Minha mente é um 220 voltz intermitente. Para mim costuma ser mais difícil desligar para sonhar do que pular da cama. E o parceiro de dança recém conhecido no Sesc Vila Mariana acertou na mosca: preciso por o corpo para movimentar para desligar e ressonar. E há três semanas tenho feito isso, mas estou num reacender do meu caso de amor com a dança. Qual? Todas que puder experimentar. "Peguei o bonde andando para sentar na janelinha e dar tchauzinho" na aula aberta, mas como o ponta pé inicial foi forró, o corpo comprovou que realmente tem memória e rapidamente retornou às noites de Canto da Ema com a hermana de teatro "rastapé". Melhor antídoto contra a ansiedade. Se tiver dor pulsando, elas vão embora para cima da árvore mesmo, sem muito esforço. O colega de dois para lá e dois para cá percebeu que sou exageradamente elétrica e foi corporalmente retomando a condução: se deixar danço por minha conta e risco, pois como diria aquela comunidade antiga do Orkut, sou "autodivertida".
A didática não podia ser mais acertada: um professor ia explicando e pondo os homens para soltar o esqueleto e uma mulher fazia o mesmo conosco, para depois unirem os casais - a mestra generosamente também fazia as vezes de condutora. Sempre enfrentamos um déficit de parceiros nestas aulas, mas me jogo no ritmo mesmo sozinha ou com aspirantes a dançarinas
Depois veio explicação para o samba de gafieira! Quando a música nos estimulou, a mente veio palpitar, tentando descer da árvore:
- Não sabia que o Ney Matogrosso cantava este ritmo.
Mas devo ter aplicado a técnica do deixar o pensamento ir embora como nuvem, relembrada no começo da semana pelo Lama Padma Samtem. Reconheci a Elza Soares em dueto com ele, lembrei das noitadas no Teatro Mars na Bela Vista e foquei no corpo, nas dicas recebidas... Até que... Num segundo mágico senti o que os meditadores do Osho estimulavam: virei a dança. A mente pausou e eu sambei gafieira! Claro, por ser mágico dura uma fração de segundo. Mas já vale pela semana inteira.
Rodopio é lúdico, mas alongar e equilibrar o corpo já lapida a mente para sonos mais reconfortantes e trabalhos ligeiramente mais dificultosos. Como a facilitadora que me chamava para suas aulas é elétrica como eu, esperava suar tudo que está sobrando entre os pensamentos. Mas sua irmã que presenteou com uma prazerosa surpresa: yoga aérea.
Para quem tem saudade inconfessa do tecido do circo, parcamente experimentado e precocemente desistido, foi um mágico mergulho no abismo. Tinha pavor de qualquer ensaio de aula de ginástica olímpica na infância, com a mais modesta das alturas e venho desconsiderando este cagaço vida afora. Às vezes minha mente na árvore fez falta para captar as orientações da professora. Mas compensava do outro lado. Me senti aqueles bebês fotografados pela Anne Geddes. É quase um voltar ao útero. As costas se ressentiram na invertida e talvez por isso a foto saiu meio treme treme igual as histórica favela vertical do centro antigo.
Mas no relaxamento. Foi quase um renascimento. Compreendi vagamente o distanciamento daquele espaço tão terapêutico para mim. Foi um entendimento dum mal estar tão antigo e súbito que as previsíveis lágrimas "voltaram para o mar interno". Fiquei em dúvida de onde encaixar os braços, mas a liberação para liberá-los como achasse melhor me levou quase para as redes das chácaras de amigos, da família, do interior...
Embarquei na música. Mais tarde venci minha hiperatividade de querer criar noite adentro conectada. E para meus padrões hiperativos dormi cedo. Consegui começar o expediente antes do previsto e sem me irritar com o cortador de grama uivando na beira da janela. Venci o pavor de enfrentar o "tecniquês" adiado e não doeu tanto quanto imaginado. Ao contrário do que diz o Osho, o que imaginamos também pode ser pior do que quando acontece. Namastê para você também nesta manhã fresquinha como minha natureza calorenta agradece.
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