terça-feira, 30 de setembro de 2014

Homofobia politica e nossa miopia emocional

O discurso inflamado do candidato folclórico às eleições é típico de quem não consegue amar. Para quem consegue, pouco importa se o amor é lilás, amarelo, negro ou arco íris. E quem não é capaz disso é digno de compaixão. Vai partir da vida sem o melhor dela. Gay é tão legal que nós mulheres hereros seríamos muitíssimo gratas se vocês mocinhos tivessem...vá lá: 1/3 das capacidades estética, sentimental, analítica, qualitativa, cultural, aventureira, natureba, divertida e espiritual deles. Como não têm, nós vamos lá e como Naum de Souza, bailamos na curva. Perdemos o pé. Sofremos de miopia emocional. Enfiamos o pé na jaca e perdemos o amigo. Abrimos o coração com a professora mais próxima e descobrimos que... A torcida feminina do Flamengo já fez isso. Serve pra ensaiar um auto perdão, mas não ameniza a perda do irmão. Mais essa ainda. Como se não bastasse ser retardatário, platônico... Incestuoso. Nessa criaçãozinha judaico cristã de meia pataca, um prato cheio pra mais terapia. Depois de tanta nebulosidade emocional, ajuda a dilatar a gratidão. Pelo show surpresa. Por reavivar a empolgação futebolística, pelos estímulos espirituais, pela paixonite felina mútua, pelas esbornias gastronômicas em dupla, pelos eternos debates políticos, por escancarar minhas ignorâncias mal disfarçadas, pelos sonhos aventureiros, pelos fermentos profissionais e amorosos, pela generosidade, pelo cuidar, pelas criticas construtivas, por ajudar a desencanar, por segurar minha mão em noite de choro, por represar o exagero das minhas dores, pelas doações sem fim, pelas tardes, manhãs e noites professorais levando pelo braço, pela ironia, pelas alfinetadas, pelas reclamações, pelas seguradas, pelo partilhamento dos grilos, pela forçosa quebra de preconceitos não sabidos, pela bênção da confirmação de que é possível se por no lugar do outro, pelas acordadas divertidas, pelo aguentar por quanto foi possível, por me ensinar, por colocar fogo na vontade de ensinar, por ler pra mim, por estar ali em noites angustiantes, por me chacoalhar, por me. Se o hetero terceira idade reaça não é capaz dessa entrega, acho que rola ai uma inveja braba e a ciumeira que ouvimos no budismo: o bode com a felicidade do outro com qualquer coisa que não eu. Pena que eu ainda estava no jardim de infância emocional. Onde agora estou eu e Deus. E pra uma atéia, até converso demais com Ele.

sábado, 13 de setembro de 2014

Época felina

Quando era criança, minhas tias vizinhas já eram gatólogas: tinham vários, adotados, se não me engano abandonados. Dormia e visitava muito as duas na época, a avó ainda era viva, mas eles eram bem "nós gatos já nascemos pobres, porém já nascemos livres". Lembro de dormir na sala e acordar com rasantes dos felinos em cima da gente. De subirem em tudo. E serem bem blasê conosco. Mas eram afinal, a laia de bichos domésticos que tinham personalidade. E eu não podia falar muito, que também não era lá nenhuma facilidade na convivência quando criança.
Convivi pouco com cachorro, lembro dos que meu avô teve, mas que tinham ciúme de mim, tentaram me morder e ainda bem, fui protegida pela bota ortopédica. Não era de todo mal usar aquilo. Lembro do pequinês do vô, que parece ter entrado em extinção.
Minha prima também teve gata, que pulava na perna da gente quando tingíamos os pelos das pernas e pulávamos pois a oxigenada ardia. Mas com estes dois convivia pouco, moravam no Paraná.
De lá pra cá tive um cachorro, adorável, mas que também tem personalidade: não gosta de colo, quer ficar perto, faz festa com a comida, o passeio, comemora as chegadas das visitas, há dez anos batiza a casa toda, nunca foi muito de brincar e foi sequestrado pela minha mãe. Pensei em entrar em litígio pelo bicho com ela, mas também quero por Brandão no nome, divorciar de vez, meter a "várzea trabalhista" no pau,ou seja, não tem verba pra tanto processo assim rs
Recentemente uma amiga falou maravilhas da gatinha dela, antes de voltar pra Europa. Fiquei toda curiosa. Minha professora de canto tem uns adoráveis e o outro aluno dela, também meu amigo cria outros incríveis. Mas foi um amigo budista que me deixou doida pra ter uma fêmea felina em casa. É como a amiga "jornalêra" fala: eles são sempre uma surpresa. Com o Bidu as comemorações e reações são sempre as mesmas. A Sofia, gatinha que me reencantou com as felinas não: brincou com meus brincos, aneis, corrente, cacho, saia, deitou no ombro, veio ficar de barriga em cima da minha quando ainda estava operada, ou seja, toda semana era uma novidade! E mia que mia, tagarela como eu, ronrona até dizer chega! Aí ameaço ser casa temporária de gato pras protetoras, minha mãe diz que trará o Bidu de volta em casa, não traz e permaneço sem gato.Desaforo! Só sei que acho uma delicinha acordar tentando dormir e eles empatando os movimentos na cama. Na minha mãe, o Bidu subir na cama é uma contravenção grave, no meu amigo da gata idem. Em casa é uma várzea rs. Sabe compensação de quem tem peso na consciência de passar tempo demais fora? Enfim, acho que preciso mostrar este post pra amiga protetora da professora de canto. E rom rom rom pros gatuchos de vocês. Que peludo é tudo de bom! E já nasce configurado: vai direto pra caixinha de areia na hora que devolve pra natureza rs E nada de interagir com o que outro bicho colocou para fora. Cachorro quando a gente bobeia... Se bem que o meu, santo como só ele, deixa mexer na comida quando vai engolir e secar depois do banho. A Sofia deixou umas marcas aqui quando tentei ajudar numa limpa rs Esse "textículo" é só pra dizer que quem gosta, curte os dois. Que essa de gostar de um e do outro não, é coisa de bichólogo meio sociopata. Todos são uma delícia. Desconfio de quem não gosta deles. Ou de criança. Ou gosta de ser filho único...  

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Espontaneamente imaginativos

Inspirada na reclamação de um amigo sobre suas colegas corujando demais as crias, estou pior que mãe. Os estudantes espirram e eu lá babona: "owm"... Mas não é "tchutchuco" pedir idéias de bibliotecas diferentes e eles me trazerem mesmo sem valer nota, ponto positivo ou presença? Fiz varais das propostas deles na biblioteca em que trabalho e ficou uma graça: tem Kombiteca, Ecoteca, Interplanetarioteca (numa nave espacial), carteiroteca (que levaria cartas e livros), biblioteca flutuante (nessa eu queria trabalhar), gatos que entregam livros (Ligatos), cachorros bibliotecários (Bibliocão), Jatoteca (num jatinho), cinemateca, BiblioTV (parecida com a campanha de colega radialista "desligue a TV e vá ler um livro), Cai Passa (sempre que alguém passa cai um livro em suas mãos), Bibliofila (perto das esperas dos brinquedos de parques de diversão), Biblioprédio (um prédio na Vila Mariana tem), Bibliolanche (na lanchonete), Bibliorápido (tem carro perto... Será que é no ponto de táxi?), Biblioviagem (em aviões, quem sabe alivia o pânico de voo de tantos que trabalham em trânsito), Caminhoteca (meu primo caminhoneiro toparia trabalhar nela), Denteca (em formato de canino, pra distrair medo nos dentistas), Biblioestação (talvez nos irritássemos menos quando as CPTM da vida interditassem parte das linhas), Bibliotáxi, Biblioparque, Bibliorante (no restaurante), Biblioshopping (com lojas, por exemplo, especializadas em livros de aventura), Mercadoteca, Helilivro (nos helicópteros), Livro Doce ("quando João e Maria se perdessem encontrariam uma doce livraria"), Estatuoteca (será que ficaria num museu?), Biblioestádio, Lousateca (vamos combinar que é um uso muito melhor pros quadros verdes?), Bibliocarro, Bibliopiscina e Lemoteca (não, não tem formato de uma limonada suíca).
Sei que não dá pra comparar, mas no Estado valia nota e o retorno era de meia dúzia entre os 400 estudantes que lecionava.
O "folclore do magistério" me fez esperar aluno dizendo que "pagava meu salário", mas eles são uma graça. Não dá pra comparar a alegria de saber boas notícias dos ex alunos na educação (ainda que voluntária) de ouvir elogio a um texto (na semi profissional comunicação). O jornalismo, como diz um colega me mudou. Mas a educação muda o mundo.
P.S.: Em tempo: reencontrei um colega que dava (literalmente) aula comigo no cursinho comunitário de vestibular do Educafro no Heliópolis. O pessoal que trabalhava lá foi contar à mãe dele, que ainda tem
comércio na comunidade, que temos ex aluno em Stanford! Direto da maior favela de São Paulo!

domingo, 27 de julho de 2014

Insone

Noite dilatada
barulhos amplificados
cansaço fanfarrão
me deixa afundar
em delírio onírico
uns instantes de morte voluntária
mas o respirar intermitente
me frita nos lençóis
dá a fome inviável
das madrugadas insones
criação encroada
das linhas não expressas
molha olhos e travesseiro
ah, a cabeça
das ideias mirabola um vespeiro
alquimia wicca
assenta esse coração pandeiro

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Capineiros odontológicos

Eu sou cara de pau, mas dentista é "falta de educação". Eles "capinam roça" nos nossos dentes, pedem para bochechar um fluor que não disfarça o gosto de ferro quando cuspimos sangue na piazinha deles e têm a "cara larga" de avaliar:
- Não foi nada, vai!
- Doutor, saiu sangue da minha boca, como assim?
Ultimamente, só falto perguntar orientação partidária, time e religião antes de marcar consulta. As secretárias não entendem nada:
- Isso é realmente importante?
- Claro! Ele colocará três ferramentas na minha boca e vai disparar aquele falatório carente de sempre deles. Se for malufista, não conseguirei argumentar e terei uma síncope na cadeira.
Lembro de quando trabalhei na ONG Turma do Bem e o presidente fazia um mea culpa de que era uma faculdade elitista e para atender os poucos que pudessem pagar. Seria muito pouco provável encontrar algum de jaleco branco a favor do Bolsa Família. Faço concessões:
- Marco se não falar em temas polêmicos.
Mas também quando eles não abrem a boca dá mais nervoso ainda! É como ginecologista e depiladora antipáticos: começamos a prestar atenção no que estão fazendo e aí fica ainda pior do que o atendimento já é.
Sempre que fico cara a cara com o teto braaaanco dos consultórios deles sugiro (quando posso cuspir):
- Podiam fazer uns grafites no teto, a gente prestava atenção noutras coisas que não esse ziiimmm aflitivo da maquininha.
Trabalhei com uma dentista mexicana que dizia ser uma profissão que já se focava demais num detalhe e quando especializavam, ficavam ainda mais concentrados num pedacinho deste tamanhinho do ser humano. Brinquei com meu dentista sobre isso:
- A gente conta de um colega que cruzou a América de moto e vocês querem saber quantas cilindradas ela tinha.
Passo no terceiro em pouco tempo, para levantar orçamentos igual as empresas fazem com gastos altos inevitáveis.
- Então, tem que fazer uma coroa e...
- Dá licença, vou vender meu rim e já volto para fechar o tratamento.
- Não exagere vai!
- Vocês fazem carnê de tratamento dentário igual das Casas Bahia?
- Não sei quanto fica, vão te ligar. - ai dentista pião. Não sei o que é pior, tomar o susto deitada ou ser pega de surpresa depois na calada de uma distração qualquer, para depois sabermos que tem que hipotecar a casa e fechar os buracos da boca.
- Pô se tivesse uns solteiros para fazer escambo por favores sexuais...
Meu pai quer socar a revista da sala de espera em mim e tenho que avisar que é brincadeira.
- Do outro lado não moça, é um pouco menos.
Ele faz uma longa e didática explicação sobre a força que incide nos molares, a reação do dente, as quebraduras, como alimento mole tira os rachados de lugar. Lembro de uma professora ótima de física do ensino médio.
- Acho que já que chama coroa, devíamos fazer uma cerimônia, um ritual: adeus saldo bancário! O que acha doutor?
Ele se diverte. Devia negociar risadas por descontos.
Minha chefe até arrumou um mais barato, mas tem que pegar um jegue, um cipó e uma jangada para chegar lá.
Tenho ATM, ou seja, forço o maxilar dormindo. É difícil abrir a boca na cadeira deles: ela já é meio travada. Com os bonitões, ela se abre meio caindo o queixo, facilita.
Precisava descobrir o esquema de venda de óvulo da colega duma vizinha, daí dá para arrumar a boca, mas é meio debaixo dos panos, nada oficial. Catzo.
Não à toa a maioria dos brazucas tem boca zoada e quando brinco que se o pretê tiver emprego e dente já está de bom tamanho, meu primo diz que limo meio Brasil com estes pré requisitos.
Durmo com a placa sambando na boca e torcendo para esta noite a dita cuja não amanhecer longe da boca e eu com maxilar travado amanhã. Santa Apolônia, padroeira dos doutores do ziiimm, valei-me!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

ET na Copa

Os jogos começam e eu pareço vir de Plutão. Não, não vi o passe do meia do Cuzuquistão. Ah é, o goleiro da Malásia era uma graça? Não faço ideia qual foi o placar entre o Nepal e o Quirquistão. Queria mesmo era fazer parte do protesto online Vai ter Cópula. Mas como diz a tia da minha prima "recebemos currículos, fizemos dinâmicas de grupos e... não tinham o perfil". Daí no primeiro jogo fui militar na casa da professora de canto:
- Croácia! Croácia!
Mas lá para as tantas fui arrebatada... Pelas pernas dos jogadores. Que Marcelo é aquele cambada? Ah, ele fez gol contra? Hum...
Nunca pintei a rua, coloquei bandeirinha, colori muro. Na melhor das hipóteses tive figurinhas dos jogadores da Suécia, que eram uma graaaaça, há muitos anos atrás. Mas nesta temporada, é como se trocasse de planeta me mantendo na Terra mesmo. Um dos poucos assuntos que não tenho um mísero comentário a fazer, junto com as "editorias" carros antigos e motos. Fico lá ouvindo e enfiando o pé na jaca em algum vinho ou cerveja escura, para acordar "corta pulsos" no dia seguinte.
No último jogo também, estava com boleiros da zona leste e fiz uma social nos bares do Itaquerão, já que meu bolso não comportava ingressos na Arena e na educação não rolam "jabás" generosos como no jornalismo. Estranhei a comemoração europeia da Holanda: umas palmazinhas e pronto. Num dos gols na partida do Brasil também fui abduzida e comemorei. Não lembro o nível de álcool que foi necessário.
Cadernos de esporte sempre foram os que pulava, colocava na gaiola dos pássaros do meu pai ou usava de "banheiro" pro meu filho canino, o Bidu. Sempre "torci" fazendo pipoca da cozinha: basta acompanhar o ritmo da locução que quando fica mais exaltada, é batata: posso ir para a sala e rever o lance do gol um "porrilhão" de vezes, ouvir as análises - todo mundo é comentarista nato de "futibas", uma pena esse monopólio dos Galvão Bueno de sempre.
Trata-se de um talento para torcer não alimentado. Sou corinthiana não praticante: na barriga da minha mãe acompanhei ela pular quando o Timão levou um título e acabou com um "jejum" que se não me engano já durava 25 anos. Pois bem, quando ela parou de pular, eu comecei e a dona Lu passou mal. Ao nascer, meu pai comprou uma blusinha do Corínthians antes de saber meu sexo. Mas nunca me levou em estádio, oras, como podia me tornar "Gaviões" roxa? Só ano passado que colegas de trampo me levaram para ver Ponte Preta com uns argentinos no Pacaembu e gamei: é um esporte que faz sentido no estádio. Muito embora seja mais batuqueira que torcedora e só não me rendi ao ziriguidum dos hermanos por medo de sair alguma briga e estar longe dos meus acompanhantes.
Chutando pau na barraca recentemente, no último jogo me rendi ao atraso de sono e capotei. Sonhei com olas, ouvindo a vizinhança torcer enlouquecida. No próximo também estou curiosa pra conferir o movimento na Vila Madalena, que está caindo nas graças da "gringaiada", mas...com quem jogaremos mesmo?
Me sinto na pele da eterna incompreendida, quando ouço: "mas nem na Copa"?, ao confessar que não consegui cair de amores pelo esporte mais passional do País, parece quando recuso carne por ser vegetariana e tenho que ouvir: "nem peixe"?

domingo, 29 de junho de 2014

Coxinização de uma metida a alternativa

Ver os militantes mais xiitas cutucando os caretas via Internet com as imagens de coxinhas cheias de plaquinha reivindicando o supérfluo rendia risadas e uma certeza meio petulante de não fazer parte daquele universo: imagine, politizada de carteirinha, estudei com a filha do Lula, tive pai sindicalista, morei a vida toda ao lado do Heliópolis, não estou aí nessa “fornada gordurosa” gravitando em torno do próprio umbigo. E ainda tinha feito jornalismo para mudar o mundo: pausa para gargalhadas.
Recentemente passando uma tarde com amigos de histórico escolar em colégios públicos, um que me considera desertora por ter migrado da escola estadual para a particular, fico com o rabinho entre as pernas quando brincam:
- Você podia ter sido uma baita coxinha nascendo em São Caetano, mas caiu na casa dum sindicalista, olha que carma bom!
Há quase uma semana venho refletindo nessa bipolarização política da direita e esquerda extremistas. Os menos exaltados também acreditam aqueles que se veem politizadíssimos mas enxergam uma revolução nestes países em que a queda do antigo poder acarretou uma perseguição aos dialetos regionais tradicionais uma espécie de “ursinhos carinhosos vermelhos”.
Fui admitindo minhas falhas nos últimos tempos: antigamente qualquer começo de papo político significada para mim uma subida ao palanque que tenho na garganta e uma prosa de varar madrugadas. Quando o PT deu uma flexibilizada, como não agüentava mais ouvir os colegas apontar o dedão no rosto e acusar: “e agora esquerda, vai defender o que”? E fui usando a técnica de uma tia, mudando de assunto até brochar com essas conversas. Daí retomo contato com quem não parou a militância, seja virtual ou pessoalmente. Admito: sou meio coxinha ursinhos carinhosos.
Uma vez recebi em casa uma parceira de trabalho da maior favela de São Paulo, por proteção mesmo e depois soube que quando ela dizia onde estava morando os vizinhos do Heliópolis consideravam que ela “tinha virado boy”. É dentro deste bairro, num condomínio de 48 prédios cheio de árvores, parque para criança e terceira idade, sou meio privilegiada. Ah, uma coxinha vegetariana meio fantástico mundo de Bob, vá!
Durante muito tempo fui viciada nesses cafés com canela, chantili, tanta coisa que meu pai acusava:
- Isso aí já é uma torta!
Mudando da comunicação pra educação vi que era uma esfregada desnecessária de dinheiro na parece: minha amiga que limpa aqui em casa traz uma misturinha idêntica aos melhores capuccinos da cidade. Semi coxinha gourmet,digamos... A paixão pelos naturebas preço único ou por prato também não colabora. Coxinha aspirante a vegana.
Domar cabelo poim oim oim: não vem dizer que quem tem cabelo liso sabe o que é “bad hair Day”, isso é coisa de quem dorme com o dito cujo lindamente enrolado e acorda meio Medusa, esticados, chapados ou tobogãs de nascença nem sabem do que se trata. Até assentamos com um hidratante e óleo de ponta simples, mas o ativador de cachos precisa ser contrabando de profissional, produto de salão, para nos sentirmos fazendo propaganda de produtos para cacheados. Coxinha peruete.
Adoro o forró e samba aqui da comunidade ao lado, mas fico sem graça de atravessar meia dúzia de ruas e ir lá dançar com eles, não sei, ia com o ex mano e dá uma rara timidez de chegar assim na cara larga. Coxinha me engana que sou tímida.
Amo roupinhas meio alternativas, estilo novos estilistas da feirinha do Center 3 de domingo na Paulista, praça Benedito Calixto e por aí vai. Nada muito acessível. A sorte é ganhar muito disso das tia e prima generosas, de bom gosto e consumistas. Coxinha estilosa.
Ah, mas tem uma militância no Movimento das Mulheres do Heliópolis, uma circulação pelas peças do Sesc, Centro Cultural e Sesi, filmes da sessão popular do Frei Caneca, inexplicável conexão ancestral com centros de umbanda e candomblé, sangria desatada por trilha, cachoeira em quebrada escondidinha na natureza, tara por brechós... Empate técnico!
Sei não, estou mais para bolinho de queijo heim? Combina até com essas espinhas retardatárias de pele oleosa...