sábado, 23 de fevereiro de 2013

Entrevistadora e contadora de histórias quase compulsiva

2013 mal deu seus primeiros passos e nós, fofoqueiros profissionais, já tivemos datas para "bebemorar" duas vezes. Sinal de que meu pai não está de todo errado quando diz que "os médicos pensam que são Deus, mas os jornalistas têm certeza". Verdade que depende de onde se trabalha, não cabe o ego e os profissionais de comunicação juntos na mesma redação. E que andei meio brochada querendo pular do barco enchendo d´água de boia salva vidas em direção à terra firme: é que meu porto seguro, o teatro, era uma miragem, então acabei voltando a nado e pedindo para subir na canoa furada, com esta cara que só Buda sabe como não nasce cupim, de tão peroba, quer dizer, cara de pau!
Dizem que os loucos se atraem: ontem comecei a conversar com uma menina por conta do sapato dela (sonho acordada com o dia em que encontrarei um que não deixe meu pé em estado lastimável) e adivinhe? Ela faz jornalismo. Nem precisei dizer que a coisa está complicada para os coleguinhas da área, ela mesma comentou isso. De qualquer maneira sou meio contra brochar quem está começando: vai saber, a comunicação é um perrengue para alguns de nós, para o foca em questão pode ser diferente. Falei o de sempre, que comento para os que torcem a favor e contra, ainda que sem querer:
- Você sempre terá as melhores histórias de mesa de boteco, em compensação, raramente terá grana.
Onde mais um colega da área lembrará do chefe que em pleno fechamento recorda de uma cobertura no Chile em que bebeu tanto e o álcool deu um sono tão abençoado que nem sentiu o terremoto, só acordou com o chefe ligando no hotel e o quarto quebrado e virado do avesso:
- Como você está depois desta tremedeira toda?
- Ainda estou apurando os detalhes!
Aqui fui atriz fingindo que fazer adubo com estrume não agredia o nariz
Só no picadeiro da informação, pois como disse este finado blog, lugar de palhaço é no jornalismo. Há quem cisme que minhas profissões não são compatíveis: o que teatro tem a ver com jornalismo? Mas já aprendi a atuar em entrevista: nadava com uma menina que perguntou:
- Minha amiga faz programa para pagar a faculdade. O que você acha?
- Não tenho o que achar, cada um dá seus pulos como pode. Ainda bem que meu pai paga metade da minha.
Pouco tempo depois, quando fizemos a revista Pária, com entrevistas de moradores de rua, índios e... garotas de programa, fui pedir reportagem para ela:
- Elas não fazem nada de graça.
- Não posso pagar o quanto ganham com cliente, no máximo R$ 20 (há uma década e meia atrás, devia ser um valor razoável? Ou realmente faço valer minha fama de zero à esquerda com contas?).
- Fechado. Sou eu mesma. - e aqui começa minha prática de fazer cara de paisagem a cada revelação surpreendente, mas esta capacidade chegou ao seu ápice com a lembrança dela de uma saia justa no motel Faraós - Uma vez um cara queria sair com uma loira e outra morena, mas quando chegou lá começou a xingar minha amiga, que sacou um "tresoitão" e desceu bala nele. A polícia chegou e tratou como legítima defesa, estava em dúvida se era isso mesmo, mas claro que fiquei na minha. - eu ainda não sabia, mas já era atriz e fiz cara de "Vento no Litoral".
Nem só de choques e saídas cômicas se faz um repórter. Quando estava terminando a faculdade e já trabalhava no iG, entrevistei para a Metodista a Esmeralda Ortiz, que não tem este nome à toa: é uma preciosidade mesmo sobreviver à infância na Praça da Sé, com tantos amigos presos ou mortos, depois de violência sexual em casa e na rua, publicar o livro Por que Não Dancei e trabalhar com o Gilberto Dimenstein. O texto e áudio produzidos para a faculdade foram aproveitados no portal depois. E como diz meu amigo multicor, quando a gente se emociona trabalhando, caramba, como valeu a pena a escolha!
Tem as lembranças intangíveis. Como fazer as pazes com a própria voz na Eldorado AM, depois de ouvir colega com voz fina, que parecia ter mão de obra infantil na rádio. Falava dos aeroportos seis e quinze da madrugada, pensava que a humanidade ainda dormia, mas no atendimento ao ouvinte, um deles reconheceu:
- Você fala dos aeroportos cedinho!
Inevitável: como conversamos com Deus e o mundo, em reportagem ou divulgando, ou os coleguinhas se lembram do meu nome, da minha voz, do meu cabelo cobre ou da risada (indiscreta como convém a uma sagitariana com ascendente em leão).
Às vezes a recordação nem é de por a mão na massa: no Canal Rural lembro de todos nós em volta da TV acompanhando o Grito dos Excluídos, caminhada com movimentos sociais até Brasília para reivindicar seus direitos - e aqui, confirmei minhas raízes de filha de sindicalista: "putz! É do lado deles que estou!"
Fora as lembranças tragicômicas, como a chefe que dizia "não quer que fique nervosa, me arrume namorado" e quando a encontrei na fila do cinema atravessei a rua. Na redação quando ela dava piti eu olhava e dizia:
- Ainda nervosa? Vou dar uma voltinha. - mas lá pro décimo segundo grito fui para o RH e joguei a toalha.
Fora a administração de ego: na Kiss FM passei reto por alguma dupla sertaneja que estava com todas as recepcionistas e faxineiras gravitando em volta e depois brincaram que eles não se conformaram da estagiária não reconhecê-los, mas eu tirava sarro:
- Faço questão de esquecer quem canta "uma deusa, uma louca, uma feiticeira".
Em tempo: a Kiss é do mesmo grupo da sertaneja Tupi. Mas vá lá, sou grata por ter ganho ingresso para o show do Djavan, pois a Alpha também era do mesmo proprietário, um chefe virtual que só dava o ar da graça remotamente.
Os jabás são outro capítulo à parte: neguinho tem que se conscientizar que a puxação de saco é para o veículo e não para ele! Tudo bem que às vezes a coisa fica meio nebulosa mesmo: fiz matéria para o programa Próxima Parada em Monte Verde (a Campos de Jordão mais alternativa) e quando voltei em lua de mel, fui conversar com a dona de um restaurante, que não deixou pagar a conta e o atual adorável estranho conhecido ficou sem graça pra caramba. É, talvez contabilizando o que já ganhei em produto, viagem, almoço e festa eu realmente tenha feito uma grana fictícia considerável.
O Osho tem razão: o que imaginamos é sempre melhor do que quando acontece - assim que comecei a estudar minha tia disse que estava fazendo uma novena para eu nunca cobrir guerra, mandei suspender, pois era meu sonho fazer esta cobertura, mas quando ajudei o Alexandre Hisayasu na apuração da máfia de funerárias para o Diário do Grande ABC ou quando fazia aquelas rondas ligando para tudo que é polícia atrás de uma tragédia considerável para cobrir, já ficava mal, se fosse para o front ia chorar na cabeça de criança baleada, não daria muito certo. E assim a léguas de distância do rumo que a vida foi tomando, confirmo que Deus não escreve certo por linhas tortas, é disléxico mesmo - mas dizem que eles são inteligentes pra caraca né!
Quando a gente compra a causa por conta da matéria também não esquece! No ano passado, quando fiz entrevista com o pessoal da Escola Mandala, em Viamão, onde a comuna do Lama Padma Santem põe as crianças para meditar e praticar cultura de paz - neste caso já amava o projeto antes da reportagem. Uma fiz escrevi sobre os Amigos da Escola para a revista Filantropia, fui contar histórias na municipal Campos Sales aqui do lado de casa e descobri outra paixão bandida da qual não consigo mais fugir: "contação" de histórias. Ontem por conta dela fiz o tal link que os desavisados não enxergam na profissão: a introdução às danças da bailarina Paula Lena no Centro de Estudos Universal era em tom quase noticioso, as poesias que vinham na sequência, meio atriz e meio contadora. Disse à bailarina que adoro ouvir todo mundo que entenda demais ou goste muito de qualquer coisa e ela contou que o pai é assim:
- Coisa de quem também tem algo que entende muito.
No fim da noite, o balanço é de preju, para fazer jus à fama de que teatro tem que amar mesmo, pois além de não ganhar, ainda investe e termina no vermelho. Ah Deus, você será fanfarrão mesmo? Então se o mundo acaba hoje eu estarei dançando...
P.S.: temos seis datas comemorativas no jornalismo. Catzo!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Amor que não sabe dizer o nome


A Rússia rachou um meteoro
enquanto me meto num novo território
e parafraseando um dos poetas da minha vida
me pego embriagada nessa inspiração bandida
o amor que não sabe dizer o nome
perdoa o primeiro homem da minha história
e sobe no salto encantado até onde lembra a memória
cozinha cantando mantra e conversando com cada ingrediente
lembra aquele tranco recente e aperta o dente
o amor que não sabe dizer o nome
das risadas em conjunto tem fome
e de um companheirismo que vai se desenhando
agradece e espontaneamente se pega tateando
essa cabra cega que é reconhecer
cada encaixe retórico e corporal que quase deixei perder
o amor que não sabe dizer o nome
não enxerga a que distância está da paixão
e mesmo desconfia que ainda não andou descalço no pântano amoroso
é que desencontrar palavras para ele é um tanto perigoso
só que ao mesmo tempo inebriantemente gostoso
o amor que não sabe dizer o nome
estranha a vaidade que rompeu a barragem
e acha que voltar para o palco e a massagem
tem um ar mal disfarçado de miragem
quebra brinco e deixa pistas para trás
ao mesmo tempo não acha o caminho de volta
mas pensando bem, que retorno importa?
o amor que não sabe dizer o nome
quer mais é quebrar o lápis e se entregar à euforia
que remodelar um jeito impensável de se gostar é a maior alegria
Franzoca Brandão

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Antes do temporal cair

Te gosto assim manso
não conhecia outro terreno
que não fosse o pantanoso da paixão
ou o cochilo na rede do amor
E me vejo aqui num estado intermediário
um sonho na vigília
com sons, cores, cheiros, gostos e toques
recém redescobertos
É um subir outra vez na balança
agora quase madura
sei como pegar o impulso
só tinha enferrujado
como esse vento no rosto
é preenchido
do que não sei nomear
Gosto de tatear esse espaço novo
e me esquecer
redescobrindo o que tinha desconhecido
Por uma curiosidade infantil
e coragem adulta
abro espaço pras tuas velhas novas risadas e reflexões
Não sei qual é o caminho
mas reconhecer novas rotas
me leva para onde não sonhei
Quando sinto o frio na espinha
virar estremecimento
mordo os lábios
e acho esse reaprender a sentir
melhor do que esperava

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ciranda das Mulheres Sábias

E só entre nós
temos de volta o aconchego do útero
E ao mesmo tempo em que uma bate
e não assopra o suficiente
Outra vem te ensinar
como revigorar o cabelo
e a alma, ao mesmo tempo
Uma corre em socorro daquela que chora
que depois reinventa as unhas
e brinca de bonecas adulta
preparando a cama de gato
Para o arranhão que outra fará
E em grupo tecemos histórias
aprendemos uma com a dor da outra
Lembramos que cada oportunidade
traz com ela uma potencial novidade
E nos lambuzamos de café e bolo
preparamos o afago mais caprichado
Na vaidade da que mais precisa
A que viveu mais
releva quando a paixão provoca estrago
Tem a que contribui
com a libertação pela risada
A irmã que te puxa de volta à realidade
quando o balão de gás subiu demais
A que só sabe amar de sopetão
A que te arruma
um guardião para as dores da sua alma
A que põe no colo
quando a represa transborda
A que faz alquimia junto
respira e distancia das dores em par
A que patina de mãos dadas
no caos em que escolhemos
para dar nosso melhor
A que se desculpa
quando põe numa roubada sem querer
e desembaça os óculos
quando vemos um príncipe
no lugar de um sapo
A que canta junto
e também contribui
para se conscientizar
da dádiva do presente
A que vai e vem
feito onda do mar
mas nos reencontros
demonstra que nada mudou
A meio zen, meio intelectual
com a qual as risadas
são asseguradas
A que aprendeu junto
e voou longe
mas te quer sempre por perto
A que lembra
da timidez perdida no limbo
da infância
A que esnobou criança
depois posou para foto
também viu os pensamentos
passarem como nuvens
ganha o mundo
mas mantém o coração ao alcance
E a que torce pela outra
mesmo que a quilômetros de distância?
Divide faxina, divulga pauta
e sempre dá um jeito de se manter presente?
Que aquilo que passamos apertando
os dedos uma das outras
ilumine outros muitos caminhos
E as gargalhadas a cada reencontrar
garantam muitas e muitas
tragicomédias para contar

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Me ama com a verdade da risada

Pelo caminho do coração
o que tenho que melhor
veio à tona:
é minha parte que chora
não importa se provocam
se realizam com minhas lágrimas
ou riem delas
Melhor sentir demais
do que de menos
É que quem não consigo
ficar muito tempo longe
só conhece a sinceridade
que provoca inundação
mas pelo que as palavras não alcançam
o amor insiste, teima,
se arranha, fica meio criança sem rumo
mas escreve e quando joga luz
vê que devolve o que recebeu
A gente só sabe se amar
aos solavancos
A luminosidade
da maior parte da família
é a honestidade da brincadeira
que budistamente
nos liberta pela risada
Quem já aprendeu
a amar pela via lúdica
que olhe o amor aos trancos e barrancos
e sorria
Para aqueles que só amam
enviesadamente

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Já calibrei o conteúdo: hora de fazer o acabamento

Uma colega de profissão dizia que se me arrumasse ia continuar inteligente. Dizia que não duvidava disso, mas que queria que gostassem do meu conteúdo, não da minha casca. Então um pouco para conquistar o amor do meu pai pé no peito que era sindicalista e outro tanto por admirar as super mulheres de carteirinha virei feminista xiita: além de ler e assistir o que pude sobre Pagu, Olga Benário, Anita Garibaldi, Frida, Rosa Luxemburgo, era uma "bicha grila retardatária" e me recusava a render às "peruices" às quais uma parcela significativa da mulherada está "em casa": me maquiar, depilar, fazer unha, cozinhar feito bruxa encantada...
Mas aos 45 do segundo tempo, depois de estudar maquiagem no técnico de apresentadora do Senac e na licenciatura de artes cênicas da Faculdade Paulista de Artes finalmente caiu a ficha de como fazer por minha conta e risco. Tem saído a contento: engana que não sou tão nova em entrevista e é meio mágico quando quem interessa repara nestes detalhes.
A maníaca aqui ainda come as unhas... Mas já me diverti horrores com a psicóloga leiga da manicure, pesquisando unha inglesinha, que lembra a francesinha, mas brinca mais com as cores, experimentado várias opções nas mãos dela e minhas, tentando vermelho e rosa, desandando na mistura, acertando a mão com roxos de diferentes tons e fazendo piada do inimaginável. Além de fazer noite "mulherzinha" com a prima e deixando que ela pusesse cores no que me sobrou de unha.
A depilação é um capítulo à parte. Já escrevi um milhão de vezes que sempre quero ir com amigas, para segurar nas mãos de cada uma ao invés de agarrar a maca, quem sabe não berrar o suficiente para que a depiladora perca as clientes de cabeleireiro e manicure lá fora. Só que desta vez... A tal cera marroquina com seu cheiro que me senti "na incrível fábrica de chocolate", o talento da depiladora para terapeuta informal... Quando percebi consegui como "nunca antes na história deste país" deixar um bigodinho de Hitler!
E depois de um semestre apanhando das panelas na cozinha, de repente, elas estão a meu favor e amigos, primos, "amigo arco íris" estão repetindo e até achando que pego alguém pelo estômago. A alquimia wicca veio para ficar, pois minha professora de contação de histórias tinha muita razão quando dizia que querer cozinhar para nós é sinal de que a auto estima está em dia. Como merecemos este agrado!
Um olharzinho de artista plástica e enquadrado de fotógrafa tem dado o ar da graça, ainda que após muitas ideias soltas e irremediavelmente perdidas nos estudos de teatro, cursos e oficinas de foto, cerâmica e afins. Pintei uma garrafa de vinho que virou um vaso "pós dramático" (como tudo que não compreendemos no palco). Um exame de retina está para virar um quadro aqui. A bandana da última várzea que trabalhei deixou de me irritar e encapará a caixinha de força. Os caixotes de madeira, que ganharam cola ecológica, finalmente se tornarão a "estante alternativa" que venho mirabolando. E com dó da minha câmera ter dado pau, tenho fotografado a rodo o que nem pensei que pudesse render imagem interessante com o celularzinho meia boca mesmo. Quem diria que aquela que ouviu da mãe que "se desinibisse mais com o teatro para a TV comunitária que abastecíamos com exercícios na primeira faculdade faria matéria pelada", de repente, não mais que de repente quer mergulhar em artes introspectivas, ou como sempre brinquei "autistas".
Depois de um tempo significativo ouvindo o chamado para voltar a fazer massagem, que é terapêutico para quem faz e recebe, finalmente "coloquei a mão no músculo". E ganhei de volta, mexi com a postura na motoca e com toda a interação posterior. Coloquei minha dor na árvore para cuidar da que o outro sentia e "sublimei" o que não podia processar naquela noite.
"Milhões de anos" depois de salivar vendo os ciclistas cruzando a cidade na magrela e tomando vento no rosto, subi numa para vencer o medo de despencar. Não, não tive infância. Pedi uma "biquetinha" e ganhei aquelas antigas "tonquinhas" de três rodinhas, só que para mim estava implícito a evolução para uma de duas. Que nunca veio. Ao menos na última aula, depois de seis anos enferrujada sem um personal biker, quando terminei com a impressão que até ia em linha reta, mas caía ao virar, consegui meter o pé no chão antes de desabar e andar o que...? Dois ou três metros antes de descer do pedal para o chão. Já é uma melhora. Só preciso fazer a carteirinha online para alugar as bikes que tenho visto em vários pontos e tem possibilidade de deixar noutro canto.
Também ando na fase mais apaixonada do que nunca pela dança. Experimentei tribal, dois tipos diferentes de indiana, voltei à de salão para matar as saudades do forró e samba de gafieira e senti a graça de no momento em que a mente sai para tomar um café, virar a dança. A que parecia que não conseguiríamos, mas se torna a própria meditação.
"Mulherei" com um atraso significativo, mas como diria meu colega "antes tarde do que mais tarde". E admitindo que a psico tinha razão, pois não perdoei meu pai, sou manipuladora e quando ele é pé no peito eu sou na porta, ouvi a recomendação de uma técnica que já tinha sentido na terapia de grupo como a solução para nosso impasse: a do abraço. E na última vez em que ele me pegou de calças curtas numa situação para lá de constrangedora, em que fui ao encontro dele querendo soltar os cachorros, enxerguei o menino, que não se tocaram que precisava de cafuné quando dava piti na infância. Ao invés de partir para a porradaria verbal, abracei e milagrosamente a carona não rendeu mais um bate boca para a coleção.
Mas virar as dores do avesso e de ponta cabeça com a psico tem calibrado meu olhar para além da família. Ver o parceiro como menino não superestima o que carinho e atenção podem fazer pela minha criança ferida. E quando cuido da dor alheia, a minha pára de latejar.
Neste feriado fazendo psicanálise com família praticamente "ganhei no caça níquel" zilhares de fichas caindo "tudo ao mesmo tempo aqui e agora": quando meu progenitor me batia quando caía e chorava, era como a girafa que dá coice no filhote para fazê-lo forte e bancar a feminista "desencanada do visu" foi uma maneira enviesada de não perder o amor dele, já que para autorama "presente de grego" da infância nunca dei bola. Ser artesanalmente caprichosa com a embalagem é um capricho que lustra o combalido depois de tanta paixonite durando até a página dois e nesta altura da vida, já cuidei tanto das curvas do meu cérebro que estou liberada para dar uma de "Barbie mal disfarçada", depois de me tocar na aula de cerâmica que era uma "peruinha encroada", pois reclamava do barro sujando esta unha que não tenho, pois como até me revoltar por ter detonado o trabalho da manicure. Quando me preocupei com os ralados no rosto quando desmaiei, deixei a "vaidosinha mal resolvida" vir à tona. Mas quer saber? Já ouvi muito que sou inteligente e não sei o que mais. Está na hora de ouvir que estou bonita, cheirosa, magra, o escambau. Meu pai não deixará de me amar por isso. Muito menos os demais representantes da ala masculina, que já foram mais que generosos com meu "estilinho hippie fora de época". E bem, se não me meti onde queria no mercado sendo cabeçóide, quem sabe espirrando um perfuminho e retocando o lápis?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Brecando a mente celebrando a existência do corpo

Minha mente é um 220 voltz intermitente. Para mim costuma ser mais difícil desligar para sonhar do que pular da cama. E o parceiro de dança recém conhecido no Sesc Vila Mariana acertou na mosca: preciso por o corpo para movimentar para desligar e ressonar. E há três semanas tenho feito isso, mas estou num reacender do meu caso de amor com a dança. Qual? Todas que puder experimentar. "Peguei o  bonde andando para sentar na janelinha e dar tchauzinho" na aula aberta, mas como o ponta pé inicial foi forró, o corpo comprovou que realmente tem memória e rapidamente retornou às noites de Canto da Ema com a hermana de teatro "rastapé". Melhor antídoto contra a ansiedade. Se tiver dor pulsando, elas vão embora para cima da árvore mesmo, sem muito esforço. O colega de dois para lá e dois para cá percebeu que sou exageradamente elétrica e foi corporalmente retomando a condução: se deixar danço por minha conta e risco, pois como diria aquela comunidade antiga do Orkut, sou "autodivertida".
A didática não podia ser mais acertada: um professor ia explicando e pondo os homens para soltar o esqueleto e uma mulher fazia o mesmo conosco, para depois unirem os casais - a mestra generosamente também fazia as vezes de condutora. Sempre enfrentamos um déficit de parceiros nestas aulas, mas me jogo no ritmo mesmo sozinha ou com aspirantes a dançarinas
Depois veio explicação para o samba de gafieira! Quando a música nos estimulou, a mente veio palpitar, tentando descer da árvore:
- Não sabia que o Ney Matogrosso cantava este ritmo.
Mas devo ter aplicado a técnica do deixar o pensamento ir embora como nuvem, relembrada no começo da semana pelo Lama Padma Samtem. Reconheci a Elza Soares em dueto com ele, lembrei das noitadas no Teatro Mars na Bela Vista e foquei no corpo, nas dicas recebidas... Até que... Num segundo mágico senti o que os meditadores do Osho estimulavam: virei a dança. A mente pausou e eu sambei gafieira! Claro, por ser mágico dura uma fração de segundo. Mas já vale pela semana inteira.
Rodopio é lúdico, mas alongar e equilibrar o corpo já lapida a mente para sonos mais reconfortantes e trabalhos ligeiramente mais dificultosos. Como a facilitadora que me chamava para suas aulas é elétrica como eu, esperava suar tudo que está sobrando entre os pensamentos. Mas sua irmã que presenteou com uma prazerosa surpresa: yoga aérea.
Para quem tem saudade inconfessa do tecido do circo, parcamente experimentado e precocemente desistido, foi um mágico mergulho no abismo. Tinha pavor de qualquer ensaio de aula de ginástica olímpica na infância, com a mais modesta das alturas e venho desconsiderando este cagaço vida afora. Às vezes minha mente na árvore fez falta para captar as orientações da professora. Mas compensava do outro lado. Me senti aqueles bebês fotografados pela Anne Geddes. É quase um voltar ao útero. As costas se ressentiram na invertida e talvez por isso a foto saiu meio treme treme igual as histórica favela vertical do centro antigo.
Mas no relaxamento. Foi quase um renascimento. Compreendi vagamente o distanciamento daquele espaço tão terapêutico para mim. Foi um entendimento dum mal estar tão antigo e súbito que as previsíveis lágrimas "voltaram para o mar interno". Fiquei em dúvida de onde encaixar os braços, mas a liberação para liberá-los como achasse melhor me levou quase para as redes das chácaras de amigos, da família, do interior...
Embarquei na música. Mais tarde venci minha hiperatividade de querer criar noite adentro conectada. E para meus padrões hiperativos dormi cedo. Consegui começar o expediente antes do previsto e sem me irritar com o cortador de grama uivando na beira da janela. Venci o pavor de enfrentar o "tecniquês" adiado e não doeu tanto quanto imaginado. Ao contrário do que diz o Osho, o que imaginamos também pode ser pior do que quando acontece. Namastê para você também nesta manhã fresquinha como minha natureza calorenta agradece.