Te estudei protocolarmente oito anos
Mas não adianta quando o racional te abraça
e o coração não se desarma
Te procurei em igrejas grandes, pequenas
simples, suntuosas
ritualísticas, pés no chão
Cheguei a vislumbrar um fiapo do que representas
em meio à natureza
meditando, fazendo yoga
tomando chá de planta, recebendo reiki
Mas escapas por entre os dedos
como a areia fina que escorre de ampulheta trincada
Te busquei desvairadamente
feliz com minha vida
e desesperada com ela
Tentei lhe falar na rua,
em casa, nos templos,
em retiros, nos parques,
em cachoeiras, com os pés n'água
Minha voz quase ecoou
jurei ter te encontrado
de mãos dadas com criança
rolando com cachorros
com gatos nos colos
Ouvindo mestre realizados
ou na simples presença deles
Só que na hora da dor maior
estiquei o braço e me desequilibrei
eu chorei até a cabeça doer
Olhei para os lados
mas nem um rastro da tua presença estava lá
Pedi tanto por minha fragilidade
pela minha impotência
por minha inocência
pelo quanto o quanto amo o que faço me cega
pelos homens da minha vida
que deixaram em mim
cacos fincados em lugares incômodos
Eu gritei, me indignei
pelos que têm fome
pelos que dormem no frio
pelos que perdem seus pais
pelos que quase enlouquecem
confundidos por não suportarem a realidade
pelos que não tem médico
pelos que não podem estudar
pelos filhos que vão antes dos pais
pelos bons que adoecem antes
Eu fiquei rouca
fiz pararem preocupados
aqueles que nunca me viram
mas se condoeram das minhas dores lancinantes
Ah Deus onde estavas
quando me vi na cova dos leões
quando me sangraram sem que pudesse me defender
quando me julgaram antes da defesa
quando me adoeceram antes que o remédio fosse criado
Eu comunguei, ouvi minha respiração,
dancei descalça na grama
dei o melhor de mim
fiz o que pude
pelos que amei
pelo que amava
Mas te perdi
em meio a água salgada
que lava minhas indignações
Ah Deus porque me deixastes
se tentei manter o cordão umbilical intacto
O que respondo quando me oferecem teu consolo
o que digo quando garantem teu apoio
de onde vem a mágica da vida
para onde vai o desconsolo do abandono
Onde cobro um dom relegado à margem
um amor incondicional que não encontra eco
uma batalha de armas riscadas e braços com cãibra
um dom que é também uma sina
Porque me cobraste uma fortaleza
que sequer me apontaram onde erquer
e como sustentar?
Onde se encontram
e se resignam com o vácuo dessa busca
os orfãos de Deus?
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