Tuas palavras me provocavam vertigens
como os balanços da minha infância. Era um amor literário, confessemos. Quando
suas mensagens chegavam – e elas vinham todos os dias, religiosamente, me
sentia grata, por confirmar que estava viva novamente: as borboletas davam
rasantes em meu estômago. Me ensinou a delícia da suspensão de não saber onde
vai dar. E mesmo assim, achar mágico, especial, pleno! Até que uma pergunta se
interpôs entre nós. Como diria meu professor, a porra da palavra.
Gozado: foi você quem questionou:
- O que a gente tem? – E provoquei,
não resisti:
- Você não fala em amor livre? Quer
rotular mesmo assim? – Contei que não tinha ideia no que ia dar e mesmo assim
era incrível: me sentia com 15 anos quando suas palavras me visitavam e eu ria
sozinha.
- Só pergunto, pois daqui a pouco
começaremos a caminhar para o que não pode ser feito em público. – confessou.
De alguma forma me encantei. Ah,
o veneno da palavra. Quando caio nas graças dela, me descortino.
Esqueço que vocês ainda têm que conquistar e nos desnudar como pétalas de rosa
em botão.
Contei não aguentar mais ser tratada
como propriedade pela família e me sentir enclausurada no trabalho. Achava que
só na paixão podíamos nos rebelar contra isso. Que mais importante que a
fidelidade, era a lealdade. Que ninguém vale a sensação de momento perdido que
não volta mais. Que já comprovamos nos relacionamentos anteriores o quanto os
tradicionais morrem na praia. Que queria reinventar a experimentação amorosa
libertária, nem tão “Woodstock Now” quanto os amigos hippies retardatários e
nem tão caretas quanto já tentamos e nos frustramos. De alguma forma provoquei
teu vôo rumo à liberdade que tanto almejo. Prefiro um retorno demorado, mas
certo da saudade que sente a um estar do lado suspirando pelo que não viveu.
Confesso ainda sentir falta das idéias baterem como que ancestralmente e me
provocar frio na barriga digno de gangorra emocional. Mas há algo indefinível
entre o amor e a paixão que sabe esperar, reserva o tempo para semear, colher,
brotar, buscar o sol, germinar... Ainda sou um broto!
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