Nem é pelo cheiro da água
quase para desabar
que me apaixonei por lá
é pelo que vem da infância
pelo gosto de bolinho de chuva
pelo pé no chão no quintal grande
pela rede na varanda
a vó tentando me por pra dormir
ou guardando pote de danoninho
para brincadeiras mágicas
não é pelo aroma da máquina de café
que tenho saudade incurável
é do vô escrevendo
da vizinha no muro
da boate do interior
do caramanchão perto da igreja
das ruas carimbadas
dos cachorros, muros e carros
meio brancos e marrons
não culpem a terra vermelha
invandindo o nariz e o olhar
mas um jeito sem pressa de sentar
com os parentes e prosear
de dividir comida
e falar pela janela
é por um certo aconchego
é o vô sem voz
depois de puxar
bloco de Carnaval
é o por do sol
visto em cima
da moto do primo.
É o recorte de um tempo.
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