quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Paixão Que Espera


Tuas palavras me provocavam vertigens como os balanços da minha infância. Era um amor literário, confessemos. Quando suas mensagens chegavam – e elas vinham todos os dias, religiosamente, me sentia grata, por confirmar que estava viva novamente: as borboletas davam rasantes em meu estômago. Me ensinou a delícia da suspensão de não saber onde vai dar. E mesmo assim, achar mágico, especial, pleno! Até que uma pergunta se interpôs entre nós. Como diria meu professor, a porra da palavra. Gozado: foi você quem questionou:
- O que a gente tem? – E provoquei, não resisti:
- Você não fala em amor livre? Quer rotular mesmo assim? – Contei que não tinha ideia no que ia dar e mesmo assim era incrível: me sentia com 15 anos quando suas palavras me visitavam e eu ria sozinha.
- Só pergunto, pois daqui a pouco começaremos a caminhar para o que não pode ser feito em público. – confessou.
De alguma forma me encantei. Ah, o veneno da palavra. Quando caio nas graças dela, me descortino. Esqueço que vocês ainda têm que conquistar e nos desnudar como pétalas de rosa em botão.
Contei não aguentar mais ser tratada como propriedade pela família e me sentir enclausurada no trabalho. Achava que só na paixão podíamos nos rebelar contra isso. Que mais importante que a fidelidade, era a lealdade. Que ninguém vale a sensação de momento perdido que não volta mais. Que já comprovamos nos relacionamentos anteriores o quanto os tradicionais morrem na praia. Que queria reinventar a experimentação amorosa libertária, nem tão “Woodstock Now” quanto os amigos hippies retardatários e nem tão caretas quanto já tentamos e nos frustramos. De alguma forma provoquei teu vôo rumo à liberdade que tanto almejo. Prefiro um retorno demorado, mas certo da saudade que sente a um estar do lado suspirando pelo que não viveu. Confesso ainda sentir falta das idéias baterem como que ancestralmente e me provocar frio na barriga digno de gangorra emocional. Mas há algo indefinível entre o amor e a paixão que sabe esperar, reserva o tempo para semear, colher, brotar, buscar o sol, germinar... Ainda sou um broto!

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