...desconsiderei os avisos e de repente me vi presa embaixo do balcão do computador, de camisetão de dormir, com o pintor pendurado na minha janela aberta devido ao calor. Se estivesse na cozinha ao menos oferecia comida. E no escritório? Pergunto se ele quer "tuitar" a pintura desta manhã? Meu cachorro não aceita a invasão aérea e late para o alpinista das tintas. E eu ali, descendo da cadeira, mais sem graça do que nunca, inventando conversinha pra boi dormir e o tempo passar mais rápido:
- Tem que ter coragem para fazer rapel nesta janela heim cara?
- A gente acostuma!
Será que demora demais para pintar este lado da parede? Minha coluna vai gritar daqui a pouco os maus tratos de ficar torta na cadeira disfarçando a falta de calça do pijama depois desta noite dormindo no quarto transformado em sauna.
Podia ser pior. Quando morei perto do metrô com uma colega do centro budista, uma manhã ela acordou com a manutenção abrindo a janela. Já pensou pegar a gente dormindo com o traseiro para a lua, quer dizer, para o sol? Mico campeão de todos os tempos.
- Ah, se quiser tirar esta rede de proteção fique à vontade! Me pendurei, mas não consegui: a inquilina caprichou para segurar o filho dela... Não faço ideia como retirar...
- Pode deixar, a gente pinta devagarzinho, com mais capricho!
Demoradamente? Ah, céus, passarei a manhã escorregando para baixo do computador. Tão sem graça que já até tinha esquecido o que buscar na Internet. Ria sem jeito para o cachorro deixar de latir para o pintor e fazia contagem regressiva para o martírio acabar.
Cem anos depois, de janela do escritório livre, tento correr para o banheiro. Preciso de estratégia de guerra para me movimentar nesta casa que se transformou no Big Brother: agora é a janela da sala que escancara o outro pintor.
Nunca, nunca mais deixo de ler o mural de recados do prédio!
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