas que inspiram minha ânsia de por o pé na estrada e viajar o mundo. Que me apoia na empreitada do blog quando apanho do sistema gratuito pouco amigável de publicação. Para quem quero pedir emprestado mil livros globalizadamente irresistíveis. E planejo matar as saudades da praia, já meio embotada na memória. De quem rio em mensagens virtuais divertidas. E ainda irei à noite de autógrafos de livros humanos de trechos históricos pouco compreendidos. Para quem peço para ir ao museu histórico judaico. Com quem planejo conhecer o Museu da Imigração. Cujas semelhanças polvilham conversas que podem durar horas e esquecer do relógio. Que já rimos à toa em tantos bares a ponto de confundir as lembranças quando confiro as fotos. E me solidarizo com o potencial de uma paternidade subaproveitada. Chamo para ir ao Centro de Cultura Judaica, com suas "contações" memoráveis de final de semana. De de quem colho inspirações no blog para pipocar outros textos literários, que no jornalismo não tem espaço para isso não. E chamo para mochilão, que desvendar país novo a dois deve ser mais divertido. Para quem "torpedeio" desabafos e "delicinhas" torcendo para que as operadoras de celular colaborem com o troca troca de SMS. Por quem gasto o que não estou podendo, só para parabenizar e relevar a pouca atenção recebida, anfitrião não pode dar conta da mesa inteira! Para quem dou o que tenho de melhor na antevéspera de seu "ano novo": o que escrevo. E em crise de "filhauniquice", reclamo online, mas recebo um colo distante e acolhedor: "claro que você tem irmão: eu"!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Dermatologicamente inviável

- Aí não!
- Como é?
- Não sente um gosto estranho?
- Mais ou menos. Amarra a boca.
- Como assim?
- Feito caju.
- É o creme anti acne.
- Aqui?
- Sim, olha o vermelhinho.
- Pensei que fosse alergia.
- Aí? Do que?
- De cola de absorvente. Cor de calcinha. Já ouvi cada uma.
- Esse tom de pele facilita inventar lorota para disfarçar nossos pesadelos dermatológicos. Mas tenho acne aí, fazer o que?
- Melhor que no rosto.
- Isso é verdade. E se você subir com o beijo?
- Agora? Perdeu o clima.
- Como assim? Sério?
- É. O clássico "vai que eu não vou".
- Sozinha não tem graça "Fofoso".
- Com esse tratamento então, piorou.
- Vem cá, te fervilho de novo.
- Agora só a 220 graus.
- Imagine, um beijinho de nada aqui ó..
- Que foi?
- É que está quase...adstringente.
-É creme contra alergia de fazer barba.
- Ah... Dormir na diagonal meio entrelaçado também é bom sabia?

domingo, 13 de janeiro de 2013

A Vida é Feita para Quem não come a Unha

Esta semana paguei o segundo mico profissional por roer as unhas. Fiz um teste de propaganda e pediram para por as mãos na frente do rosto, fariam um close, pois num dado momento do comercial minha mão apertaria o controle remoto... Vexame total! Ainda bem que tinha tirado o esmalte descascado mais cedo, já pensando que nessas ocasiões "imagem é tudo" e tinha dado um tapa colorindo mais cedo correndo, mas com unhas comidas e outras crescidinhas, perdi sei lá quantos pontos na seleção.
Há anos atrás, acompanhando uma fotógrafa que fazia imagens do quiosque de revelação digital de um ex cliente de assessoria, ela me pediu que indicasse não sei o que na tela para fazer um detalhe. E desistiu, claro, pois na época as extremidades dos meus dedos eram ainda mais detonados e menos disfarçados.
O mundo é feito para os que mantém as mãos a salvo de dentes nervosos. Não conseguimos abrir a esmagadora maioria dos pacotes que indicam "abra aqui". Sempre sofro para abrir a tampinha do meu celular que protege a entrada USB e jamais consegui retirar do meu Nokia seu minúsculo cartão de memória.
Ainda assim, já fiz massagens tântricas "sensitive", que é a mais sutil que aprendi. Como fui capaz de tamanho milagre? Sabe lá Nossa Senhora dos Ansiosos que tem Onicofagia. Quando digo que preciso parar e as pessoas vem falar de pimenta ou fita crepe, alerto: chupei dedo até os 10 anos, com fita isolante e tudo que foi tratamento traumático para parar, só desistindo quando usei um aparelho no céu da boca que rasgava o dedo quando o chupava dormindo.
Será que tem alguma técnica medieval assim para associar sensação horrorosa e parar de destruir as coitadas?
Nessas horas lembro de uma colega do Canal Rural que brincava ao me ver comer tampa de caneta: "sai da fase oral"!  Dizem que me desmamaram subitamente: minha mãe tomou remédio para dor de cabeça e o leite secou. Mas isso é psicologês barato. E tema para outro post.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Carta aberta ao ano novo

Boa noite ano novo. (talvez como acabamos de nos conhecer, devesse te chamar de senhor, mas não consigo ser como meu ex chefe que redigia e-mails super corporativos "caríssimo... poderia roubar um minuto do seu tempo?". Não por acaso sou mais redação que assessoria, mais teatro que jornalismo, mas isso não vem ao caso. Não agora).
A gente nunca sabe muito bem como se dirigir a quem acabou de conhecer. Ainda mais quando se tem tantas expectativas! Sei que não poderá fazer milagres, não é Aladin, fada de conto do Hans Andersen, Papai Noel ou coelhinho da Páscoa. Mas temos lá alguns ajustezinhos em vista... 2013 te esperei de roupa nova (mas desencanei da superstição da calcinha colorida cuja cor sinaliza o que desejamos). Tentei o melhor possível com o cabelo, mas o banho foi muito cedo e quase que o calor põe tudo a perder. Repeti o banho só para dedicar o ritual pós água à sua chegada: desodorante, hidratante, perfume, dois anti idade no rosto (é agora também uso isso. Demorou, mas me rendi à campanha familiar: "tente parar o tempo, não nos deixe constrangida fazendo isso sozinha sem muito sucesso") e para não perder o costume, um anti espinha. Mais tarde na minha mãe minha hermana me deu "um tapa" e dá-lhe sombra e batom. Isso sem ser lá muito vaidosa. Ah, também pintei as unhas de cores nunca antes experimentadas. Achei que valia esse trabalho artesanal. Afinal, não é todo dia que se sente no meio da expectativa de vida do brasileiro. Mas deixemos esse mal estar para depois...
Aos 45 do segundo tempo criei um prato salgado - que classifiquei como "furdunço do Reveillon" sabor suave e um doce - que julguei marcante, eufemismos para disfarçar que mesmo após um semestre de tentativas, ainda estou longe de fazer com que amigos e familiares se empolguem com a ideia de se tornar naturebas. Mas como diz minha madrinha, o que vale é a intenção. E minha mãe repetiu a soja com ervilha, batata, cenoura, tomate, berinjela, cuscuz, quinua, girassol e tudo que é tempero. Já minha "irmã postiça" comeu duas vezes o manjar de mandju. Talvez seja muito dura comigo mesma ou elas sejam muito simpáticas para me dar uma força. Isso não importa agora, que jantei um favor que só minha diarista meio amiga e mãe faz: comida semi vegano depois de dar o maior trato em casa, fazer chá, trazer toalhinha de lembrancinha, açúcar e sal. Não, ela não existe. O que quero destacar é que te esperei de roupa, maquiagem, comida novas. Tudo na expectativa de que você, 2013, também seja genuinamente novo, retinto como parede recém pintada, que ainda cheira e está fresca, sabe?
Devo confessar que depois que fui com minha hermana para Paulista cometi uma heresia: você já cheirava a novidade irresistível e eu me rendi à uma gordura antiga: as batatas dos carrinhos dos pipoqueiros classificadas por um colega da última faculdade como "urrú, arrasou na gordura trans"! Mas socializamos as calorias, tentando diminuir o quanto elas insistirão em "fazer camping na nossa cintura". Só que a balada pós virada era nova: há anos ouço falar do Reveillon na mais paulistana das avenidas, nunca me animo muito que depois de tantos músicos na minha vida fiquei uma xiita musical, mas este ano a qualidade deu uma melhorada (e quase que fui divulgar esse evento, o que prova que estou "cantando para subir" tudo que é trauma). Chegamos ao final dos Titãs. Bem, as músicas derradeiras valeram. Na sequência tivemos uma overdose de eletrônica. O ano é novo, mas meu medo dessa música é antigo, porém lembrava de umas colegas garota enxaqueca e me esforçava para rir da situação. Descobri que o Reveillon na Paulista é "impaquerável": muitos fugiram do berçário, mas se não experimentamos uma vez, como saber? Me perguntei onde estaria outra colega de profissão que também estava "facebookando" sua estada por lá e me rendi ao vício das redes sociais em plena madruga. É, você é novo, mas "internetar" fora de hora se mantém como uma fuga antiga. Fomos para a casa da hermanita que facilita a vida de quem teria que pegar um cipó e uma balsa para chegar em casa. Essa relação não é nova, mas não faço questão que mexa nela, que não se intromete em time que está ganhando e ela tem razão: quantos têm uma amizade assim, de aço e de pétalas? Auxilie na manutenção desta raridade e já teremos começado nosso relacionamento bem.
Como era de se esperar desmaiei no sofá cama dela e milagrosamente acordei antes. Ensaiei um café da manhã, fazendo de tudo para ser mais saudável, mas me rendi ao iogurte de graviola (ainda não sei o quanto ele contribuirá para minha famigerada cólica de leite e derivados). Hoje, dia de sua estreia foi deliberadamente o dia declarado de ode à preguiça. Passamos do sofá cama ao colchão, trocamos o CD, demos um trato na cozinha, mas estávamos pagando (com calote, é claro) para não fazer nada! Improvisei uma bruscheta cedo, que não teria uma padoca aberta e curtimos o pão duro torrado cheio de firulas, demos mais sustança à refeição primeira dos próximos 365 dias que estão por vir, simulando um chiquérrimo brunch por conta do adiantado da hora. Não demorou muito e a família de lombrigas que vive em mim já clamava por reposição de combustível e nós nos deleitamos com o primeiro almoço produzido nesta pasmaceira que deve ser o feriado universal de pontapé inicial para o que está por vir: muitos meses, semanas e dias pela frente. Fizemos muitas siestas para começar repondo as energias sugadas por 2012 (seu irmão? Primo? Vizinho?). Batalhando ferozmente contra os tentáculos de polvo do colchão e sofá cama dela, consegui tomar o primeiro banho e me "emperequetar" para este começo ligeiramente "bicho preguiça". Voltando ensaiei meu texto, que este ano há de ganhar forma e conversei mais demoradamente com o  vizinho, fiquei bem assanhada sabendo que ele joga tarô dos orixás (ah, como a ala feminina gosta disso)...
Aninho ainda cheirando a caderno novo, sei que deturpei a linha editorial desta missiva, mas preciso que sejam renovadas minha maneira de amar e de trabalhar. Nenhuma está vingando como desejado no mercado capitalista selvagem, que se apropria das relações e paixões trabalhísticas. Ia criar meu ritual wicca de esquecimento e superação de traumas corporativos, mas pelo que detalhei pois espero chegar, muito dessas dores fora de lugar já foi evaporado depois de bancar a Glória Perez (que sou tragicômica, mais do que minha segunda profissão precisa). 2013 estou feliz por ter lembrando do que seu camarada me proporcionou de raro e irresistível quase ao fechar das cortinas e me orgulhei de não ter escrito um drama mexicano, nem criado um novo mar em plena Aclimação. Estou orgulhosa de agilizar cada vez mais minha capacidade de empolgação, redação desenfreada, dúvidas de tirar o sono, dramas de fazer inveja a qualquer novelista e piadas de encerramento. No meu balanço do último semestre levei um mês, menos de uma semana e um dia para rir das minhas últimas desgraças. Mantenhamos esse potencial super sônico de libertação pela risada recomendado pelo meu mestre sim?
Me parece que estou no meio da expectativa de vida do brasileiro. Isso não é nenhuma chantagem como faria a mãe judia, que mete a cabeça no forno, nem drama para ganhar atenção seja lá de quem for. Na verdade é até animador que tenha o dobro da minha idade pela frente para fazer e acontecer. Mas Ano Novo ajude-me a cometer erros novos? Cortar essa papagaiada de repetir padrão? Suspender essa insanidade de me doar até precisar de socorro por déficit de energia, saúde, vergonha na cara e tudo o mais? 2013 preciso que coloque parceiros, empregos e sonhos de consumo mais funcionais pelo meu caminho. Com os quais possa realizar mais que sonhar. Que seja mais cuidada do que cuide. Que adie para daqui três anos a extrapolação de um instinto sub aproveitado mas que ainda se assusta quando a idealização é posta à prova. Minha hermana acha que não é a comunicação que está dando pau, mas a arte que está me chamando. Fico um pouco "cabreira" de atender ao chamado, pois da última vez que tinha a impressão de estar fazendo isso, torrei uma poupança da qual sinto falta hoje para o projeto mochilão. Mas isso é pauta para o ano que vem. De repente me veio que posso não ser o que o que esperam de mim, estabilidade, tranquilidade, sustar o troca troca profissa. Topo viver da meia dúzia de talentos que já dei ao mundo e ele demandou mais. Só peço saúde em dia, pois fazendo tudo ao mesmo tempo aqui e agora não haverá espaço para o corpo dar  pau. 2013 preciso ainda que Deus me carregue no colo quando abusar do anjo da guarda. E que quando a angústia velha de guerra dar o ar da graça, vivencie o que diz meu massoterapeuta transformador: "no coração está tudo certo". Ano Novo me mostre como simplificar mais. Que suas horas, minutos e segundos sejam significativos. Que o amor venha - de paixão acho que já deu minha cota. Que me meta ou não na pós - se contribuir para fazer o que gosto e pagar minhas contas, nesta ordem que os fatores fora de lugar alteram o resultado. 2013 preciso cortar o cordão umbilical tardiamente em suaves prestações: primeiro me leve para onde já sonho desde que voltei para uma casa nova e inacreditavelmente familiar e depois, espace ainda mais as distâncias. Permaneço com problemas de foco. As solicitações chegando enviesadas até você, opte pelo que for melhor para mim, pois como tenho lua em Libra, sou quase que incapaz de fazer escolhas. Que todo o estofo necessário se prepare para a decolagem de 2014 (mas já?). E em dois anos, que aplique o instinto meio encroado noutro sonho mais distante - mas daí é preciso que o amor tenha chegado para ficar. Preciso de espaços de respiro. Sejam em casas de amigos, com a família, no meio do mato ou mar. Ano Novo que a pré disposição para amplificar meu tratamento seja seguida à risca, para que no fim destes 365 dias que começam eu tenha a graça da alta e possa por o pé na estrada. Estamos conversados? Desculpe por ser prolixa. Mas como diz meu bruxo de mãos de fada: não tem culpa! E vem bem menos virado de ponta cabeça que 2012 tá? Esgotei muito lenço do estoque. 2013 preciso que me faça gargalhar, para compensar os dramas anteriores. Sei, quem ri demais é desespero. Ajuste o exagero sagitariano. E vai me mostrando qual é a paisagem que me promete daqui em diante...