Ele me amarra e eu quero rir: lembro do sucesso do campeão de vendas nas livrarias e me divirto, pois à primeira vista é uma tortura chinesa contrair abdômen, manter a perna a 90 graus, ficar com os braços imobilizados e respirando... Só que o respirando faz toda a diferença. Capotei tão caprichadamente em algumas sessões que desconfio que o melhor sono não é o pós sexo, é o da sequência da reeducação postural global. Num dos atendimentos, até sonhei e queria discutir o enredo idílico com o terapeuta. Só não foi vexatório pois como diz minha mãe, não sei como não nasce cupim na minha cara.
Mas as tiras nos amarrando, a barriga firme, as pernas para cima e o ar indo e vindo nos surpreendem. Numa tarde derrubei umas lágrimas, sem fazer muita ideia qual a razão. Ele queria saber se estava tudo bem e eu "sabonetei":
- Não faz pergunta difícil. Sei lá o que essa água salgada está fazendo escorrendo na minha cara.
Sessões mais tarde eu desabei mesmo, a ponto dele buscar papel no banheiro do lado. Desconfio que não fazia ideia do quanto segurei de carcaça emocional embutida inconscientemente no corpo. Mas lá alinhada, amarrada... Aliviei. Até desabafei o que desconfiava ser a causa do chororô e embora a mulher dele é que seja psicóloga, ele também bancou o analista na beira do divã, quer dizer, à cabeceira da maca.
Nesta manhã eu ri de tudo, mesmo dormindo uma merreca. Desembestei a falar, para evitar dormir. Quero entrevistar o terapeuta, mas ele está é concentrado em tracionar meu pescoço, tirar a tensão dos ombros, realinhar costas, pernas, pés... Já fiz fisio de pilates, aquela "engana trouxa" de convênio cheia de choquinhos, com trocentos pacientes divididos em "zilhares" de biombos e o RPG. Em 2/3 delas sempre tenho medo de soltar gases quando eles começam nos virar para lá e para cá nos exercícios. "Grazie a Dio" ainda não paguei este mico. Mas ria de imaginar! Ria com as tiras me amarrando sem segundas intenções. Ria sei lá do que. De sono. Pra despistar o quanto meu sacro dói. Falo para ele escrever que deve ter tanta história de paciente "louca mansa" igual. Mas a menina das letras sou eu, não ele. Quem quer escrever ou encenar tudo que vê pelo caminho sou eu. Ele deve querer desentortar todo mundo, como um amigo que atua na mesma área.
E eu que tinha ouvido que o RPG para quem já estudou yoga não ia dar muita diferença. Que petulância de quem falou! Mesmo com curso de massagem, alongamentos que fazíamos nas aulas de teatro... As milhares de horas no "com...puta...dor" só podem desandar com tudo.
- Respira!
Voltando ao eixo. Ele é firme, que se der corda embalo nas brincadeiras, desalinho, rolo de rir ou choro "a cântaros" sem entender nada. Depois de formigar os pés de tanto alongar, do sacro me doer, de relaxar para ele encaixar a coluna e tirar a calça do lugar sem querer - pois todo o guarda roupa está sambando em mim, de sentir as mãos dele dando um trato nos ombros, olho para a bola de pilates e não resisto:
- Deixa eu alongar nela?
Me sinto tão criança feliz esticada e respirando assim. Fiz lá "fotozinhas" para registrar como saio do RPG. Mas saíram "daquele jeito", afinal estava de ponta cabeças. Sempre saio da maca leve como quem tomou um banho de sal grosso. E defendendo que devia fazer parte da declaração universal dos direitos humanos: a reeducação postural global. Para eu e minha amiga já é tanto direito adquirido que fazemos no metrô cheio, encostadas à parede, respirando fundo e soltando o ar sem pressa nem medo de ser feliz. Reposicionando a rainha, como a atriz Georgette Fadel considera a coluna. O eixo de tudo. Bendita seja a lombar que não deu mais sinal de vida...
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