Me identifico com uma tia que ficou trinta anos esperando pela aposentadoria para por a casa em ordem, mas quando essa merecida pausa chegou, ela continou na antiga contra lógica:
- Onde por isso aí que você está me perguntando? Jogue pelo meio da casa.
Ainda não relaxei tanto a ponto de me assumir caótica, mas ser bagunceira é uma saia justa na qual só se apertaram os que não tem ideia de como se encaixar no eixo como os outros mortais.
A gente sai de roupa do avesso e justifica "dizem que colocar sem planejar dá sorte".
Vive de roupa amassada e culpa o transporte: "naquela sardinha, quem se mantém na estica"? Mesmo que seja duas da tarde no domingo, saindo do metrô confraria linha verde.
Alguém te passa um e-mail importante, mas como você ainda está em "desmame do jornalismo", tem coleção de bloquinhos, quando poderia enviar o que o fulano precisa, como encontrar o bendito endereço eletrônico no momento em que pode passar a bendita mensagem?
Você anota na agenda, no celular e no agendão na mesa do escritório e ainda assim, às vezes não confere nenhum e confia no catzo da sua memória que tem dado pau há alguns aninhos.
Volta e meia cisma de usar roupas que podem estar na mãe, na amiga, no namorado, no irmão adotado... Só o Senhor saberia!
Por razões que só a astrologia explica, teima em ter uma bolsa e mochila: todas as ocasiões que precisar de um bilhete único, chave de casa, é preciso esvaziar tudo solicitando a proteção dos padroeiros de cabeças ocas.
Sempre há uma etiqueta dando bandeira que acabou de comprar aquela roupa e faz questão de sair com ela da loja e a velha na sacola, só podia pedir assistência e não sair por aí com o código da C&A "piscando em alto relevo".
O pé não ajuda, tudo machuca. Na era jurássica comprou uma meia que não fazia bolhas. Mas quando acha um pé o outro sumiu no mundo.
Quem vê pensa que a casa tem esse tamanho todo.
Aliás você pagaria um rim por um óculos com sinal sonoro, como os de encontrar carros no estacionamento.
Sempre "dá tchau" para a gata antes de sair e mesmo assim, outro dia a prendeu sem querer entre a janela e a rede.
Todos dizem que quando tiver filhos, os encontrará nos Achados e Perdidos.
Aliás, é uma campeã deles.
E por falar neles, o São Longuinho tem feito alcançar uma infinidade de graças.
Como a mochila esquecida com o "rim dentro" no Mc Donald´s da Vila Mariana.
Quando os frequentava.
Você é campeã olímpica de receber zap, e-mail, SMS e mensagem no Face começando com "você esqueceu aqui o/ a...".
Sua tia viciada em Renew e lipoaspiração acaba contigo "tem quase quarenta anos e não usa anti idade, nem faz banho de creme, arruma a unha ou fica com depilação em dia". Graças a ela descobriu que anti espinha também é anti idade. Volta e meia compra um para não passar por adolescente "com quase 40 anos", mas a menos que um monstro verde da Tasmânia emerja de sua pele, não lembra de usar. Já tentou anti olheira, mas ao descobrir que crianças branquinhas também tem, vive deixando o seu na prateleira.
Você também é PhD em usar calcinha da Bridget Jones quando sai com o homem da sua vida. A da vó, que não serve nem para o varal, quanto menos para passear com você por aí em dias possivelmente divertidos.
Pois bem, você só consegue se engraçar com homens generosos e que vejam nisso um charme displicente.
Ainda bem que dá aulas de artes e avalia "em processo", pois seria incapaz de receber e devolver uma prova, um execício que se pretende voltar à sala de aula, uma lição de casa. Tudo é proposto e criado em grupo no horário de aula. Se identifica profundamente com aluno com filho, mil bicos, vários turnos de trabalho e completamente sem tempo.
É preciso começar a tentar ver peças dos amigos no começo das temporadas, pois com os atrasos e confusões de endereço, só é possível conferir a última apresentação.
Aliás, em se tratando de rotinas escolares nunca foi capaz de dividir um caderno em várias matérias. Seus blocos de notas apenas anteontem passaram a ter marcas coloridas entre um curso livre e outra oficina.
Há vantagens? O jogo de cintura se torna imperativo: se não encontramos vermelho, vai verde, se não temos manjericão, vai orégano, se não chegamos à peça do primo, vai o cinema da esquina. Viramos os famosos "vamos? É pra já".
Suas patacoadas divertem familiares, vizinhos, amigos e colegas de trabalho. Como levar o CD de tango para a consulta médica no lugar da mídia com fotos da córnea.
Uma rotina de comunicação ajuda o dia a dia ordinário depois de quase 20 anos de redações e assessorias de imprensa: faz lista de pauta para consultas, ligações estratégicas com quem gosta, terapias, a fim de não dispersar demais. Funciona bem.
Dá sempre bandeira da desorganização? As pastinhas do computador pessoal e do e-mail no trabalho poderiam atestar o contrário. Afinal, chegou a ser vexatório ser tocada do expediente enquanto ainda tentava encontrar um documento ou imagem imprescindível.
Às vezes temos vislumbre de como poderia ter tudo em dia.
Como se deliciar numa aula adulta tendo pesquisado em casa e aprender em dobro.
De repente faz até sentido ter pagado os pecados como setorista especializada em TI por tanto tempo: era inviável sair para uma entrevista sem pesquisar previamente.
Nem que fosse no táxi. Aliás para isso que serve o trânsito paulistano.
Agora, cá entre nós: você já teve o insight de que toda essa BURROcracia nos impede estrategicamente de mudar o mundo para melhor e nossa missão pode ser dar perdido nelas?
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