Até os 45 do segundo tempo, confesso, estava tirando o meu da reta, pois tinha enfiado a perna no buraco do metrô semana passada e estava com medo de não conseguir correr caso precisasse. Mas o compartilhamento online do crescimento da manifestação me contaminou positivamente: fui do trabalho ao médico e de lá encontrei amigos no começo da Ponte Estaiada. O mais bacana é que minha avó tinha razão: os loucos mansos se reconhecem. Estava indo de trem sozinha e saindo da estação, bati o olho num estudante, também sozinho e perguntei "por desencargo de consciência":
- Vai pra manifestação?
- Opa!
- Então vamos!
Quando encontramos meus amigos, lembrei do que diz minha mãe "que quando pessoas que se conhecem conseguem se achar numa multidão é pela conexão de alma". Meu colega foi procurar a turma dele e meus companheiros quiseram ir para a Paulista, mas me passaram o relatório: do Largo da Batata à Globo confirmamos "que coincidência, sem polícia não tem violência".
A Santo Amaro estava com os ônibus parados, motoristas e cobradores nos canteiros praticamente "numa happy hour". Tivemos que fazer um pit stop numa padoca para reajustar o humor da minha amiga, já combalido pela fome e éramos guiados pela "rata da zona sul", que nos levaria ao metrô Conceição, já que
eles estavam ligeiramente cansados de ter ido da zona oeste à sul.
Mas acabamos optando por um ônibus na Vereador José Diniz. A mochila do meu amigo era a do manifestante mais precavido: máscaras, luvas e o perseguido e polêmico vinagre. Tinha emprestado da minha chefe um cachecol pensando em proteção contra as bombas de gás lacrimogênio, mas acaba de me ocorrer que com os furozinhos da lã não seria de muita serventia.
Descemos no Centro Cultural São Paulo e fomos para a Brigadeiro Luís Antônio, de onde vinha o pessoal da zona oeste (e este atalho minha perna ainda roxa agradeceu). Nunca emocionou tanto cantar "o povo acordou" juntos e não ser exagero de sagitariana. Fomos para baixo do MASP e ouvimos uma "oração militante" de comprometimento a não parar até que a tarifa caia, repetida em coro pelos presentes.
Foi simbólico que lá pelo meio da noite a caminho do protesto, minha mãe tenha ligado perguntando onde estava, para onde ia e eu respondendo lembrando da impagável Matilde (quer uma verdade nua e crua ou uma mentirinha condescendente? Escolhi pela minha progenitora), que ia encontrar minha amiga inacreditavelmente parecida comigo e quando ouvi:
- Vai para passeata?
- Claro que não.
Ela pode não ter me deixado ser cara pintada na época do Collor, mas agora, semi nova, já marchei com o movimento estudantil pelos direitos das mulheres, com minha comunidade pela paz, uns aninhos atrás contra outro aumento da tarifa com os estudantes da Brigadeiro Luís Antônio (sempre eles!) e agora, com um orgulho que não cabia no peito, entre trintões, "aborrescentes", quarentões, dona Palmirinha e seus 80 anos, nunca estivemos tão nivelados em nossa razão de protestar e com tanta razão quanto cantamos:
- Que coincidência, sem polícia não tem violência!
Não por acaso fiquei com preguiça existencial de responder à colega PM no Facebook, que pelo próprio post já dá umas pistas do quanto eles não querem mesmo que levantemos nossa voz. Para mim, a inexistência de vandalismo da zona oeste à Paulista falam por mim. E como diria o personagem do meu coração do filme/ livro "O Lado Bom da Vida": amor é tudo que tenho para te dar. Foi um mar de "com licença, por favor e obrigado" nesta segunda. Como dizem as imagens da Internet "o povo se uniu e nem era Carnaval". Quem ainda não experimentou "ocupar o seu País", toma que o Brasil é teu. E se ainda não mostrou a que veio, não perde a ocasião e hoje #vempraruavem.
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